quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Fidel



[Poema visual do livro No aver paura, Lulù, de P J Gutiérrez, Edizioni Estemporanee, Roma: 2006]



Mamãe eu quero ir pra Cuba, mas perdi o timing.

E eu já sabia que isso ia acontecer, eu esperava por isso feito um tolo kamikaze da desesperança.

Sem o comandante-em-chefe, Cuba vai perder aquela aura de museu vivo, suspenso no tempo. Aquela decadência, malemolência de carrões antigos em meio a prédios em ruínas e mulatas de coxas fartas e vestidinho de algodão barato.

Mamãe, o que eu não daria para encoxar uma mulata no pé do tanque de lavar!

De fumar charutos e cuspir no chão.

De ouvir jazz entre negros e entre negros de óculos escuros como os óculos de Cartola.

Mamãe, Cuba era uma Lapa agigantada, uma Ribeira hiperbólica, uma Olinda esfuziante.

E agora? Que será de nós?

Michael Moore já foi lá.

Antonio Banderas e David Beckham já preparam seus passaportes, Cuba fica na metade da rota USA-Cidade dos Reis.

Ry Cooder está em prantos. Cry me a river, Ry!

E Pedro Juan Gutiérrez? Desconfio que a primeira de muitas brochadas de Dom Pedrão aconteceu por estes dias. Vejo-o no Malecón, as ondas em fúria lavando pedras e putas e varões com suas vergas doiradas. Vejo-o no Malecón, afagando os cabelos que não tem, o olho oblíquo desesperado.

As folhas de tabaco recém-consumidas, enroladas, gastas, apagadas, mortas, no canto de sua boca frankensteiniana. Uma puta aproxima-se. O travecão chega junto. Impossível dizer qual dos dois mais hermoso. Más hermoso. Dias atrás o traveco tinha ameaçado a puta com uma gilete enferrujada. Agora, unem-se em defesa de Dom Pedrito, querem afagá-lo, beijá-lo, chupá-lo, mimá-lo.

Necas.

Pedro Juan enluarado. Conversa com o fantasma de Rodrigo de Jerez, o espanhol que fumou o primeiro puro em Gibara, ali pelos idos de 1492. Quando o Mundo era realmente Novo e Christophorus Colonus fazia a corte à Isabel de Castela.

Taca uma punhalada nela, cara, Taca uma punhalada nela, cara – repete o capítulo homônimo, páginas 186-190 da tradução brasileira da trilogia suja ou do rei de havana, não lembro qual dos dois. Alguém há de estar lendo essas páginas, neste exato instante, alguém há de.

Pedro Juan despede-se de Rodrigo, de Jerez. Olha pro alto, como se a qualquer momento Fidel pudesse aparecer em um dos terraços abertos sobre a ilha no topo do mundo. E recitasse seus versos, os versos de Gutiérrez, lágrima no olho gasto, corazón denunciador:

Yo estoy construido con los colmillos

de la serpiente

y el aullido del lobo

y el brillo del pez

y la astucia del tigre

y la potencia del toro

Yo soy un relincho salvaje

de los dioses

y un corazón de cordero

de donde mana sangre roja y caliente

Yo soy ese hombre que atraviesa

la ciudad para mirarte a los ojos

y oler tu piel y respirar profundamente

y meterse dentro de ti

hasta tocar tus huesos

y decirte

esto es todo lo que puedo hacer

4 comentários:

Anônimo disse...

Sem contar com o ‘sobrescrito’, a sensualidade do texto vem da cabeça raspada de PJ Gutierrez, que quengo luzidio, pronto para uso, por quem tremem todas as fêmeas, frankenstein dos trópicos - esse sim, lúbrico, como Drácula nenhum conseguiu ser – em voltas pelo Malecón, com aquelas negras que reaparecem nos meus sonhos do meio-dia e da meia-noite também, não com vestidos de algodãozinho barato, mas naqueles shorts de lycra (torando), deixando-lhes ver todos os aclives e declives de animal, de saboroso animal, de nádegas exuberantes (que fazem sombra) , prontas a me conduzirem, como a Pedro Juan e a todos os bichos famintos da ilha, para o canto de escada mais próxima, do mais decadente prédio da redondeza, não para uma rapidinha (o que teria seus perigos, livrai-me!), mas, tão somente, para mostrar como se fuma um ‘puro habano’, e mais do que isso, como se sustenta nos lábios charuto tão desproporcional, como se mordisca sem ‘hacer daño’, se introduz lento ou de vez, se unta todo o roliço com a película de cuspe mais fina, se expande a cavidade oral a não mais poder, bochecha a Dizzi Gillespie, língua sutilíssima, enquanto o cubículo se orna de volutas&volutas, e me convence de que, na vida, o melhor mesmo é perder o caminho de casa. Abraços, Remo Morám.

Anônimo disse...

Sem contar com o ‘sobrescrito’, a sensualidade do texto vem da cabeça raspada de PJ Gutierrez, que quengo luzidio, pronto para uso, por quem tremem todas as fêmeas, frankenstein dos trópicos - esse sim, lúbrico, como Drácula nenhum conseguiu ser – em voltas pelo Malecón, com aquelas negras que reaparecem nos meus sonhos do meio-dia e da meia-noite também, não com vestidos de algodãozinho barato, mas naqueles shorts de lycra (torando), deixando-lhes ver todos os aclives e declives de animal, de saboroso animal, de nádegas exuberantes (que fazem sombra) , prontas a me conduzirem, como a Pedro Juan e a todos os bichos famintos da ilha, para o canto de escada mais próxima, do mais decadente prédio da redondeza, não para uma rapidinha (o que teria seus perigos, livrai-me ó eterno Fidel!), mas, tão somente, para mostrar como se fuma um ‘puro habano’, e mais do que isso, como se sustenta nos lábios charuto tão desproporcional, como se mordisca sem ‘hacer daño’, se introduz lento ou de vez o Cohybão, se unta todo o roliço com a película de cuspe mais fina, se expande a cavidade oral a não mais poder, bochecha a Dizzi Gillespie, língua sutilíssima, enquanto o cubículo se orna de volutas&volutas, e me convence de que, na vida, o melhor mesmo é perder o caminho de casa. Abraço, Remo Morán.

Capitão-Mor disse...

Que se salvem os charutos!!!!

midc disse...

remo morán: menino, eu te conheço num sei de onde... era você, mês passado, no malecón? ou era a barbara sheraton? ou – quem sabe – os dois?