[Gian Lorenzo Bernini, Ratto di Proserpina, Galleria Borghese, Roma]
Agora que foi embora sabe que as paisagens não mudam senão com o vento. Sem indicação de tempestade – os pássaros indiferentes, saltitantes, o bico colhendo insetos invisíveis, uma folha caindo solitária – resta pouco a fazer, olhar o mato crescendo afugentando horizontes, ouvir o canto da cigarra em qualquer tronco de árvore decomposto, deixar-se cegar por um sol tão quente que derreteu as nuvens. Quem é ela? Pensa. A que foi embora. Conclui. Vira de lado, abraça o ventre, as pálpebras não pesam, mas as deixa cair. E, caindo, retornam as sombras. Tempo haverá. Outro pensamento. Fazer agora como o personagem de Proust. “Durante muito tempo, deitava-me cedo.” Ou “Durante muito tempo, costumava deitar-me cedo.” Duas traduções diferentes para a mesma frase. “Longtemps, jé me suis couché de bonne heure.” A segunda tradução é de Mario Quintana, que morreu em um albergo. Pobre. Que tem a ver? Nada. Nada tem a ver agora que ela foi embora. Um arremedo da frase também sai da boca do mafioso Robert de Niro, comedor de ópio dos bons em C’era una volta in America – Que tem feito todos estes anos?, pergunta o gordinho, o que não tinha entrado pro crime pra valer. – Tenho dormido cedo, responde De Niro, os olhos ausentes dela.
Um comentário:
anjo de bons mimos, pelo que vi na casa de cultura Mario Quintana no hotel majestic(em viagem a porto alegre),o seu último endereço foi no porto alegre residence hotel.não lembro de ter visto nada sobre "albergo" (albergue?.
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