sábado, 25 de abril de 2009

Manhã [extrato, fragmento, esboço]


Como ninguém bate à porta, cerrada a porta fica. São cinco passos entre a sala e o quarto de dormir, são cinco passos entre o sofá e a cama de sonhar. Um corredor vazio e tomado por inútil, nu, sem excessos. Uma sala amontoada. Um quarto desfeito. Dois banheiros sujos. Três banheiros sujos. Uma torneira que previsivelmente pinga.

E na cozinha.

E como ninguém bate à porta, é de uma ponta à outra o caminho, edificado com o rastro, sinal de fumaça do cigarro previsível. Entre dedos e dentes, outra vereda, outra geometria, a maior distância entre um ponto e outro, entre um ponto e milhares de outros pontos. E como ninguém bate à porta tudo é previsível nesta manhã sem sonhos. Como previsível foi o erro no relatório do serviço de meteorologia, emitido num alarido vesperal: promessa de chuvas intensas. Promessa de céu tonitruante. Fim do mundo. Mundo sem amantes, fechados em seus lares, cada um, cada qual, aterrorizados com as águas do céu, as cinzas do mar, e os três líquidos corporais – a saber e na classificação científica, sangue, suor, lágrimas. Chumbo líquido o céu. Nuvens gordas, grávidas de trovões, prenhes de aguaceiros, altar, ofertório e oferenda aos bueiros abertos.

E nada disso aconteceu.

Brilha o sol. Brilha o sol intensamente. Brilha o sol intensamente com um clarão de machucar olhos. Brilha o sol intensamente com um clarão de machucar olhos e derrubar santos do selim acolchoado de um alazão.

O cavalo pasta na sala. Rumina. Enquanto rumina, pensa. Os cavalos não descem escadas. A porta cerrada. A louça por lavar. O corredor tomado por inútil acoberta estrelas. Se soltarem as moças, ferirão seus pezinhos nus. Se soltarem as moças, será um revoar de vestidos transparentes. O cavalo mastiga. Monturo de livros. Se houve um fim do mundo foi aqui que começou. É aqui a nascente.

E muito mais além seu estuário.

Como ninguém bate à porta, cerrada a porta fica, e os passos gastam-se no soalho de cerâmica barata, vai-e-vem constante. Nuvens de fumo. O primeiro dos líquidos corporais são as lágrimas. O primeiro a secar quando o céu despe-se de nuvens e expõe seu azul indecente.

Na sala, o cavalo ruminante. O santo ao chão. Barriga pra cima, elmo virado. Os braços abraçando o céu, por enquanto, de gesso.

Esse moço, esse moço senhor dos cinco passos, esse moço chama-se Theo. Oferenda, presente de Deus. Esse moço é um moço inquieto. Fuma desbragadamente. Esse moço fuma como se flertasse com a morte. Não. Esse moço fuma como se fodesse com a morte.

Esse moço que vê cavalos ruminando em sua sala. Entre os monturos de livros. Esse moço que pressiona a planta do pé contra o peito armado do cavaleiro. Esse moço que corre até a cozinha em busca de fósforos.

Esse moço, Theo, tem um emprego. Esse moço, Theo, tem uma namorada. Esse moço, Theo, tem um emprego, uma namorada, mas não tem um cão. Tem muitos paus pra dar no gato, então. Mas nenhum cão.

Invés, um cavalo na sala. Pastando entre os livros.

Theo ama Theresa. O nome da namorada. Uma namorada não é como um cão, a quem se deve, duas vezes ao dia, passear com a coleira, descê-lo pelo elevador, fazendo-se surdo aos lamentos da senhora do 102. Do elevador para a porta da rua são dezesseis passos, incluindo alguns degraus. Na rua são milhares de passos, cada qual com seu cheiro único, inconfundível. O cão os conhece a todos, não de cor, nem salteado. O cão é um animal doméstico com a visão em preto e branco. E um olfato colorido.

O não cão de Theo é assim. Quase uma namorada. Se enrodilha aos seus pés quando chove e o serviço de meteorologia se enganou novamente prometendo pancadas de sol. O focinho é frio. O focinho de todos os cães do mundo é frio, mas o não cão de Theo é uma geleira glacial. Quando Theresa, a namorada, debruça-se sobre o cãozinho, enxerga estalactites e estalagmites de gelo no nariz do cão.

Theresa é alérgica a cães, mas suporta o cavaleiro santo em decúbito dorsal no chão da sala. E, vez por outra, nos feriados ela mesma encilha o cavalo e dá saltos nos obstáculos do salão.

E se põe a ler Cervantes no original.

O não cão de Theo tem pavor à namorada de Theo. Se esconde cada vez que ela entra no apartamento, um passo através da soleira e já dentro da sala, onde o cavaleiro santo jaz adormecido, o cavalo a pastar. Conhece Cervantes pela lombada, verde-musgo, que ele enxerga como um cinza 33. Os cães têm uma classificação numérica de matizes entre o branco e o preto profundo. Alguns adjetivam as cores: verde-babá, azul-quimera, branco-limão, fúcsia-histérica, vermelho-radical, preto-luto. O cão do 302 do prédio em frente exibe uma classificação semelhante. O não cão de Theo acha o cão do 302 um tipo pedante. Sentiu, assim que lhe cheirou o rabo.

Isso é comum entre os cães, o que faz Theresa considerar abominável manter cães no convívio do lar, não importa quantos passos sejam necessários entre a porta de ingresso e a janela menor da suíte de casal, começo e fim da morada humana.

Como ninguém bate à porta, cerrada a porta fica. São cinco passos entre a sala e o quarto de dormir, são cinco passos entre o sofá e a cama de sonhar. E nessa manhã radiante, Theresa não veio. E por que não veio, Theo está inquieto, fuma, e, enquanto fuma, constrói catedrais no corredor de cinco passos, alheio ao cão e ao santo cavaleiro debatendo-se no assoalho do salão. Já deu de comer ao cavalo, já buscou os fósforos na cozinha, já observou atentamente como a gota d’água da torneira da pia foi crescendo e desmoronou como uma nuvem que implodisse em louvor aos bueiros do mundo. Já acendeu a TV com os fósforos banhados e teve que empurrar as ancas gordas do eqüino para assistir as mentiras da moça do tempo.

Para ver os olhos verdes da moça do tempo. Verde-enguia, diria o cão do 302. Amanhã, sol e nuvens sem guia, prometeu ela, rodopiando sobre saltos altos. E a orquestra tangeu alaúdes e címbalos. E, não disse nada, Theo.

E, nada disse, não, Theo.

Ah, esse moço, esse moço, digo eu, ah, se soubesse o que eu sei. Que Theresa tem um amante, por exemplo. Que poderia ser sobrinho da velha do 101, mas seria uma alternativa muito fácil e mentirosa. Que a moça do tempo é a inquilina do 302 e patroa do cão empoado, mas também seria uma alternativa fácil e muito mais mentirosa. Embora seja verdade que, neste momento, o cavalo pousa suas quatro patas sobre quatro volumes e autores: Lolita, de Nabokov; Otelo, o mouro de Veneza, de Shakespeare; Amor insensato, de Tanizaki; Dom Casmurro, de De Assis.

Mas tudo que Theo vê é a paisagem tomar a janela e invadir o apartamento, sem dar um passo sequer, apenas explodindo em seu interior como uma gota que não suporta mais o peso da gravidade e cai.

Sem cor, sem sabor, sem cheiro.

...

domingo, 19 de abril de 2009

cotton club [eyewear two]


Então, Alice.



Aqui
estamos nós, por um segundo eterno, frente a frente como – eu diria quase como – no duelo do Ok Curral.



Chaparral.



Chapado eu, chapada você, em nuvens de alcahol – sem arco-íris.



Então, Alice, onde estão teus óculos doidos de um dia? Onde estão as peles brancas que cobriam teus braços, teu colo, tuas bochechas onde nunca cravei nem línguas nem pastei dentes?



Ok, Alice, quem saca primeiro? Eu? Você? Os dois?



Nesse segundo que já dura um século terminaremos por nos adormecer neste acalanto de fábula.



Teu óculo doido, meu chapéu de coelho, nossos embornais fatiados de carne de caça – perdizes, lebres, aves-do-paraíso.



Como num filme nossos olhares se encontram, caminham, serpenteando, à velocidade da luz. Zuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuum, plash!



A arcada, as cores sóbrias da arcada, o muezim encantado deitado entre as serpentes, chá marroquino servido em taças de barro. Odor de tabaco no ar. Há sempre odor de tabaco no ar quando o assunto é sexo, e é disso que estamos tratando nestes encontros fortuitos em público, e o público – se sabe, Alice, daqui até Fez – está sempre sedento de esperma e sangue: qualquer líquido corporal. Alice? Me ouve? Quem canta é você e eu nem sabia que as cordas vocais vibravam em teu colo quente. Alice Blues. Alice Jazz. Alice Bossa Nova.



Alice, sem óculos.



Sem olhos verdes em Gaza. Alice: as balas ecoam sobre nossas cabeças. Teu cabelinho tão arrumado, penteado de lado. Tua bolsa a tiracolo de couro cru e fatias douradas, teu colar de pérolas de Mallorca.



O segundo continua reverberando por sobre nossos olhares – Zuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuum, plash! Desta vez o anzol não abocanhou tão forte, não sangrou nossas gengivas, não nos fez arfar, decúbito dorsal sob o calor úmido da plantation, os negros entoando hinos, a pele branca clamando jeans, meu sexo endurecido.



Alice Jajouka.



E o público nem se deu conta de nossos olhares boca-a-boca.



E o público nem.



Se você parasse um minutinho – não este segundinho infame – eu te contaria de como as águas passaram sob a ponte nestas tardes de verão e peixes saltando espumas. Eu te contaria quantos amores fisgaram o músculo cardíaco e as cordoalhas tendíneas, sapecando estrelas de cinco e quatro pontas nas faixas abertas do tecido.



Espera, enquanto eu troco as cordas do contrabaixo, espera, enquanto eu copio uma partitura de Varèse, espera, enquanto arrumo a sala – cadeiras prum lado, cadeiras pro outro, duas arcadas que não se encontram e parecem bifurcar-se na extremidade onde a gaiola dourada exibe as plumagens autênticas do animal.



Assoalho de tábuas.



Alice. O Bastardo Arrogante é o primeiro alvo, nossa primeira caça. Não como o marajá de A volta ao mundo em 80 dias, não como o Egeu de Berenice, não como o louco de O coração denunciador. O jovem cavalheiro, cabelo emplastrado, cupê reluzente azul em chamas, abotoadoras de ouro na camisa sem mangas, botão abotoado até o último, pomo de Adão tremelicante. Alice, que sujeito! Construiu Taj Mahal para prisão d’oiro de sua princesa – a que eu quis um dia raptar.



Nem cova. Nem soalho.



Esta é a sua bala. De prata, como para os lobisomens.



Depois. O Janota Juvenil. Todo seu caráter concentra-se no verniz que cobre seus sapatos. Toda sua glória na força com que aperta mãos estendidas, toda sua vontade de galgar escadarias de mármore na placidez com que beija anel episcopal. O perfeito homem de preto, o macaco amarrado à corrente a sua cópia escarrada, a mulher de ventre flácido exposto aos holofotes do mundo sua medida das coisas e das engrenagens das coisas.



Esta é a cruz de ouro. A extremidade inferior um punhal camuflado, como para vampiros.



De como se planejam assassinatos faz-se nosso segundo eterno.



De como se esquartejam sonhos, a história é outra. Sangra-se o bicho pela goela, as mãos bem apertadas esquadrinhando as veias. É preciso evitar que se encham novamente, é preciso escoar o sangue no prumo da tigela de ágata, gotejá-lo até o fim. Espesso, quase duro e pegajoso.



De como fiquei louco e impotente, é o mote do processo em que estaremos dentro em pouco, apenas nos livremos desse novelo de segundo eterno.



Tantas vezes estive à beira do abismo, às vezes o automóvel parado, às vezes em desabalada carreira, a moça ao lado com um vestidinho curto de algodão, as perninhas magras, o peito arfante num sobe e desce soluçante.



Nós, que nunca nos apresentamos.



– Alice.



– Muito prazer.



Estendida a mão, toquei teus dedos. Dedos contra dedos são uma combinação geométrica, cálculo exponencial, fórmula fechada.



Nós dois, parados, um cordão invisível nos agarrando pelos olhos, vibrando no ar e ninguém se dando conta, flanando pra lá e pra cá, copos nas mãos, mãos nos bolsos, vertigem das horas crepusculares. Zunzum. Um vibrato contínuo. A banda completa, você no centro. Um cento de laranjas da Sicília. Laranjas vermelhas da Sicília. Sempre – naqueles dias nas ruínas da velha Modica – imaginei beber sangue, enquanto a jovem aristocracia local se entediava com seringas.


Aqui se repete a história, fluxo e refluxo, farsa dos grandes momentos, primeira noite de um homem.



Aqui. Você. Eu. De frente pro outro. A multidão alvoroçada de permeio. Nuvens de álcool. A moça partiu, foda-se a moça. Quanta falta de imaginação, quanta carência camuflada em sorrisos vazios. Espero que nunca mais me traga livros, a moça. Espero que nunca mais me telefone, na madrugada, escondida entre os automóbiles do subterrâneo.



E na verdade espero.






[barcelona, de mies van der rohe]

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Memorial



A milhas e milhas de distância das escadarias do Memorial, teve um sonho.


O sonho, à beira-mar.


O mar, coalhado de ondas.


Silêncio.


O mar, aconchego pros corpos viandantes. Acalanto pros olhares marinhos, rascunho de catedrais e dragões.


Teve um sonho e no sonho despertou.


Como um peso leve, alguém subiu em seu leito e tocou-lhe as espáduas, como num toque de cura, examinou a pele do ombro, deslizou os dedos pela curva do colo até a nuca, afastou os cabelos puxando suas raízes e viu então a marca. E dela perguntou sem querer saber a resposta.


Tinha uma moça de coxas fortes e bronzeadas.


Tinha um cara mau, a cicatriz invisível no rosto mulato.


Tinha a criança calada e triste.


Tinha a cidade, quase dentro d’água, os prédios velhos e carcomidos.


A pergunta ficou sem resposta, como uma roupa na pedra do quarador.


A resposta se arrastou pelo soalho de tábuas e foi dar na poeira da estrada.


A turma toda lá. O Homem, a Mulher, a Criança, o Travestido, a Puta, a Louca.


E ela.


A que tocou as espáduas, a que despertou do sono.


E o olhar dela que não era pouco.


Infinito.



2 elegias


VIAGEM INFINITA

para quem com seu incêndio te ilumina,
cósmico caracol de azul sonoro,
branco que vibra um címbalo de ouro,
último trecho da lâmina fina,

a mão que te busca na penumbra
se detém na tépida encruzilhada
onde musgo e coral guardam a entrada
e um rio de pirilampos te alumbra,

sim, portulano, da esmeralda o fulgor,
sirte e fanal numa mesma bandeja
quando a boca navegante beija
a poça mais profunda do teu dorso,

suave canibalismo que devora
sua presa que o dança no abismo ermo,
oh, labirinto exato de si mesmo
onde o pavor das delícias mora

água para a sede de quem te viaja
enquanto a luz que junto ao leito vela
desce às tuas coxas sua úmida gazela
e por fim a trêmula flor escacha


[Julio Cortázar, VIAGEM INFINITA in Último round, tomo I, tradução Paulina Wacht, Ari Roitman, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008]


– Valérie, não me aporrinhe. As mulheres só chupam por amor ou por dinheiro. E você, comigo, nem uma coisa nem outra.
– Não lhe passou pela cabeça que eu possa gostar de você?
– Não diga bobagens, Valérie. Todos sabemos como são essas coisas.


[Martín Caparrós, Valfierno, tradução Josely Vianna Baptista, São Paulo: Companhia das Letras, 2008]


terça-feira, 14 de abril de 2009

páscoa





O coelhinho da páscoa quis dar o cu. É meu, falou, posso dar a quem queira e a quem queira dar.



A coelhinha da páscoa achou muito estranho. Seu coelhinho era o fodão da fuloresta. Gostava de comer, chupar, bater e enfiar as patinhas no rabo de todas as coelhinhas da zona.


Com ele, a coelhinha gozava loucamente. Abria a rachadura bem aberta, e o coelhinho enfiava um, dois dedos, e logo depois o pau.


O pau do coelhinho da páscoa tinha gosto de chocolate. Muito provavelmente pela proximidade dos ovos.


Na semana santa, de dentro dos ovos saltavam brinquedinhos – um uniforme de enfermeira, outro de colegial, um escapulário, um vibrador de duas pontas.


A coelhinha da páscoa tinha uma amiguinha.


Quando o coelhinho da páscoa estava muito entretido com as outras coelhinhas da fuloresta, ela se deitava na relva verde-esmeralda ao lado da amiga-coelha. Elas ficavam com as patas bem abertas, escancarando as bocetas para os raios do sol.


Quanto mais quente, mais úmidas ficavam as fendas. Então, elas se enrodilhavam, e uma chupava a racha rósea da outra.


Vez em quando elas disfarçavam e chupavam, como sem querer, o cu da outra.


Depois, bebiam gim. Cada uma sonhando com o odor inconfundível do cu da outra.


Um dia o coelhinho da páscoa quis comer as duas. Mas nada de a coelhinha facilitar. Era uma garota picada pelo monstro verde dos ciúmes. (Ela, inclusive, tinha lido Iago através de Shakespeare: “Cuidado com o ciúme; É o monstro de olhos verdes que debocha Da carne que o alimenta. Vive o corno Ciente feliz, se não amar quem peca. Mas como pesa cada hora àquele Que ama, duvida, suspeita, e mais ama!”) Preferia que ele comesse a amiguinha. Mas sem ela. Ou que metesse nela, mas sem a amiguinha.


Mesmo as coelhinhas de páscoa mais fáceis podem ser bem difíceis.


O coelhinho da páscoa já tinha, então, comido as duas, mas sempre uma de cada vez. E numa moita diferente.


Agora, essa nova do coelhinho: dar o cu. Pode? Posso, insistia ele, para quem quisesse ouvir, é meu e dou a quem quiser. Quem quer comer meu cu?, e berrava pela fuloresta iluminada, tangida de raiozinhos de sol, a quem posso dar meu cu?, e as folhagens tremiam como percorridas por um fremitozinho de prazer.


É certo que o esporte preferido da fuloresta era o tal do sexo e suas muitas variáveis. A tartaruga gostava de dar para o cágado, o urubu batia punheta enquanto planava, enxergando no desenho alto das copas das árvores os mais excitantes contornos eróticos, a coruja chupava e não cuspia a porra do partner.


A raposa gostava que os machos, em quantidade, chupassem suas tetas. Gozava. Loucamente, gozava.


As coelhinhas sempre gostaram de dar o cu. E os coelhinhos sempre gostaram de enfiar no buraco mais redondo. Talvez pelo pompom macio do rabinho, que afagava com carinho os ovos dos coelhos sem esmagá-los.


Um dia, quando a coelhinha da páscoa dava para um coelhão retinto que nem tição, o olho rútilo feito rubi, o coelhinho da páscoa passou em desabalada carreira. Seus saltos eram fenomenais e faziam tremer o chão da fuloresta, espalhando as folhas amarelas da primavera e os troncos carcomidos de sol, chuva e cogumelos.


Ela disse: Me fode com mais força, vai, me come, coelhão, mete bem dentro. Porque ela queria gozar logo pra correr atrás do coelhinho da páscoa e descobrir aonde ia o maroto com tanta pressa.


Nem esfregou a porra do bicho pelo seu corpo macio e sedoso, como de hábito, e, empurrando o negão com as patas traseiras, se mandou no rumo da vereda aberta pelo coelhinho da páscoa.

Era Sexta-Feira da Paixão e também na fuloresta dia de não lavar a pelagem macia, no caso das fêmeas, de não varrer o chão, no caso dos machos também, que o feminismo tinha chegado na fuloresta com gosto – e as fêmeas um dia disserem: Ou vocês passam a colaborar na lida doméstica ou nada de sexo animal.


Dia também de cobrir o rosto dos bichos santos – os há, os há, também no Reino Animal – que de dores seus olhos de estátua já andavam por demais cheios.


Mas, numa tradição remota, a Sexta-Feira da Paixão era, acima de tudo e em comum e tácito acordo, dia de abstinência. As fêmeas que moravam no buraco alto das árvores, por exemplo, não faziam nada: iam até à janela desconsoladas e fingindo indiferença; machos e fêmeas faziam cara de paisagem.


Ia nisso tudo pensando a coelhinha da páscoa (que era descrente, já viram), a porra recente se desgrudando da sua pelagem macia enquanto disparava por entre arbustos, galhos secos, o tapete de folhas fazendo fru-fru debaixo de suas potentes patas, quando deu com o focinho na inevitável clareira.


Em toda fuloresta que se preze sempre uma clareira há.


E o coelhinho da páscoa estava lá.


Parecia bem solitário e pequeno, no centro da amplidão tornada majestosa e magistral pela muralha vertical de abetos que os circundavam.


As orelhas caídas, murchas.


O focinho odorando o ar, excitado.


Viu então quando as orelhas se ergueram, revelando os capilares atravessados pelos raios luminosos do sol primaveril, viu também se erguer todo o seu corpo esguio, escanchado nas próprias patas, potentes e poderosas patas que tanto bateram, nervosas, violentas, no momento do gozo mútuo. – Isso tudo viu, nisso tudo pensou a coelhinha, entre surpresa e excitada.


Viu também e então que o pau do coelhinho estava vigorosamente duro. Duro. Colossal. Príapo na fuloresta, Príapo no zoo, Príapo desenhado por um Walt Disney malato de sexo. Nunca o tinha visto tão rígido assim. A cabeça vermelha, prestes a explodir.


A coelhinha teve um sobressalto. Literalmente. Virou-se num pulo como se alguém repentinamente tivesse enfiado uma língua viril na sua rachadura. Quem era? Quem era? Não era nada, não era nada, era apenas sua própria excitação que lhe banhava a fenda rósea e mínima ainda com a musculatura interna conservada pela ginástica constante.


Deu uma lambidinha na própria vulva, e voltou-se logo para o centro da clareira.


O coelhinho não estava mais só, solitário. Uma humana, uma Mulher estava diante dele. A coelhinha não sabia a diferença entre uma mulher e uma menina, por isso pensou que fosse mulher a menina que se postava diante do coelhinho da páscoa. Talvez porque tivesse as coxas rijas, e os seios fartos, e uma longa cabeleira loira como os raios do sol. Aquilo que ela também não sabia o que era – se pele ou o quê – e que era um vestidinho curto de algodão, era tão minúsculo que a menina não podia caminhar sem mostrar a calcinha, e sob a pele estreita da calcinha, uma outra penugem mínima e doirada. Mas a coelhinha, sem saber como sabia, sabia que aquilo excitava o coelhinho da páscoa, que para isso estava ali.


A menina pegou o coelhinho da páscoa pelas orelhas com o máximo carinho e delicadeza e o levou aos seios. O coelhinho se esfregou na maciez dos montes e rapidamente soltou sua porra no colo da menina. Ela riu e levou o dedo às narinas. Depois, se virando, chamou um nome. Um nome humano. Um nome de Homem. A coelhinha viu sair de dentro de um monte de metal azul-cobalto o Homem – na verdade, e em verdade vos digo, um menino. Mas disso a coelhinha não podia saber como não sabia as diferenças etárias entre os humanos. O Homem e a Mulher, o menino e a menina, riram, e tocaram o coelho com as mãos. Como fazem os meninos e as meninas.


Sem soltar as orelhas do coelhinho da páscoa, a menina ajudou o menino a soltar o cinto de couro e metal. E a coelhinha assistiu maravilhada as maravilhas do fecho-relâmpago. E a coelhinha viu quando ela pegou o pau do menino e ajudou a enfiar no cu do coelho, enquanto afagava o bicho com a outra mão.


Depois de satisfeito, o menino reentrou no metal azul-cobalto e voltou acariciando nas mãos uma garrafa de vidro. Dentro tinha um líquido qualquer, e o menino tudo bebeu, e logo adormeceu, o pau mole jogado por cima do corpo magro, a garrafa vazia na ponta dos dedos.


A menina pareceu ficar triste, sombria, escura, dando, vez em quando, umas olhadas rápidas por cima do ombro, na direção do mancebo adormecido. Mas tão logo os bigodes do coelhinho da páscoa lhes fizeram cócegas no rosto loiro, ela sorriu, e mostrou os dentes brancos. E a ponta do nariz da menina parecia ter vida própria. Não, não largou das orelhas do animal, mas foi cedendo o próprio corpo ao abandono do tapete de folhas da fuloresta. Um esplendor de amarelos. Os braços se abriam arrastando folhas, ao se cruzarem as pernas grudavam flores nas coxas, florzinhas miúdas e frágeis que caíam, depois, despetaladas.


Até que, ajudando o bicho a despi-la, largou as orelhas e se entregou à fúria amorosa do coelhinho da páscoa.


Quantas peles tinham as Humanas?


E.


Mesmo as coelhinhas de páscoa mais difíceis podem voltar a ser bem fáceis.


À coelhinha nada restou senão juntar-se ao conluio amoroso dos dois, esfregando o cu nos dois montes macios da moça, enquanto o coelhinho da páscoa gozava e esporrava a fenda escura da menina.


Quando o casal foi embora, a noite derramada em breu sobre a fuloresta, a coelhinha se perguntou se o coelhinho da páscoa ainda gostaria de comer rabinhos tão comuns como o seu e os das outras coelhinhas depois de ter gozado tanto entre as coxas loiras da menina-mulher.

O coelhinho não respondeu, porque a pergunta não foi feita a ele, o coelhinho nem ao menos dormia, porque os coelhinhos nunca dormem. Apenas cheirava num ritmo tranqüilo e constante a erva verde da clareira. O olho ainda assombrado. O olho ainda assombrado.



sábado, 11 de abril de 2009

terça-feira, 7 de abril de 2009

Manuscrito encontrado entre as páginas de um livro












Ontem,
não fui ao cemitério com medo de encontrá-la. O que antes do medo era desejo me fez arrumar todo, vestir paletó de flanela, engraxar os sapatos, polir as abotoaduras e passar brilhantina nos cabelos. Ouvindo jazz. The city girls. Enquanto guiava pela cidade vazia, o sol tão morno criando sombras no canto das ruas, o lixo ainda a ser recolhido, minhas mãos fazendo curvas longas no volante hidráulico, a marcha ao alcance, à direita do volante, o sol derramando-se no capô longo, os pneus de faixas brancas e calota metálica acariciando num gemido o asfalto novinho em folha, o comércio fechado, uma ou outra senhorinha puxando pelo braço a irmãzinha enfeitada e o balão de gás da irmã menor debatendo-se contra o azul do céu, as nuvens tão estiradas como chumaços de algodão. Enquanto guiava pela cidade vazia, me veio ânsia de cigarro, e parei para abastecer benzina. A moça do caixa tão entediada e só, a quilômetros de distância de uma felicidade impossível, tão diferente da senhora, e, no entanto, na senhora me fez pensar. Eu estacionei sob a copa de uma árvore imensa, próximo ao carrossel de cavalinhos. As crianças ainda não lotavam o parque, seus gritinhos ainda eram esparsos e o homem do algodão doce tirava um cochilo antes de entabular conversa com a babá dos Carlson. Acendi um cigarro no outro, indeciso em ir ao cemitério. Sem saber se iria para encontrá-la, sem saber se a encontrando como procederia, sem saber se não a encontrando me viria desejos de me atirar do alto da ponte metálica. Já estava tonto no terceiro cigarro quando me lembrei que havia uma garrafa de uísque no porta-luvas. Meti-a no bolso interno do paletó e caminhei até a beira do rio, onde um grupo de rapazes e moças exibiam seus músculos na extensão dos remos, criando círculos infinitos que faziam tremer as margens sujas. O desejo deu lugar ao medo, não sei se aos poucos, ou violentamente num choque, numa explosão, num murmúrio quase inaudível. Tive medo de sepultar para sempre esse amor não realizado. Tive medo de que nossos olhares, se buscando em meio à multidão, traíssem o que nunca conseguimos realizar. E o que nunca realizaremos. Então, a garrafa secou e senti sede e fui ao clube procurar mais bebida. Os cavalheiros jogavam cartas. Entre um straight flush e um two pair os homens faziam negócios. Também imaginei ou desejei que o seu marido por lá estivesse. Mas, não. Muitos dos seus amigos giravam pelo salão, os olhos sempre atentos acompanhando uma boca onde brotavam dentes afiados. Eu ainda bebi duas doses, sempre de costas para o balcão, mas me cansei daquele clima de solidariedade machista e fui ao terraço. A noite apenas começava e as estrelas surgiam tímidas no céu. Soprava uma brisa quente e permaneci alguns minutos apertando as mãos no vazio da balaustrada, lembrando as cartas que trocamos durante aqueles intermináveis vinte e um dias e cento e quarenta e uma cartas. Quando voltei para casa não tive forças para reler todas elas e prefiro não comentar, aqui, nenhuma delas. A senhora sabe do que falamos e da intensidade em que escrevemos, entre cartas, bilhetes, telegramas. É a crônica de um amor interrompido, abortado ainda em seu esplendor. Há confissões, dúvidas, arrebatamentos, mas, sempre, a entrega não é completa. Enquanto me afundava cada vez mais na poltrona, cercado de folhas espalhadas e odor de tabaco, o telefone tocou. Me surpreendi com a voz de sua amiga, a senhora L. Tinha a voz rouca dos insones, dos embriagados, dos muito sofridos. Me perguntou: o senhor ainda gosta dela? eu respondi: não sei, sinceramente não sei. Porque não sabia. Realmente não sabia e não sei agora. Outras senhoras por mim passaram, e a senhora sabe disso. Mas não quero interromper a conversação com a sua amiga, ainda espero encontrar os motivos incógnitos por que me telefonou aquela noite. O senhor não me parece um tipo muito fiel, disse, e me pareceu ouvir um som de vidro se quebrando do outro lado da linha. Não, não sou, eu respondi. E me servi de mais uma dose. Vossa amiga é uma senhora muito discreta e não permitiu nenhum encontro. Que pensava, cavalheiro, ela disse, encontros fortuitos num motel de estrada? Não, respondi, em encontros cada vez mais intensos que explicassem o porquê de tanta aflição em nossos peitos. O senhor fala como um escafandrista, retrucou, como se o amor fosse um oceano com muitos tesouros submersos. O amor é um oceano com muitos tesouros submersos, eu disse. Ela é uma senhora casada. O marido não permitiria ser abandonado, completou. Eu permaneci calado e lembrei a noite em que, saindo do baile, a senhora me ligou, a voz tão trêmula e ansiosa, vacilante, secreta e ao mesmo tempo desejosa em se fazer ouvir, não apenas por mim, mas pelo mundo inteiro, a começar dos alto-falantes do salão, num discurso que encobrisse a música da super-orquestra de metais. E voltei a imaginar o vestido que nunca vi, as três voltas do colar lhe abraçando o colo. Sua boca se grudou ainda mais ao telefone e a senhora me disse: Não podemos nos encontrar. Então, o mundo ainda estava sob meus pés, tão sólido quanto instável. Eu não poderia prever que nunca mais nos encontraríamos e que as cartas seriam suspensas por uma ordem invisível e poderosa. Ainda me estranha como aceitei sem teimar essa decisão, como tudo que construímos se perdeu num instante, embora vinte e um dias e cento e quarenta e uma cartas não seja nenhum número estratosférico. O senhor ainda está aí? me interrompeu sua amiga. Sim, penso de sim, lhe respondi. Estava agora mesmo pensando em tudo o que aconteceu. Nada aconteceu, disse, e percebi um tom a mais de irritação em sua voz pastosa. Foi apenas um desejo involuntário num momento em que ela estava particularmente sensível por motivos que o senhor não precisa saber. Então, por que está me telefonando? eu pensei em perguntar, mas, levantando-me não sem algum esforço da poltrona, desliguei o telefone e caminhei pela sala, admirando com alguma surpresa as lombadas nas estantes. Me pareceram, naquele momento e sob aquela luz, milhares de lápides inquietas. Amor e morte sempre caminharam juntos. Tânatos e Eros, como queriam os gregos. Olhando as lombadas eu me transportei ao cemitério inacabado, onde sepultamos nosso amor. (Quanta tragédia nessas palavras.) (Preciso riscar isso, apagar isso, mesmo borrar.) Lhe vi, numa das fileiras, os olhos cobertos por óculos escuros, a boca descoberta, coberta de um leve batom, a pulseira de prata se enrolando na alça metálica da bolsa, os pés vestidos de um azul cintilante. Seu braço prolongava-se por trás das espáduas de sua mãe, as duas em sintonia fina no vestir-se, no portar-se, no sentar-se elegantemente. Mesmo num funeral as senhoras se portam como se numa partida de hóquei estivessem. Misturada às vozes sibilantes, um zunzum de insetos sibilantes, veio o silêncio dos seus olhos tão logo se encontraram aos meus. Então, seu rosto permaneceu imóvel, passivo e esculpido na pedra do instante, por um breve segundo que durou horas, até retomar vida, e acariciar o rosto da sua mãe e voltarem as vozes ao seu cicio intermitente. Minhas mãos suaram e não soube onde metê-las, deslizando-as ao longo da calça e mexendo, também eu, o rosto à procura de nada. O céu tão baixo que poderíamos tocá-lo com a ponta dos dedos. Então, a multidão se afastou como num mar que se abrisse e o caixão passou por entre os homens sérios de frontes reverentes. Tornado à biblioteca, me senti qual Plutão raptando Prosérpina ansioso em pôr em sua boca três sementes de romã para que nunca mais voltasse ao seu mundo. Não o fiz, mesmo por que a senhora nunca me pediu esse seqüestro, já então inútil, movido apenas por um sonho complacente envolto em névoas de ilusão retalhada, costurada em anos de desencontros mútuos. Não espero que receba esta folha que penso em queimar ou deixá-la perdida em algum livro esquecido em prateleira inacessível à banalidade dos olhos e à indiscrição das mãos. Sei, agora, que não mais a encontrarei, nem em funerais, nem em batismos, tampouco em jantares formais. Sei que a partir de hoje me sentarei na pedra do banco onde nunca nos encontramos, no lugar que freqüentamos, em horários diferentes, em diferentes dias. Tudo tão diferente que se poderia dizer: Em diferentes anos. Num século ímpar a cada um. E olharei à minha direita. E à minha direita estará o corredor irregular, o soalho de madeira clara, as paredes vertiginosas, o arco da porta que emoldura o jardim, onde, ao fim, resta solitário, claro e sombrio, segundo as nuvens do céu, o peixe de porcelana azul-fechado, rodeado de ladrilhos entre o branco e o anil. A grama por aparar. O peixe de boca aberta sem uma réstia d’água. É único modo de marcar a imagem em minha lembrança, desenho, perspectiva, de um plano além da realidade. Como se eu, o amante inacabado, fosse o arquiteto preferido do Imperador da Abissínia, de Roma, dos Estados Unidos da América, do Caralho-A-Quatro, seja lá em qualquer lugar do Mundo, onde ele finde. E continuarei sentado, o rosto voltado à minha direita, até que as plantas de mim se apoderem.








[fotograma: un chien andalou, 1929]

sábado, 4 de abril de 2009

calor




Esse calor devora por inteiro as plantações que tenho em mim semeadas, corrói quase sem esforço sem pausa sem tomar fôlego sem cobrar propina o corpo em que deambulo na busca vã de.


Esse calor incêndio consome carnes pêlos planta dos pés onde nascem enguias e estrelas, onde crescem mato e artrites, onde fenecem sonhos, onde de mim escarnecem olhos dentes e.


Esse calor maltrata, chicoteia, açoita, lambe feridas, recolhe ossos, planta plantas devoradoras de homens, resvala feito alma bala perdida na placidez de outro corpo recolhido ao.


Esse calor inquieta. Julga. Molesta. Condena. Exila-me de ti.




quarta-feira, 1 de abril de 2009

O nome das coisas – cara


É aflição o nome dessa espera que não finda.

É desespero o nome dessa dor que se renova.

É medo esse não saber o que fazer.

É nada. Tudo é nada.







O nome das coisas – coroa



Não quero mais lhe ver. Nunca mais.

Não quero que me veja. Nunca mais.

Não quero ligar pra você. Nunca mais.

Não quero saber de você. Nunca mais.

Não quero que me acorde. Nunca mais.

Não quero dormir com você. Nunca mais.

Não quero depender de você. Nunca mais.

Não quero cuidar de você. Nunca mais.

Não quero que me beije. Nunca mais.

Não quero esse desejo. Sempre mais.







O nome das coisas – lado A

Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.


Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.
Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.
Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.
Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.
Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.
Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.
Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.
Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.
Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.
Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.
Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.
Dá pra sentir a raiva subindo pelas paredes.

O nome das coisas – lado B


Dá pra ver a raiva descendo pelas paredes.