sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Amy y los huaraches

Vi pela primeira vez Amy Winehouse. Quero dizer, assisti, for the first time, um vídeo seu. Me chamou atenção as pernas finas da moça, quero dizer, os gambitos da moça. Tão magra. Ainda mais metida numa sainha balão, o que deixava o par de gâmbias em pose explícita. Tinha um quê de Eros percorrendo aqueles ossinhos caminhantes, escalando os vinte metros esquálidos e se metendo no ar mais rarefeito que imagino ser o interior da saia-balão. Mais acima, os braços ondeavam, flanando um milhão de tatoos, pra lá, e pra cá – como na musiquinha infantil. Mais ainda pra cima – estamos já nas nuvens – uma boca indecisa em ser carnuda ou apenas bocão; olhos negros cruéis tentadores; cílios postiços que bailavam ao som de um jazz quase samba quase bluegrass quase cool quase guantanamera quase swingin’ london. Depois, uma cabeleira mais alta que um bolo de noiva, mais negra que uma cumulus nimbus escondida no quarto do casal.


Não a ouvi chorar o marido encarcerado, como nas notícias jornaleiras.


A câmera se deteve em seus dedos enrolando as pontas da cabeleira negra. Os fios tensionados. Se moveu um pouco para a esquerda, encontrou o volume macio de um seio, brincando de esconder no decote geométrico.


As batatas das pernas são dois musclinhos chochos. Tem uma energia enorme acumulada ali, potência nuclear. Amy Winehouse é o Papa-léguas em letargia alcoólica. Não vai dali praqui em cima do palco.


Não a vi chorar e desfazer a maquiagem, como nas fotos paparazzi.


Eu estava no café, em Spring Street. Ouvi quando perguntou ao moço:


– deseja alguma coisa?


Ele pediu café com creme. Não levantou os olhos, nem eu os meus. Eu estava lendo um livro de John Fante, eu tinha vinte e uma merreca de um ano incompleto no qual eu aprendia a beber e a fazer sexo com meninas virgens. Depois, eu soube do entrevero entre os dois: que ele não gostou do café – sabia a cinzas e trapos fervidos. Que a raiva o fez observar de longe a maciez firme dos ombros, o leve traço de músculo nos braços, a espessura dos cabelos negros e luzidios, o brilho dos dentes, o nariz maia, o batom vermelho, os olhos oblíquos, os seios firmes, o caminhar dançante.


Então ele notou, o que ninguém mais viu, os velhos do Café em Spring Street bebendo cerveja e passando o dia, o que eu também vi:


Os huaraches.


Alguns dias depois ele voltou. Ela escarneceu dele. Depois, pediu desculpas. Fizeram as pazes. Ela pediu que ele voltasse, à noite. Ele não resistiu, e disse, saboreando o frescor do prato frio:


– esses huaraches você tem de usá-los, Camilla? Tem de enfatizar o fato de que sempre foi e sempre será uma latina suja e sebenta?


No palco, Amy Winehouse lembrou a cena, os olhos soltos entre a platéia. E correu para o bar, gemendo:


– oh, oh, oh.

















Um comentário:

Capitão-Mor disse...

De qualquer forma a mulher tem uns olhos que entontecem qualquer um!!! :)