domingo, 17 de fevereiro de 2008

Interlúdio


[Ulysse's Gaze, 1995]


Explicação desnecessária: meu pai morreu na quarta-feira de cinzas.

Não encontro outro modo para dizer o que não gostaria de dizer, ou o que nunca gostaria de dizer, embora impossível de nunca ser dito. Claro.

Escrevi as duas última cronaxias, na terça, e na quarta.

Não publiquei.

Me sinto em dívida comigo mesmo ou com os meus leitores? – Sim, eles existem, embora alguns façam questão de fingir que não me lêem. E eu, tô reclamando o quê, se às vezes finjo que eles não existem?

Enfim. Talvez seja eu mesmo, cobrando a mim mesmo uma crônica bonita sobre o meu pai. “Que é que cê quer?” – pergunto a mim mesmo. “Já escrevi, neste mesmo blog, e quando ele era vivo”. Não respondo. Não respondo a mim mesmo. Prefiro ignorar gente revoltada. Ih! Energia ruim, pédepatomangalô3x. Próxima vez que cruzar com esse cara, desvio da calçada, atravesso a rua, enviesado, nem olho pra trás – ou olho, com aquele ar espantado dos caretas diante dos loucos-varridos.

Eu, ou ele, sei lá eu – ou ele. Enfim, assumamos: eu, sem nada pra fazer neste sábado noite, night fever night fever, cantem comigo, já entrei e saí de uma infinidade de sítios, blóguis, portais. Tédio só. Ou Tóddyo – como dizia João Batista de Morais Neto, o Juan de la calle. De notícias nos sítios, blóguis, portais – o João da Rua entrou aí atrapalhando o tráfico – vi uma. Meia: Tropa de elite ganhou Berlim. Urso de ouro.

Ufa.

(Não, não é ufa de até quem enfim. Nem de ufanismo. É: que merda.)

Então: que merda.

Tropa de elite é um dos piores filmes que vi nos últimos anos.

A turma de Berlim deve estar numas de pior.

Conselho bom pros moços e moças e membros da giuria: vão ouvir Low. Ou Berlin.

Quanto mais, prefiro Theo Angelopoulos a Costa-Gravas. Agora, ainda mais.

Tropa de elite – bah!

Filminho pra passar na Globo, depois do Jornal da Noite, depois do Jô, depois do Sérgio Grossman. Na hora do Caldeirão do Hulk. Na hora do Xou da Xuxa. Ou do Show da Sasha. Só falta o diretor aparecer no Faustão. Vai ser a glória.

Neste momento eu deveria desovar uma crítica inteligentemente bem escrita, articulada, explicando meus porquês do filme ser uma merda.

Faz de conta que eu escrevi, que vocês leram, e entenderam, uma parte ficou contra, outra a favor. Então, a turma do contra pr’esse lado, a outra pro lado de lá. Vocês podem fazer um cabo-de-guerra. ou jogar Vai-Vem.






Manhã de sol com tódio.

[João da Rua. Temporada de ingênios. Natal: Nossa Editora/Timbredições. 1ª edição em junho de 1986. João Batista de Morais Neto. Temporada de ingênios e outros. Natal: Sebo Vermelho. 2ª edição, 2006.]

2 comentários:

Alex de Souza disse...

bueno, agora que você falou, vou sair do armário. também achei uma boa bosta esse filme. mas, também, não ando morrendo de amores por costa-gavras. ele fez "o quarto poder", que deixei para ver a meia hora final seis meses depois que abandonei a projeção no natal xópim. e, pra completar, era o presidente do júri que deu o prêmio à "tropa de elite".

Moacy Cirne disse...

Oi, cara, simplesmente não me interessei por "Tropa de elite". O cinema de Costa-Gavras também não me diz muita coisa. Pode ser que eu tenha visto alguma coisa interessante dele; não me lembro. Talvez "O desaparecido"... De resto, o seu texto pareceu-me curioso, pelo menos em relação a figuras (ocultas?). Quanto ao seu pai, mesmo sem conhecê-lo, reproduzi o poema de Carito (em homenagem) no Balaio. Não faz muito tempo, perdi o meu. Sei como são essas coisas. Um abraço.