O coelhinho da páscoa quis dar o cu. É meu, falou, posso dar a quem queira e a quem queira dar.
A coelhinha da páscoa achou muito estranho. Seu coelhinho era o fodão da fuloresta. Gostava de comer, chupar, bater e enfiar as patinhas no rabo de todas as coelhinhas da zona.
Com ele, a coelhinha gozava loucamente. Abria a rachadura bem aberta, e o coelhinho enfiava um, dois dedos, e logo depois o pau.
O pau do coelhinho da páscoa tinha gosto de chocolate. Muito provavelmente pela proximidade dos ovos.
Na semana santa, de dentro dos ovos saltavam brinquedinhos – um uniforme de enfermeira, outro de colegial, um escapulário, um vibrador de duas pontas.
A coelhinha da páscoa tinha uma amiguinha.
Quando o coelhinho da páscoa estava muito entretido com as outras coelhinhas da fuloresta, ela se deitava na relva verde-esmeralda ao lado da amiga-coelha. Elas ficavam com as patas bem abertas, escancarando as bocetas para os raios do sol.
Quanto mais quente, mais úmidas ficavam as fendas. Então, elas se enrodilhavam, e uma chupava a racha rósea da outra.
Vez em quando elas disfarçavam e chupavam, como sem querer, o cu da outra.
Depois, bebiam gim. Cada uma sonhando com o odor inconfundível do cu da outra.
Um dia o coelhinho da páscoa quis comer as duas. Mas nada de a coelhinha facilitar. Era uma garota picada pelo monstro verde dos ciúmes. (Ela, inclusive, tinha lido Iago através de Shakespeare: “Cuidado com o ciúme; É o monstro de olhos verdes que debocha Da carne que o alimenta. Vive o corno Ciente feliz, se não amar quem peca. Mas como pesa cada hora àquele Que ama, duvida, suspeita, e mais ama!”) Preferia que ele comesse a amiguinha. Mas sem ela. Ou que metesse nela, mas sem a amiguinha.
Mesmo as coelhinhas de páscoa mais fáceis podem ser bem difíceis.
O coelhinho da páscoa já tinha, então, comido as duas, mas sempre uma de cada vez. E numa moita diferente.
Agora, essa nova do coelhinho: dar o cu. Pode? Posso, insistia ele, para quem quisesse ouvir, é meu e dou a quem quiser. Quem quer comer meu cu?, e berrava pela fuloresta iluminada, tangida de raiozinhos de sol, a quem posso dar meu cu?, e as folhagens tremiam como percorridas por um fremitozinho de prazer.
É certo que o esporte preferido da fuloresta era o tal do sexo e suas muitas variáveis. A tartaruga gostava de dar para o cágado, o urubu batia punheta enquanto planava, enxergando no desenho alto das copas das árvores os mais excitantes contornos eróticos, a coruja chupava e não cuspia a porra do partner.
A raposa gostava que os machos, em quantidade, chupassem suas tetas. Gozava. Loucamente, gozava.
As coelhinhas sempre gostaram de dar o cu. E os coelhinhos sempre gostaram de enfiar no buraco mais redondo. Talvez pelo pompom macio do rabinho, que afagava com carinho os ovos dos coelhos sem esmagá-los.
Um dia, quando a coelhinha da páscoa dava para um coelhão retinto que nem tição, o olho rútilo feito rubi, o coelhinho da páscoa passou em desabalada carreira. Seus saltos eram fenomenais e faziam tremer o chão da fuloresta, espalhando as folhas amarelas da primavera e os troncos carcomidos de sol, chuva e cogumelos.
Ela disse: Me fode com mais força, vai, me come, coelhão, mete bem dentro. Porque ela queria gozar logo pra correr atrás do coelhinho da páscoa e descobrir aonde ia o maroto com tanta pressa.
Nem esfregou a porra do bicho pelo seu corpo macio e sedoso, como de hábito, e, empurrando o negão com as patas traseiras, se mandou no rumo da vereda aberta pelo coelhinho da páscoa.
Era Sexta-Feira da Paixão e também na fuloresta dia de não lavar a pelagem macia, no caso das fêmeas, de não varrer o chão, no caso dos machos também, que o feminismo tinha chegado na fuloresta com gosto – e as fêmeas um dia disserem: Ou vocês passam a colaborar na lida doméstica ou nada de sexo animal.
Dia também de cobrir o rosto dos bichos santos – os há, os há, também no Reino Animal – que de dores seus olhos de estátua já andavam por demais cheios.
Mas, numa tradição remota, a Sexta-Feira da Paixão era, acima de tudo e em comum e tácito acordo, dia de abstinência. As fêmeas que moravam no buraco alto das árvores, por exemplo, não faziam nada: iam até à janela desconsoladas e fingindo indiferença; machos e fêmeas faziam cara de paisagem.
Ia nisso tudo pensando a coelhinha da páscoa (que era descrente, já viram), a porra recente se desgrudando da sua pelagem macia enquanto disparava por entre arbustos, galhos secos, o tapete de folhas fazendo fru-fru debaixo de suas potentes patas, quando deu com o focinho na inevitável clareira.
Em toda fuloresta que se preze sempre uma clareira há.
E o coelhinho da páscoa estava lá.
Parecia bem solitário e pequeno, no centro da amplidão tornada majestosa e magistral pela muralha vertical de abetos que os circundavam.
As orelhas caídas, murchas.
O focinho odorando o ar, excitado.
Viu então quando as orelhas se ergueram, revelando os capilares atravessados pelos raios luminosos do sol primaveril, viu também se erguer todo o seu corpo esguio, escanchado nas próprias patas, potentes e poderosas patas que tanto bateram, nervosas, violentas, no momento do gozo mútuo. – Isso tudo viu, nisso tudo pensou a coelhinha, entre surpresa e excitada.
Viu também e então que o pau do coelhinho estava vigorosamente duro. Duro. Colossal. Príapo na fuloresta, Príapo no zoo, Príapo desenhado por um Walt Disney malato de sexo. Nunca o tinha visto tão rígido assim. A cabeça vermelha, prestes a explodir.
A coelhinha teve um sobressalto. Literalmente. Virou-se num pulo como se alguém repentinamente tivesse enfiado uma língua viril na sua rachadura. Quem era? Quem era? Não era nada, não era nada, era apenas sua própria excitação que lhe banhava a fenda rósea e mínima ainda com a musculatura interna conservada pela ginástica constante.
Deu uma lambidinha na própria vulva, e voltou-se logo para o centro da clareira.
O coelhinho não estava mais só, solitário. Uma humana, uma Mulher estava diante dele. A coelhinha não sabia a diferença entre uma mulher e uma menina, por isso pensou que fosse mulher a menina que se postava diante do coelhinho da páscoa. Talvez porque tivesse as coxas rijas, e os seios fartos, e uma longa cabeleira loira como os raios do sol. Aquilo que ela também não sabia o que era – se pele ou o quê – e que era um vestidinho curto de algodão, era tão minúsculo que a menina não podia caminhar sem mostrar a calcinha, e sob a pele estreita da calcinha, uma outra penugem mínima e doirada. Mas a coelhinha, sem saber como sabia, sabia que aquilo excitava o coelhinho da páscoa, que para isso estava ali.
A menina pegou o coelhinho da páscoa pelas orelhas com o máximo carinho e delicadeza e o levou aos seios. O coelhinho se esfregou na maciez dos montes e rapidamente soltou sua porra no colo da menina. Ela riu e levou o dedo às narinas. Depois, se virando, chamou um nome. Um nome humano. Um nome de Homem. A coelhinha viu sair de dentro de um monte de metal azul-cobalto o Homem – na verdade, e em verdade vos digo, um menino. Mas disso a coelhinha não podia saber como não sabia as diferenças etárias entre os humanos. O Homem e a Mulher, o menino e a menina, riram, e tocaram o coelho com as mãos. Como fazem os meninos e as meninas.
Sem soltar as orelhas do coelhinho da páscoa, a menina ajudou o menino a soltar o cinto de couro e metal. E a coelhinha assistiu maravilhada as maravilhas do fecho-relâmpago. E a coelhinha viu quando ela pegou o pau do menino e ajudou a enfiar no cu do coelho, enquanto afagava o bicho com a outra mão.
Depois de satisfeito, o menino reentrou no metal azul-cobalto e voltou acariciando nas mãos uma garrafa de vidro. Dentro tinha um líquido qualquer, e o menino tudo bebeu, e logo adormeceu, o pau mole jogado por cima do corpo magro, a garrafa vazia na ponta dos dedos.
A menina pareceu ficar triste, sombria, escura, dando, vez em quando, umas olhadas rápidas por cima do ombro, na direção do mancebo adormecido. Mas tão logo os bigodes do coelhinho da páscoa lhes fizeram cócegas no rosto loiro, ela sorriu, e mostrou os dentes brancos. E a ponta do nariz da menina parecia ter vida própria. Não, não largou das orelhas do animal, mas foi cedendo o próprio corpo ao abandono do tapete de folhas da fuloresta. Um esplendor de amarelos. Os braços se abriam arrastando folhas, ao se cruzarem as pernas grudavam flores nas coxas, florzinhas miúdas e frágeis que caíam, depois, despetaladas.
Até que, ajudando o bicho a despi-la, largou as orelhas e se entregou à fúria amorosa do coelhinho da páscoa.
Quantas peles tinham as Humanas?
E.
Mesmo as coelhinhas de páscoa mais difíceis podem voltar a ser bem fáceis.
À coelhinha nada restou senão juntar-se ao conluio amoroso dos dois, esfregando o cu nos dois montes macios da moça, enquanto o coelhinho da páscoa gozava e esporrava a fenda escura da menina.
Quando o casal foi embora, a noite derramada em breu sobre a fuloresta, a coelhinha se perguntou se o coelhinho da páscoa ainda gostaria de comer rabinhos tão comuns como o seu e os das outras coelhinhas depois de ter gozado tanto entre as coxas loiras da menina-mulher.
O coelhinho não respondeu, porque a pergunta não foi feita a ele, o coelhinho nem ao menos dormia, porque os coelhinhos nunca dormem. Apenas cheirava num ritmo tranqüilo e constante a erva verde da clareira. O olho ainda assombrado. O olho ainda assombrado.
7 comentários:
muito mais interessante que as fábulas do la fontaine.
hahahaha. Lissa, eu pensei em algo parecido com o que vc já disse...
Mas, o fato é que esse texto mexe com a gente, muito mais do que quiséssemos, em aspectos que vão bem além da eroticidade nele contida. Mas nisso, se la fontaine era bom e midc se supera, penso que só freud poderia explicar.
um beijo Mário Ivo, como sempre bom vir aqui.
bela suruba! sempre desconfiei que o neguinho come uma aqui, uma ali, acolá, com mais uma vai de duas, come cu, come menina...não pode ser diferente: prazer mesmo é ser comido pelo cu.este sim, o destino.
Meu caro Mário Ivo, só lhe posso dizer o seguinte: que prosa de mal gosto! Que absurdo ou tipo de grosseria alguém escrever coisas assim:"muito mais interesante que as fábulas de la fontaine". Como diz Cascudo, o doce cascudinho, "Natal não consagra nem desconsagra ninguém".
Mas pior do que o seu escrito é o Substantivo Plural do Tácito Costa, magricela das girafas, ai de quem disser que aquilo ali não presta! Afinal, ali só deve ter gênios, com grandes discussões acerca da literatura, da filosofia é de fazer qualquer um morrer de rir!!
Chau, Ivone Silva
mário ivo, você é foda! eu dei uma gargalhada tão grande quando comecei a ler esse texto que me surpreendi. e olhe que eu não estava nada alegre nesse dia. e aí, levou a sério o meu monólogo? é por aí, dentro desse seu humor ácido, ahahah. beijos,mário ivo. múcia
Se eu fosse como tu, tirava a mão do bolso
Se eu fosse como tu, tirava a mão do bolso
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