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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Tempo | manhã de segunda-feira


Sol entre nuvens. E daí?

Já não me movo através das notas do boletim meteorológico.

Apenas uma saudade recorrente, que se alimenta em si mesma.

Em beijos, abraços, corpos.

As ruas da cidade existem para que nelas ande.

Tudo muito buliçoso sob o sol.

Café, cigarros, uma cidade construída à beira-mar.



Tempo | manhã de domingo


O sol brilha, o mar refresca, a areia da praia é quente mas próxima ao mar é molhada.



[2a versão:

Sol reluz, ondas refrescam, areia da praia quente, mas próxima ao mar, molhada. Ao seu lado, melhor.]








sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Tempo | manhã de sexta



Fazer o quê, se o dia acordou luminoso, sol resplandecente, céu sem nuvens, brisa marinha despertando o leito ainda perfumado?

Brilho, clarão, fulgor – a felicidade é um prato que se come, frio ou quente, com a ponta dos dedos. E se beija com a língua.

Os passarinhos cantam.



Sun is shiningThe weather is sweet yeahMakes you wanna move your dancing feetTo the rescueHere I amI want you to know y'allHere I standAs the morning gathers a rainbowI want you to know y'allThat I'm a rainbow with you'Cause I'm a heroLike Robert de NiroI know an Ital Rasta manGot to keep I heightsProtection until timeThe sun is shiningFor you and there's nothing else to doWar is explosiveYou got to demonstrateDon't fight'Cause the sun is shiningFor youThere's nothing else to doAs the morning gathers a rainbowI want you to know nowThat I'm a rainbow with youWoh yeah test the eyeTes' the eye...Fear no evilChannel like a lionChannel like a lionSome say – yeahMoney in my...One on oneMoney in my pocketBut I just can't get your loveSome say – yeahAnd the sun is shiningDon't fightAnd you got soulAnd you're chopping it up aeroFor you...There's nothing else to doSun is shiningThe weather is sweetMakes you wanna moveYour dancing feetTo the rescueHere I amI want you to know y'allHere I standAs the morning gathers a rainbowI want you to knowThat I'm a rainbow with youAs the morning gathers a rainbowI'm rougher than roughRougher than rough'Cause I'm a rainbow with youTougher than toughTougher than toughChannel like a lion – yeahThis is some fashion – yeahChannel like a lion

domingo, 20 de setembro de 2009

all you need


Falamos tanto de amor que agora esse amor se desgasta.







quarta-feira, 16 de setembro de 2009

sedex




07 Marrons Glacés Motta 17g

01 Piñones Vahiné 50g

01 Frigopoesia pequeños imanes con palabras

03 Piñones superSol 100g

01 maço de Winston CLASSIC 100’s

01 maço de Winston CLASSIC

01 maço de Lucky Strike ORIGINAL RED

01 maço de Lucky Strike sem filtro

01 maço de Lucky Strike embalagem ilustrada com ícones dos anos 60

01 maço de Pink Elephant [20 pink cigarettes]

02 maços de Camel

01 maço de Camel sem filtro

01 anjo vermelho de asas douradas

01 punto de libro magnético ENTRE DIOSES Y HOMBRES Réplica romana Museo Nacional Del Prado

dezenas de cartões postais [em branco]

02 pares de brinco

01 mapa de cidade

W. H. Auden Parad los relojes y otros poemas “por tu padre...”

Antonio Tabucchi La gastrite di Platone “en una mañana fria con nieve en Trento”

Rodrigo Rubio Equipaje de amor para la tierra “malas e baús cheios de amor”

Otros

que não encontro

quinta-feira, 5 de março de 2009

jogando ping-pong com Sheyla Azevedo

Sheyla Azevedo lançou o convite em seu blog.
Para um ping-pong com cheiro de caleidoscópio.
Dieta das tantas perguntas.
Fases da lua.
Horóscopo sem destino, I King de ontem.
Ping.
Pong.


Filme que vem à cabeça: Fim de caso
Televisão: Desligada
Cinema: Às escuras
Livro: Aberto
Uma mulher: Nenhuma qualquer
Um homem: Pra chamar de seu
A dor se alivia com: Suspiros poéticos e saudades
Cantada: Literal
Gafe: Dar murro em ponta de faca
Sexo: Infinito enquanto dure
Aprendizado: Jardim de Infância do Éden
Família: Pais, Filhos, Irmãos. Amigos
Filhos: Melhor tê-los
Debaixo dos lençóis: Os seus cabelos
Amor: Nuvens e as formas que adquirem
Milagre: Estarmos vivos
Tristeza: Onipresente & onisciente
Bebida: Alcahol
Vício: Bem-me-quer-mal-me-quer
Incontinência: ...
Intolerância a: Preconceito
Perfume: De mulher
Raiva: Dias sim, dias não
Deus: ?
Perdão: Sem querer
Viagem: Interior
Natureza: Do escorpião, do sapo
Diversão: Acústica
Música: Barulhinho bom

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

rainsummer







Nessas tardes molhadas de agosto
Sinto a chuva lavando minha alma
Sinto o frio entrando pelos ossos
Como uma coisa um troço
Não sei explicar

Nessas tardes molhadas de agosto
Sinto a chuva lavando minha alma
Sinto o frio entrando pelos ossos
Como uma coisa um troço
Não sei explicar

Lavei as mágoas nos pingos da chuva
E aquela velha dúvida de te encontrar
Tô molhado como um passarinho
Perdi o ninho já nem sei voar
Eu tô molhado
Pingando chovendo
Chovendo pingando
Pingando tão só
Tô molhado
Chovendo doendo
Doendo sangrando
Sangrando de fazer dó
Tô chuviscando estou chovendo
Estou sofrendo de fazer dó
Chuviscando estou chovendo
Estou sofrendo tô causando dó

Mês de agosto é mês de chuva
Mês de agosto lava a alma
Mês de agosto é mês de chuva
Mês de agosto é mês de chuva
Mês de agosto lava a alma
A mágoa a mágoa


Alceu Valença

sábado, 17 de janeiro de 2009

Fun, fun





Sorriam, é verão, sol, praia, chuva, suor, cerveja, preguiça – e safe sex, claro.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

síndrome de abstinência | sétimo dia | as nuvens coloridas pelo sol poente




“Pois quem pode calcular o impacto e a repercussão de um incidente qualquer na vida de um sonhador?”

Charles Baudelaire > Torturas do ópio > O ópio > Os paraísos artificiais – Porto Alegre: L&PM Editores, Primavera de 1986

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

síndrome de abstinência | dia 6 | o esplendor inquietante




[Embedding disabled by request
acesse:
http://it.youtube.com/watch?v=hh8bCLDKKYY&feature=related]



“Por que não diminuir a dose de uma gota por dia, ou atenuar seu poder adicionando água? Calculou que seriam necessários vários anos para obter por esse meio uma vitória incerta. Aliás, todos os amadores de ópio sabem que, antes que se atinja um certo grau, sempre se pode reduzir a dose sem dificuldades, e até mesmo com prazer, mas que, uma vez ultrapassada essa dose, toda redução causa dores intensas.”

Charles Baudelaire > Torturas do ópio > O ópio > Os paraísos artificiais – Porto Alegre: L&PM Editores, Primavera de 1986

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Alto-falante


Pra Claudinha, que achou triste e desnecessário o último vídeo:


Discover Talking Heads!


Ouça bem alto. Shake-it-up dream!








síndrome de abstinência | dia 5 | a impotência para escapar ao suplício


“Assim, a coisa está clara; aliás, ele nos suplica que acreditemos nele: quando começou a tomar ópio todos os dias, havia uma urgência, uma necessidade, uma fatalidade; viver de outra maneira era então impossível.”


Charles Baudelaire > Torturas do ópio > O ópio > Os paraísos artificiais – Porto Alegre: L&PM Editores, Primavera de 1986

terça-feira, 25 de novembro de 2008

síndrome de abstinência | dia 4 | a obscuridade do terremoto e do eclipse



“E depois, serão assim tão numerosos, os bravos que sabem afrontar pacientemente, com uma energia renovada de minuto em minuto, a dor, a tortura, sempre presente, que não se cansa, em vista de um benefício vago e longínquo?”

Charles Baudelaire > Torturas do ópio > O ópio > Os paraísos artificiais – Porto Alegre: L&PM Editores, Primavera de 1986

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

síndrome de abstinência | dia 3 | o inverno enfurecendo-se na montanha




“Uma bela habitação não torna o inverno mais poético, e o inverno não aumenta a poesia da habitação?”


Charles Baudelaire > Torturas do ópio > O ópio > Os paraísos artificiais – Porto Alegre: L&PM Editores, Primavera de 1986

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Cena de cinema | Soapbox Opera




Interna. Luz fluorescente. Verde pálida.

Um bando – a maioria homens, algumas mulheres –, todos nus, num banheiro. A água do chuveiro corre, franca, e desemboca no ralo. Estão todos de frente, uns pros outros. E de costas para as paredes azulejadas. Sobre o chão de ladrilhos, soltando espuma em profusão, um sabonete. Ninguém o toca, nenhum do bando se inclina para apanhá-lo. Não porque não o desejem. Apenas porque temem ser enrabados pelos demais caso arrisquem a manobra.

A água do chuveiro continua a correr, franca, como uma coluna líquida e quase palpável. Até sumir pelo ralo.



sábado, 26 de julho de 2008

Por esse amor eu faria de um tudo, coisas
certas e erradas. Cometeria desatinos. Passaria a semana inteira comendo carne
vermelha. Jogaria latas de cerveja na rua pela janela do carro. Faria o caminho
de Santiago a pé, subiria de joelhos a ladeira da Sé de Olinda, iria ao Juazeiro
pagar as promessas que não fiz ao padre Cícero. Deixaria de beber, de fumar, de
falar do próximo quando distante. Compraria dois automóveis, todos dois pra ti,
mesmo sem tostão. Meu caro Antônio, duzentos anos voam, mas ainda assim é muito
tempo.


Essa moça não promete - cumpre.

E, se eu pudesse, voltaria ontem, entre os dinossauros do parque, pra trocar umas idéias, pra entornar umas quantas cicarelis, pra ajudar a cortar, picotar, rasgar, triturar o retrato na parede da bolsa.

Quem sabe teria sugerido a cura pelo fogo. Chamas em lugar de lágrimas.

Tears for fears.

Ashes to ashes.

Melhor, não. A paixão é um despenhadeiro. Infinito antes da queda.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

água e sal






















só pra lembrar que eu sei que eu deixei isso aqui às moscas. prometo ao menos dar notícias quando souber qual a nova frequência de atualizações. sorry.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Sobre o perdão

Pra quem passou batido ou não leu, vai uma “Irlandesa” das páginas iniciais da CartaCapital de 27 último. Assinada por Billy Culleton, que noves fora o nome, nasceu na Argentina, é naturalizado brasileiro, jornalista e professor universitário em Santa Catarina.

Em nome da paz

Cidade de Derry, Irlanda do Norte, maio de 1972. Richard Moore, de 10 anos, volta da escola ao lado de três colegas. Os meninos que passam correndo diante de um posto das forças britânicas fazem gestos desafiadores para os soldados. A corrida de Richard é interrompida quando alguém, a partir do posto, atira balas de borracha no rosto do jovem, que cai no chão.

Dias depois, no hospital, o diagnóstico: os tiros deixaram Richard cego. O fato revolta a comunidade, mas a família tenta manter a calma. Os pais o consolam. Falta-lhe, porém, coragem para contar a eles exatamente o que se passara. Richard imagina que tudo voltará à normalidade após lhe tirarem os curativos dos olhos.

O menino fica duas semanas internado. Pouco antes de sua saída, o irmão mais velho o leva para uma caminhada pelos jardins do hospital e, constrangido, informa-lhe sobre o futuro na escuridão. Nos dias subseqüentes, Richard volta à escola e tenta retomar a vida. Passam-se 36 anos. “Nunca ouvi meus pais falarem mal dos soldados responsáveis pelo fato”, conta Richard Moore, sentado na poltrona da sede da ONG Children in Crossfire (Crianças sob Fogo Cruzado), fundada por ele, em 1996, para oferecer apoio a menores vítimas de guerras em todo o mundo.

Hoje, Moore leva uma vida normal, dentro de suas limitações. Formou-se em Administração, casou-se e teve dois filhos. Na década de 1980, recebeu uma indenização do governo britânico. Com a metade do dinheiro comprou uma casa. Com a outra, um pub.

Após fundar a ONG, dedicou-se integralmente ao projeto de apoio às crianças mutiladas. Viajou pelo mundo arrecadando e distribuindo recursos. Mas uma idéia fixa o acompanhava havia mais de 30 anos: quem fora o soldado que atirara nele? Como seria ficar frente a frente com o algoz?

Não lhe restavam mágoas, mas ele sentia a necessidade de passar a limpo o fato que mudou sua vida. Após meses de procura, o soldado – identificado apenas como Charles – foi localizado na Escócia. Moore escreveu-lhe uma carta sobre sua vida ao longo das últimas três décadas. “Perguntei-lhe, sem ressentimentos, se ele se lembrava por que atirara em mim.”

Semanas depois, recebeu a resposta. Em tom frio, Charles justificava o ato em razão de estar cumprindo sua função como soldado da Grã-Bretanha. Não se sentia culpado. Reconhecia, porém, que, se soubesse das conseqüências, não teria atirado. Moore sentiu-se aliviado por ter recebido uma resposta de Charles. Na carta seguinte, pediu um encontro pessoal, que foi aceito. Semanas depois, dirigiu-se à Escócia.

A conversa durou quatro horas e meia. Sentados um diante do outro, relembraram os fatos e falaram de suas vidas. Charles demonstrou franqueza e abertura, mas voltou a justificar o ato e não falou em arrependimento. Moore ouviu seu discurso e buscou o momento adequado para expor o que estava atravessado em sua garganta havia anos: “Eu perdôo você”, disse-lhe. Ambos choraram.

“Perdoar é uma experiência fantástica. Foi a melhor coisa que fiz em minha vida”, garante o irlandês, acrescentando por que o gesto tirara um enorme peso de suas costas. “Imagine isto: a pessoa responsável por tanto sofrimento, que tanto prejudicara a mim e a minha família, estava sentada à minha frente, sentindo o meu perdão.”

Na verdade, explica, não apenas ele perdoava seu agressor. Seus pais também o faziam por meio dele: “Meus pais sofreram mais do que eu, tendo de conviver com um filho cego”.

A partir da visita à Escócia, houve uma grande empatia entre o algoz e a vítima e os encontros começaram a ser mais freqüentes, em Derry ou na Escócia. Atualmente, são como velhos amigos. Encontram-se ao menos duas vezes ao ano. Contam histórias, tomam cerveja e riem juntos. O programa preferido é passear. Quem vê ambos andando juntos, o cego segurando o braço do homem mais velho, recebendo orientação para caminhar pelas ruas e ouvindo atentamente a descrição daquilo que está ao seu redor, jamais conseguiria imaginar a maneira pela qual a parceria se formou. “Perdoar é um presente que a gente dá a si mesmo, independentemente de o outro aceitar”, insiste Moore.

A relação entre o soldado e o “garoto cego” se transformou em um símbolo do processo de reconciliação que vive a Irlanda do Norte. Contra todas as previsões, um ano depois do início da administração conjunta entre católicos e protestantes, é possível sentir que a paz será duradoura.

Em maio de 2007, o país, de 1,7 milhão de habitantes, testemunhou a instalação de um governo que conseguiu o aparentemente impossível: a união de dois grupos inimigos havia séculos e que se enfrentavam violentamente há 40 anos, o Exército Republicano Irlandês (IRA) e o Partido Unionista. Os primeiros lutavam pela união com a República da Irlanda, enquanto os outros queriam a manutenção do domínio britânico na região. Era a guerra secular entre católicos e protestantes, descendentes de irlandeses e de ingleses, respectivamente.

Um acordo de paz estabeleceu que protestantes e católicos deveriam governar juntos. O grupo vitorioso em uma votação democrática indicaria o primeiro-ministro, e o segundo colocado, o vice. Em março do ano passado, a população elegeu seus representantes para o Parlamento. Nas urnas, os protestantes tiveram 55% dos votos e os católicos, 45%. Assim, o pastor protestante Ian Paisley, de 82 anos, assumiu como primeiro-ministro, e o católico Martin McGuinness transformou-se em seu vice. Era o fim de quatro séculos de domínio exclusivo da Grã-Bretanha.

De forma inédita, dois inimigos ferrenhos começavam a governar o país. Paisley, um dos mais radicais defensores do extermínio da população católica irlandesa, administrava o governo juntamente com McGuinness, um dos fundadores do IRA, responsável pela morte de milhares de protestantes britânicos. Algo sem igual na história contemporânea. Era como se, na década passada, os territórios palestinos fossem governados por Ariel Sharon e Yasser Arafat juntos.

Ao contrário de Richard e Charles, Paisley e McGuinness não se sentam à mesma mesa e se limitam a trocar algumas palavras em eventos formais. Seus assessores fazem as negociações necessárias. É difícil esconder a repulsa mútua. [Billy Culleton]

quinta-feira, 5 de junho de 2008

A farra do boi

“No matadouro de João Câmara, assistimos às mortes mais brutais dos bois. O animal era puxado por uma corda por um adolescente, que lhe cobria os olhos com um pano e outro marretava a cabeça do animal, errando várias vezes, fazendo o animal gritar de dor.” – Relatório do Ministério do Trabalho denunciando trabalho infantil em matadouros do Rio Grande do Norte, hoje na Folha, para assinantes.


“Conduzida ao pátio, e não muito distante da porteira, um dos matadores dá-lhe com o olho do machado uma pancada violenta no encaixe da cabeça apanhando o cabelo louro, na expressão sertaneja. A rês cai incontinente sobre a cama de ramos verdes de antemão preparada. Era então sangrada com uma comprida e afiada faca de ponta na veia-mestra [...]. O sangue espirra e, pouco a pouco, a seringada vai diminuindo e também vão diminuindo os estrebuchamentos agoniados até que a vítima revira os olhos e morre. É este um drama muito triste e talvez mais triste ainda é assistir as lamentações desesperadas dos sobreviventes no lugar da matança. A rês que primeiro, e à distância, pressentir o cheiro do sangue derramado, aproxima-se entristecida. O passo é ainda vagaroso, mas à proporção que o a distância vai encurtando, começa a trotear em direção ao curral. O primeiro urro lamentoso ecoa nos ares para perder-se na distância das serras, cujo eco lhe aumenta a melancolia. Como por encanto surgem de toda parte outras reses que, inteiriçadas, as cabeças voltadas para um dos lados num esforço que lhes repuxa a parte lisa do queixo, começam o coro penoso. Os mugidos aumentam num crescendo mais e mais angustioso, a que não faltam nem mesmo as lágrimas como evidência de dor, saudade, amargura e revolta. No grupo, formado ao redor daquela sepultura, tem-se a impressão de que se interrogam diante do mistério do sangue derramado.” – Eloy de Souza em Memórias, Natal: Fundação José Augusto, 1975