Daqui pra pouco o ano Zero-Sete da contagem cristã chegará aos seus estertores. Envelhecido, envilecido, destronado, cederá lugar, tempo e espaço ao novo rebento, o bebezinho rechonchudo, rosado e bonitinho – como todo bebê – que promete ser Zero-Oito, mesmo que ainda no útero do Universo Prenhe – de boas intenções como todo Inferno Que se Preza.
Retrospectivas, listas, listras, revivals, memórias – tudo se recauchuta a fim de celebrar, mais que o ano velho, o novo principezinho, futuro rei nu, futuro rei, rainha, príncipe, princesa, mortos e postos.
Quanto a mim, 2007 restará como o ano em que perdemos Oswaldo Lamartine de Faria. Na noite do 28 de março, Oswaldo saiu da vida sem entrar para a História – que estas coisas, com agá maiúsculo, não temos por aqui, bandas e ribeiras do Ryo pretensamente Grande (e de uma pequenez enorme e abnorme e inversamente proporcional à grandeza das obras escritas por meia dúzia de gatos pingados, OLF entre eles.)
É de Giovanni Sérgio as fotos que enriquecem estas linhas, tiradas na Fazenda Acauã – o pássaro de canto melancólico, verbete de Cascudo no Dicionário do folclore brasileiro, anunciando a visita de hóspedes: “É uma ave austera, cheia de gravidade e senso, que faz gosto vê-la. Andando devagar e compassadamente, como compete a um ente que tem direito ao culto dos homens, dá vontade de cumprimentá-la como a um desembargador”.
É de Oswaldo a resposta à Carlos Newton Júnior em Em alpendres d’Acauã, sobre a Natal de ontem e de hoje:
“A gente não renegava o chão. Morava-se melhor –
em casas com quintais. E menino que teve infância em quintais, com mangueiras e
cachorros, dispensa divã de analista. Vocês podem dizer que em apartamento
também pode se criar cachorro, e eu acrescento: só dois bichos, incluindo o
homem, podem ser criados em apartamento sem ficar neuróticos – barata e peixe de
aquário.
Não esqueçam. Vocês que se deixaram seduzir por essa arquitetura de
maribondo – uns sobre os outros. Vocês aí do último andar. Vocês que fizeram do
Potengi, onde se pescava tainha, essa cloaca fétida e nojenta. Vocês que
cortaram mangueiras para construir essas chocadeiras climatizadas. Vocês que
emporcalharam os horizontes da capital nordestina de mais bela topografia.
Lembrem-se do velho Braga em Ai de ti, Copacabana – pois em verdade é tarde para
a prece...”
Em verdade, em verdade, é preciso não esquecer: Oswaldo morreu no alto de um flat, casa de maribondo, chocadeira climatizada. Da varanda, rede armada, última réstia do Seridó, assistia o sol se pôr por sobre a cloaca fétida e nojenta.
Sobre ele escrevi os dois textos que republico logo abaixo, coincidentemente escritos na distância de um ano – março de 2006, março de 2007 –, desejando à turma do último andar um 2008 terrível.
Ruim mesmo.