[Chagall, claro]
Nessas horas em que tudo parece suspenso – a tarde literalmente cai, o céu se veste de negro, os sons parecem minguar – pensa.
É quando a ausência dela se faz mais presente no homem.
E no que pensa o homem.
Se anuncia, em imagem, o que nem palavra mesma é – como um anjo, lírio branco na mão em concha. Se transmuta, no espaço, o que nem ainda forma tem – nuvem, pássaro, vôo de pássaro. Poente (as cores do poente). Sombreia, então – o canto dos móveis, o verniz da cômoda. O vaso de flores – as pétalas caídas, já secas. Como restos, como migalhas. Como cavacos. Brilha, no instante seguinte – nos cristais do guarda-louças, três, quatro prateleiras, no soalho do corredor. Uma meia sem par, ao fundo. (Nem tempo houve, nem haverá, saberá depois, de colhê-la.) Por fim, navega – pelo teto da sala, distante dos frisos, em milhões de luzes, em quadrilhões de sombras, em sonhos sem fim. Nem começo. O homem sabe: é única a paisagem.
Ou, simplesmente.
Bate à porta – essa ausência repentina, que só existe quando se manifesta, tudo tão paradoxal –, interfona, envia mensagens, torpedos de um submarino que naufragou e esqueceram olhar quando do último mergulho: porque então tudo que queriam era somente um beijo incendiando águas profundas. Esse beijo sem vésperas, esse abraço, aconchego, mar atlântico, esse suspiro, tornado mudo na linha do horizonte.
– Poente (as nuances do poente).
Quando a mão do homem, sobre a mão da mulher, faz crescer um redemoinho, na mão dele, é da mão dela que parte – estrelas, vaga-lumes e fogos-fátuos – tudo que brilha e reluz e não é ouro. Quando tudo, tudo que precisavam era um pouco de sal na pele. A dela, que em contato com a dele vibra e treme. A dele, que em contato com a dela, se aquece.
Se enxuga, ao vento, porta que deixaram aberta, ignorando as nuvens. No céu. Nos horizontes.
E o tropel dos cavalos, a roupa escura dos cavaleiros. Tudo aquilo que reluz e não é ouro.
Ah, hora suspensa de sons ao longe. Ah, ausência sua em tecido bordado. Ah, por que só assim me visita tua ausência – pensou o homem – enquanto ausência, enquanto falta, enquanto desejo e não prazer?
Ah, ela nada disse. Ela nada falou. Porque ausente estava.
Porque sem ser, não era.
É quando a ausência dela se faz mais presente no homem.
E no que pensa o homem.
Se anuncia, em imagem, o que nem palavra mesma é – como um anjo, lírio branco na mão em concha. Se transmuta, no espaço, o que nem ainda forma tem – nuvem, pássaro, vôo de pássaro. Poente (as cores do poente). Sombreia, então – o canto dos móveis, o verniz da cômoda. O vaso de flores – as pétalas caídas, já secas. Como restos, como migalhas. Como cavacos. Brilha, no instante seguinte – nos cristais do guarda-louças, três, quatro prateleiras, no soalho do corredor. Uma meia sem par, ao fundo. (Nem tempo houve, nem haverá, saberá depois, de colhê-la.) Por fim, navega – pelo teto da sala, distante dos frisos, em milhões de luzes, em quadrilhões de sombras, em sonhos sem fim. Nem começo. O homem sabe: é única a paisagem.
Ou, simplesmente.
Bate à porta – essa ausência repentina, que só existe quando se manifesta, tudo tão paradoxal –, interfona, envia mensagens, torpedos de um submarino que naufragou e esqueceram olhar quando do último mergulho: porque então tudo que queriam era somente um beijo incendiando águas profundas. Esse beijo sem vésperas, esse abraço, aconchego, mar atlântico, esse suspiro, tornado mudo na linha do horizonte.
– Poente (as nuances do poente).
Quando a mão do homem, sobre a mão da mulher, faz crescer um redemoinho, na mão dele, é da mão dela que parte – estrelas, vaga-lumes e fogos-fátuos – tudo que brilha e reluz e não é ouro. Quando tudo, tudo que precisavam era um pouco de sal na pele. A dela, que em contato com a dele vibra e treme. A dele, que em contato com a dela, se aquece.
Se enxuga, ao vento, porta que deixaram aberta, ignorando as nuvens. No céu. Nos horizontes.
E o tropel dos cavalos, a roupa escura dos cavaleiros. Tudo aquilo que reluz e não é ouro.
Ah, hora suspensa de sons ao longe. Ah, ausência sua em tecido bordado. Ah, por que só assim me visita tua ausência – pensou o homem – enquanto ausência, enquanto falta, enquanto desejo e não prazer?
Ah, ela nada disse. Ela nada falou. Porque ausente estava.
Porque sem ser, não era.
Um comentário:
parece que quando a luz se vai deixa mesmo todo mundo que a lê mudo.
lindo, lindo.
Postar um comentário