Edu Gomez, Festival DuSol, anos 00
“19 de setembro: Aconteceu uma tragédia: Jimi Hendrix morreu aqui em Londres na madrugada de ontem pra hoje. O Evening Standard diz que a causa da morte foi inalação de vômito depois de uma intoxicação de barbitúricos. Jimi morreu no apartamento de uma moça chamada Monika Danneman. Fez um domingo muito frio hoje, o dia inteiro. Agora, então, que é meia-noite passada, está um gelo. Acabamos de chegar do centro. Fomos assistir Rod Stewart no Lyceum e depois ficamos zanzando em Picadilly. No show de Rod teve um minuto de silêncio em homenagem ao Jimi. Rod cantou com muito feeling e fez o público se levantar, bater palmas e dançar, durante “It’s all over now”, encerrando o show. O público pediu bis e Rod voltou para mais um número. Chorei muito e por muitas razões.”
É o Diário íntimo de Antonio Bivar.
E o Capítulo 7 de Verdes vales do fim do mundo (Porto Alegre: L&PM, 1984).
Apesar de ser o retrato in loco de uma outra época (1970-71), o livro de Bivar é também o retrato – ou um dos muitos portraits – de uma década depois: os fantásticos anos 80.
A começar do próprio livrinho, formato quase de bolso, alongado, um dos volumes da Coleção Olho da Rua, da editora gaúcha, que tinha também, entre outras, a Coleção Alma Beat, com Ginsberg, Burroughs, Ferlinghetti e Kerouac.
Nomes também presentes numa outra editora, o supra-sumo e resumo editorial dos 80, a Brasiliense.
Aliás, Bivar vinha de O que é Punk (Coleção Primeiros Passos) e da tradução de On the Road (Coleção Circo de Letras), pela Brasilense, em parceria com Peninha, aka Eduardo Bueno.
Provavelmente foi o sucesso dessa tradução, e do tema da vida na estrada, que o fez desempoeirar o texto, escrito ainda no início da década de 70.
Eu lembro quando, provavelmente não encontrando o livro em Natal, pedi aos meus pais duas encomendas básicas pra quando voltassem do Sul Maravilha, idos de 84: o On the road, e Zen e a arte de manutenção de motocicletas. Nunca mais o cheiro de um livro novo teria o cheiro de livro novo que aqueles dois exalaram durante os dias em que foram, literalmente, devorados.
Na primeira página ainda está escrito, a lápis: “5,500”... E quem se lembra qual a moeda d’antão? Já no de Bivar, datei: “220285”. A velhice, jovens escribas, é um troço inevitável. E inescondível.
Noves fora a importância inegável do livro de Kerouac, acho este Verdes vales muito mais significativo para o leitor brasileiro, seja para quem era jovem e imberbe e faminto de sexo, drogas, roquenrrol e estrada, nos anos 80, seja para quem é jovem e imberbe e faminto de sexo, drogas, roquenrrol e estrada, nos anos 00.
Afinal, é a aventura de todos nós, sonhos que não envelhecem, pegar aquele velho navio ou avião ou ônibus ou moto ou simplesmente o pé no pó da estrada, sem precisar de muito dinheiro, graças a deus.
Um comentário:
estou me repetindo, mas digo de novo: é sempre muito bom ler você (aliás, acho que escrever bem é mal de família...).
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