Em 1989 o subscrito era estudante de Jornalismo na Universitas de Província dos Reis. Não era um bom estudante, creio – metade do curso passei perambulando pelos corredores, a outra metade trabalhando numa agência de publicidade. Nesse meio tempo andei fazendo um jornaleco, não lembro se por diletantismo ou por obrigação curricular: o “Eco”.
É esse Eco, que não saiu do número zero, prova inconteste do seu potencial arrebatador, que encontro, chafurdando as velhas gavetas que sobreviveram às muitas mudanças, inclusive as de endereço.
Não deve ficar pra história. O expediente acusa Rildeniro Medeiros, Newton Cruz e euzinho aqui, como os “diretores responsáveis”. O editor era Flávio Resende, que emprestou seu registro profissional e mesmo assim teve escrito o sobrenome errado. Entre os colaboradores, Isaac Ribeiro (que editava com Robson e Carlos Magno o “Cebola faz chorar”), Maxell Batista e Marcello B. – que penso ser o carioca Marcello Brum, famoso entre nós pela curiosa história do seu pai, militar que tinha montado guarda na cela de Caetano Veloso quando da sua prisão pela ditadura.
Este número zero tem, entre outros, ao menos um inteiro parágrafo assinado por mim que é de uma idiotice e pieguice absurdas – transcrevo aqui o final, por vergonha absoluta do restante: “A garotinha agradeceu o presente da forma mais espontânea possível: com lágrimas nos olhos, traduzindo a emoção de todo o público presente.”
Pano rápido.
O jornaleco tinha até publicidade: Aky Modas (Rua João Pessoa, 267), CCAA, Hipócrates Colégio e Curso, Fisk, Armarinho Brasil e um histórico Chernobyl, quase ilegível, sem indicação do que fosse, endereço ou telefone – provando que o bar era mesmo alternativo.
Na mesma pasta meio mofada encontro outros textos, que dariam para mais uns três ou quatro números: Um artigo de Marília Maia Marques (que assinava como “3M”) sobre o “Balearic Beat – Body Music (A música do final do século)”, onde já anunciava os primórdios das réivis: “Ibiza deixou de ser apenas um balneário para os turistas europeus passarem seus feriados e se tornou a meca dos disc-jóqueis londrinos que recortam, juntam e colam sons e ritmos produzindo a chamada electro dance music” – poderia ter sido escrito ontem apesar dos 18 anos passados. Um artigo de Juliano Freire comentando os problemas do transporte urbano em Natal. Um artigo de Isaac Ribeiro comentando os problemas dos telefones públicos em Natal (“Não é de espantar que voltemos a ter que usar artifícios como as cartas e recadeiros na província do sol”). Dois artigos de Flávio Rezende, um sobre rock soviético, outro sobre alimentação natural – onde implora a “D. Neide, Dr. Martins, Subhadro e a turma do sabor natural, SOS LANCHONETE NATURAL À NOITE, senão a maçã do pecado, com recheio de carne bovina, tentará os naturalistas esfomeados e perdidos na noite”. Vários artigos e crônicas de Alexandro Gurgel. Uma carta de Rogério Cruz, elogiando a iniciativa e a “ousadia” do Eco. Um longo texto sobre “Informática Potiguar” escrito a mão (!) por um “especialista”.
E, maravilha, uma logomarca criada pelo enfant terrible do disáini potiguar, Afonso Martins – pra matar de inveja o pessoal da Cebola, que contava com Falves Silva na diagramação e arte-final. Infelizmente a marca de Martins nunca foi publicada.
Mas todo esse nariz de cera é só pra avisar que descobri entre estes textos, possivelmente pedidos aos colaboradores, uma pérola que vem muito a calhar nos dias de hoje: um artigo sobre Mãe Luiza escrito à máquina pelo padre Sabino Gentil.
Quase duas décadas depois, continua vivo – o artigo e também o trabalho de Sabino.
Um comentário:
Caríssimo Mário, buscando no Google algo sobre Rildeniro e deparo-me com suas lembranças do Eco - que só ecoa agora!!! Um imenso abraço...
Rilder
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