sábado, 26 de janeiro de 2008

solidão de sábado





Eu como, eu bebo, eu fumo.
Eu converso.
Eu trago, eu belisco, eu mastigo.
Eu olho ao redor.
Eu arrasto a língua nos dentes, eu estico as costas, eu estendo braço e antebraço no parapeito da janela.
Eu olho pro fundo do copo.
Eu como novamente, eu bebo novamente, eu fumo mais um cigarro.
Eu ouço.
Eu estiro os músculos do pescoço, eu sorrio, eu fico triste.
Eu lembro.
Eu peço mais uma cerveja, eu peço mais outra cerveja, eu peço ainda mais outra cerveja.
Eu olhos pras paredes.
Eu vejo as moças chegarem, eu ouço as moças falarem, eu enxergo o riso das moças no escuro.
Eu sinto um peso nos ombros.
Eu converso sobre cinema, eu converso sobre ex-amores, eu calo sobre futuros.
Eu vou-me.

II

Não pra Pasárgada.
Pro shopping.
Eu compro-me. Eu pago-me. Eu levo-me.
Eu, não: nós – Saramago, Bolaño, Austen.
Tá bom assim: alfabeto invertido.
Numa sacola de plástico.

III

O apartamento continua vazio. E eu entrei. Comigo, adentrou a solidão do sábado-noite. Instalou-se no sofá, ligou a TV, acendeu o computador, olhou a noite lá fora, fechou os olhos à noite cá dentro.

3 comentários:

Moacy Cirne disse...

Nos meus tempos de Natal, o sábado e o domingo (o verdadeiro dia da solidão), preenchiam-me com o Nordeste e o Rio Grande, o Cinema de Arte e o Suplemento Literário do Estadão, o Arpège e o Wunder-Bar, a Praia do Forte e o Iara Bar, Sartre e Camus. Ou Kafka. Ou Fernando Pessoa. Um abraço. Um belo texto, o seu.

Anônimo disse...

"amiga das horas, prima-irmã do tempo, que faz nossos relógios caminharem lentos, causando um descompasso no meu coração"... Dai a Alceu o que é seu, meu, nosso, nossa - solidão!

Mme. S. disse...

"que belo estranho dia para se ter alegria" (ou seria o contrário?). desculpe a franqueza, amigo, mas o seu dia me encheu de encantamento.
bjs, S.