sexta-feira, 17 de abril de 2009

Memorial



A milhas e milhas de distância das escadarias do Memorial, teve um sonho.


O sonho, à beira-mar.


O mar, coalhado de ondas.


Silêncio.


O mar, aconchego pros corpos viandantes. Acalanto pros olhares marinhos, rascunho de catedrais e dragões.


Teve um sonho e no sonho despertou.


Como um peso leve, alguém subiu em seu leito e tocou-lhe as espáduas, como num toque de cura, examinou a pele do ombro, deslizou os dedos pela curva do colo até a nuca, afastou os cabelos puxando suas raízes e viu então a marca. E dela perguntou sem querer saber a resposta.


Tinha uma moça de coxas fortes e bronzeadas.


Tinha um cara mau, a cicatriz invisível no rosto mulato.


Tinha a criança calada e triste.


Tinha a cidade, quase dentro d’água, os prédios velhos e carcomidos.


A pergunta ficou sem resposta, como uma roupa na pedra do quarador.


A resposta se arrastou pelo soalho de tábuas e foi dar na poeira da estrada.


A turma toda lá. O Homem, a Mulher, a Criança, o Travestido, a Puta, a Louca.


E ela.


A que tocou as espáduas, a que despertou do sono.


E o olhar dela que não era pouco.


Infinito.



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