domingo, 21 de setembro de 2008

Oceânica





Como não me perguntaram, eu não falei.

Não disse.

E por que não me perguntaram, recolhi, recolhi-me, recolhi tanto lixo sideral, poeira de estrelas, copos vazios, cinzeiros quebrados.

E por não recolher-me, parti.

Sem um adeus, sem beijo de despedida.

Sem lenço na plataforma da estação.

Era inverno e no entanto era verão.

Primavera.

As folhas caíam como no outono, os frutos maduravam nas calçadas.

Só eu e você diante do nascer do sol.

Soprou um vento úmido. Fez frio de gelar as ventas.

O rio continuou seu mergulho contínuo no mar.

As ondas quebraram na praia.

Mesmo longe da arrebentação, nos arrebentamos todos.

Todos, eu e você.

Numa mesma ilha, sem nos encontrar.

E tão pouco (tão pouco) nos perder.

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