quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

2008 começa assim




Andei sumido destas paragens.

Propositadamente.

Sem forças, cansado.

Esta Cidade dos Reis é prazer, menina dos olhos, ninfa, sereia, musa, mito.

Não dava pra misturar alhos com trabalhos, bugalhos com lazer, amor e dor.

Uma puta não beija cliente na boca. Só seu amor, amorzinho.

Ligo um rádio na minha cabeça, no meu caixote, como diz minha filha aos seis anos, sem cansaço. Itamar canta, Estou doente do peito, doente do coração, a minha cama já virou leito, disseram que eu perdi a razão.

Acendo um cigarro, o estômago faz ssschhhhhh, como o sol de bruços n’água.

Sintonizo o pretobrás: Estou maluco da idéia, guiando o carro na contramão. Saí do palco fui pra platéia.

No porão. Um pedaço de mim ficou lá, emparedado como o gato de Poe.

Debaixo do assoalho, debaixo das tábuas do assoalho, como o coração prestes a denunciar o vazio, o som, a fúria.

Andei circulando pelo Hospital. O Reino. Confundo os títulos de Duras, O homem sentado no corredor, A doença da morte.

Não é uma coisa nem outra. Me enfastio dessa intelectualidade, dessa poesia, desse romantismo sabor limão e frutas do bosque.

Não existe corredor sombrio, fantasmas despregando-se como papel nas paredes. Existe luz e fluorescência, débito mensal à companhia de força e luz.

Não existe doença que leve à morte. Ela esteve sempre ali, ao nosso lado, brincando entorno de nós, fitas e laços coloridos nas mãos, os braços batendo asas de borboleta.

Não sou eu naquele leito de hospital.

Sou eu.

Um comentário:

Mme. S. disse...

Apesar de, é bom lê-lo de volta.