sábado, 11 de outubro de 2008

Bom dia, prefeita [061008]


[Susan Shimeld]


Independente do resultado de ontem – o qual obviamente desconheço, escrevendo esta coluna de véspera, feito peru de Natal – alguém há de saudar uma das duas candidatas, hoje, ao raiar do sol primaveril, com a saudação típica dos otimistas madrugadores: Bom dia, prefeita!

Assim, no feminino.

Porque – ao menos que o mundo tenha tomado um rumo ainda mais vertiginoso do que realmente vem tomando – ou Micarla de Sousa venceu o escrutínio de ontem, ou foi Fátima Bezerra quem contrariou as pesquisas e os muezins midiáticos deste voraz Arraial de Palumbo, a grande maioria mui bem engajada em vender gato por lebre e no exercício diário de tapar o sol com a peneira.

Independente do exotismo da segunda possibilidade apontada, há uma certeza: os outros seis candidatos, todos varões, foram solenemente ignorados pela plebe, massa eleitoreira.

Há, ainda, uma terceira possibilidade em que o sobrescrito aposta – sem querer passar-me por pitonisa de beira de calçada de restaurante self-service: segundo turno, pois.

Contrariando o Sr. Edgar Allan Poe, que recomendava em um de seus contos nunca apostar a cabeça com o diabo, eu apostaria a minha com o tinhoso – pagando, quem sabe, com uma “barriga” – que a manchete deste e de outros jornais amanhecem o dia de hoje com ao menos duas palavras em comum: “segundo” e “turno”.

O que, decerto, não invalida o augúrio matutino: seja a Sra. Fátima Bezerra, seja a Sra. Micarla de Sousa, cada qual terá alguém para pronunciar as palavrinhas mágicas tão logo se ponham em pé depois da batalha dominical. Afinal, passaram pelo coador do primeiro turno, a possibilidade de vitória se aproxima e o séquito que as acompanha há de querer injetar-lhes doses de ânimo antecipando a próxima eleição.

Ou seja, Natal terá sua segunda prefeita mulher.

Se isso faz alguma diferença, não faço a menor idéia.

*

EM TEMPO

Vamos ao lugar-comum: provavelmente até os paralelepípedos do largo do Atheneu sabem que o sobrescrito participou – profissionalmente, como redator, não como jornalista – do marketing de Fátima. Como eu meti na frase anterior um “provavelmente” não custa pingar os is.

E lembrar-vos de Cláudio Abramo: “No jornalismo, o limite entre o profissional como cidadão e como trabalhador é o mesmo que existe em qualquer outra profissão. É preciso ter opinião para poder fazer opções e olhar o mundo da maneira que escolhemos. Se nos eximimos disso, perdemos o senso crítico para julgar qualquer outra coisa. O jornalista não tem ética própria. Isso é um mito. A ética do jornalista é a ética do cidadão. O que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista.”



PROSA
“Com o que acontece é nós exultante.”
Julio Cortázar
A volta ao dia...

VERSO
“Agora já sabemos que a única certeza se engendra
naquilo que nos ultrapassa.”
Lezama Lima
“A partir da poesia”

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