Não a ouvi chorar o marido encarcerado, como nas notícias jornaleiras.
A câmera se deteve em seus dedos enrolando as pontas da cabeleira negra. Os fios tensionados. Se moveu um pouco para a esquerda, encontrou o volume macio de um seio, brincando de esconder no decote geométrico.
As batatas das pernas são dois musclinhos chochos. Tem uma energia enorme acumulada ali, potência nuclear. Amy Winehouse é o Papa-léguas em letargia alcoólica. Não vai dali praqui em cima do palco.
Não a vi chorar e desfazer a maquiagem, como nas fotos paparazzi.
Eu estava no café, em Spring Street. Ouvi quando perguntou ao moço:
– deseja alguma coisa?
Ele pediu café com creme. Não levantou os olhos, nem eu os meus. Eu estava lendo um livro de John Fante, eu tinha vinte e uma merreca de um ano incompleto no qual eu aprendia a beber e a fazer sexo com meninas virgens. Depois, eu soube do entrevero entre os dois: que ele não gostou do café – sabia a cinzas e trapos fervidos. Que a raiva o fez observar de longe a maciez firme dos ombros, o leve traço de músculo nos braços, a espessura dos cabelos negros e luzidios, o brilho dos dentes, o nariz maia, o batom vermelho, os olhos oblíquos, os seios firmes, o caminhar dançante.
Então ele notou, o que ninguém mais viu, os velhos do Café em Spring Street bebendo cerveja e passando o dia, o que eu também vi:
Os huaraches.
Alguns dias depois ele voltou. Ela escarneceu dele. Depois, pediu desculpas. Fizeram as pazes. Ela pediu que ele voltasse, à noite. Ele não resistiu, e disse, saboreando o frescor do prato frio:
– esses huaraches você tem de usá-los, Camilla? Tem de enfatizar o fato de que sempre foi e sempre será uma latina suja e sebenta?
No palco, Amy Winehouse lembrou a cena, os olhos soltos entre a platéia. E correu para o bar, gemendo:
– oh, oh, oh.
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Um comentário:
De qualquer forma a mulher tem uns olhos que entontecem qualquer um!!! :)
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