Querem saber?
Pouco se me dá o nome da ponte sobre o putigy. Cruzei-a duas vezes num espaço temporal de menos de 24 horas e não senti nenhum arrepio da espinha, nenhuma palpitação na caixa torácica, nenhuma vertigem feito a síndrome que Stendhal ajudou a batizar séculos atrás.
Achei-a muito chinfrim.
É uma gangorra sobre a fauce do rio, piscando um olho pro Atlântico e outro pra cidadezinha pronta a explodir.
Dum lado e doutro, a ponte começa e finda mal, em curvas desnecessárias – aliás, não é a desserventia que incomoda: também o velho Oscar, que inteirou um século sábado passado, adorava curvas, que o faziam recordar aquelas duma dona. Ou de muitas donas. As curvas da ponte tampouco são como as da estrada de Santos, onde tentávamos esquecer, um amor que tínhamos, espiando pelo retrovisor na distância se perder etc.
As curvas nas cabeceiras da ponte, rive gauche, rive droit, são o culto à imbecilidade humana e ao seu apogeu bólido sobre quatro rodas e quatro patas. Servem só pra atravancar, atrapalhar o tráfego, o público e o sábado – como aquele operário do Buarque d’Holanda.
É cômodo. Reconheço. Atravessá-la e cruzar o ryo grande num tempo inimaginável há alguns anos. Feito uma trepada rápida, jaculatória precoz: mal subimos, já estamos descendo.
Ah , sim, certo, tem a paisagem!
Visível só ao custo da contravenção: parar o carro mais da metade na pista, pois sem acostamento.
Ah, sim, certo, dá pra ir de pés!
Ainda assim, atrapalhando o tráfego de pedestres e ciclistas.
Não dava pra fazer um puxadinho por mirante? Um lugar pra descansar os pés, a magrela, sentar e curtir a paisagem que deus nos fez bonita por natureza?
Pruma obra pretensamente voltada pro futuro (sic) a ponte já nasceu defasada.
Coisas de Cidade dos Reis.
E como nem nome direito tem, vou chamá-la Ponte Walflan de Queiroz, e sugiro que vosmicês façam o mesmo: batizem-na com o nome da namorada, do marido, do cachorrinho da infância, do poeta preferido. Eu, já me decidi: em 2008, minha ponte vai se chamar Walflan de Queiroz – que amava Irene Porcel, Tereza, Annabel Lee, Francesca de Rímini, Denise, Tânia, Herna, Dinara. E Hart Crane – Walk high on the bridge of Estador, /No one has ever walked there before. //[…] How can you tell where beauty’s to be found? /I have heard hands praised for what they made; /I have heard hands praised for line on line; //[…] I do not know what you’ll see, – your vision /May slumber yet in the moon, awaiting /Far consummations of the tides to throw /Clean on the shore some wreck of dreams…
2 comentários:
Comecei escrevendo um comentário pra cá... mas fui pra lá, praculá... e findou que seu post na ponte abriu outras pontes e outro post... o blog poelétrico agradece essa ponte de inspiração...
Que tal Ponte Zé Areia? Pensando bem, Zé Areia, Newton Navarro e o próprio Walflan de Querioz são maiores do que a dita cuja. AH, SIM: GOSTEI um bocado de seu texto. Abraços.
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