Trânsito
A moça usava um vestidinho vaporoso, de vapor barato, o vento moldando as pernas compridas, os saltos cruzando os joelhos no alto dos mosaicos da calçada em chamas, as mãos remexendo os cabelos que balançavam o vento e espalhavam brasas ao longo da avenida, ali, raspando o meio-fio, os paralelepípedos cortantes do meio-fio, fim de tarde.
Não sei como, imaginei que ela tinha acabado de sair do cabeleireiro, perfumada, lavada, cheirosa como só as mulheres de vestidinhos vaporosos são capazes e possíveis de sair do cabeleireiro.
Não sei por quê.
Só sei que eu virei a cabeça.
A moça usava um vestidinho vaporoso, de vapor barato, o vento moldando as pernas compridas, os saltos cruzando os joelhos no alto dos mosaicos da calçada em chamas, as mãos remexendo os cabelos que balançavam o vento e espalhavam brasas ao longo da avenida, ali, raspando o meio-fio, os paralelepípedos cortantes do meio-fio, fim de tarde.
Não sei como, imaginei que ela tinha acabado de sair do cabeleireiro, perfumada, lavada, cheirosa como só as mulheres de vestidinhos vaporosos são capazes e possíveis de sair do cabeleireiro.
Não sei por quê.
Só sei que eu virei a cabeça.
Futebol
Devo se o único selvagem da Terra dos Papagaios que não está vendo (viu, quando você ler esta nota) o jogo do Brasil, aka Seleção Brasileira. Nem sei o placar. Se amanhã der de cara nalgum sítio náutico, tudo bem. 11 homens e uma bola – do lado de cá. Mais 11 e a mesma bola – do lado de lá. Um punhado no banco – lá e cá. Massagista, preparador físico, técnico. Juízes e bandeirinhas. E a torcida. Leve um homem e um boi ao matadouro, já ensinava Torquato. Junte homens e bois num só rebanho, aí já viu: a merda é grande. É tudo que eu sei do football. Além do fato que Nelson Rodrigues – ou seria Otto Lara Resende? – o chamava ludopédio.
Amor
“– Por que, meu Deus, eu me casei?”
A frase – talvez a mais repetida depois do clássico euteamo – poderia ter saído da boca de Paul McCartney. A resposta, dizem os comunicólogos, vai custar os olhos da cara: 51 milhões de dólares.
É a mesma frase presente na página 52 de Madame Bovary, edição comemorativa dos 150 anos, editora Nova Alexandria, 07.
Nunca é demais lembrar o subtítulo: costumes de província.
Samba
A televisão me deixou menos burro: ontem, no TELECINE cult, descubro que Che Guevara e Omar Sharif eram a mesma pessoa. Filminho besta com pinta de documentário fake. Não tenho paciência de ver o final, o mocinho morre etc. Saiu da vida pra entrar na história – não, esse era o Getúlio Dornelles. Me vem em mente uma confusão dos diabos: El Che, El Kharish, o Capitão Nascimento, Luciano Huck, a revista Veja, a Rolling Stone, Faustão, a Fidelidade Partidária, Renan, Mônica, La Galisteu, O Jovem Faria, Paul, Heather, o Ponte Preta...
Sei que existe um elo unindo todos eles.
Eu sei.
Só não me lembro.
Tropel
Aliás, procurem no Google as figurinhas fáceis:
Capitão Nascimento: 800 mil resultados em 0,09 segundos.
Luciano Huck: 481 mil em 0,07.
Renan Mônica: 832 mil, 0,15.
Galisteu Faria: 19.100, 0,16.
Do jeito que a coisa vai, perigas ver: na próxima capa da Playboy, em vez do sólito IBOPE, o marmanjo do BOPE. Ôps: é campeão – um milhão seiscentos e vinte mil resultados em zero vírgula zero oito segundos!
Mas, como o Brasil é bem menor que o mundo – ao contrário do que pensam muitos silvícolas – o casal, ex-casal, Paul, Heather, sai na frente: 4 milhões 670 mil em 0,12 segundos.
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