Me olhou através de uns óculos doidos uma moça de nome Alice.
Não, não me disse o nome, e estava mais para uma das tantas maravilhas de país subterrâneo do que para lolita em vestido azul-bebê e avental candejante.
Não me disse o nome.
Não se apresentou – assim:
– Alice.
Muito prazer.
Me olhou apenas com pérolas esmeraldas. Turmalinas. Turquesas. Azul celestial. Coro de anjos em Creta.
Me olhou apenas com molduras heritage.
Um sorriso rosa na comissura labial.
Sem luvas de boxe.
Acompanhei a brancura de um braço magro, despontada na t-shirt de algodão. Cotton club. Barriguinha aflorando sobre o cós da calça jeans.
Nuca navalhando fios de cor indefinida, de corte indefinido, de sexo indefinido.
Por trás dos óculos.
O sol derramando-se por sobre os casulos da plantation, os negros ferindo os dedos nas flores alvas, águas mornas encubando peixes.
Meu coração: represa para o salto dos peixes.
Ao final, ao final, descendo olhos, desabando olhares, acompanhando as duas pernas de algodão sarjado lavado nas pedras tingido de verde, ao final, ao final, dois minúsculos pés de gueixa – sempre em sintonia com os olhos emoldurados e o sorriso róseo.
Me olhou através de óculos que gostei. E por que atrás dos óculos brilhavam dois olhos que supus verdes. Da cor com que se tintura o algodão das lonas índigo.
Encostou a coluna nas vértebras da entrada. De madeira o pilar central. Alguém atravessou o salão espalhando os saltos altos no assoalho de tábuas. Cruzou o salão, os pés estancaram, abriram-se em leque. Diante de uma radiola. O long play reagiu à mordida da agulha, continuou a girar.
Ela me levou pela mão, abriu a porta do Porsche Carrera branco-pálido. Descortinou a rodovia sob nossos pés o asfalto correndo e sumindo no retrovisor, seus óculos, óculo, abandonados no rosto, a pele tão branca, tão alva, cotton club.
3 comentários:
Muito bom!
faço coro com carito: muito bom mesmo!
Também faço coro com os dois. Mas há uma surpresa pra você no Balaio. Abraços.
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