sábado, 3 de outubro de 2009

City



[Carla Bruttini, Detroit, 2009 Acrilico su tela cm 70 x 100]


Naquele tempo os dias passavam rápidos, como nuvens no céu.

Numa caixa aberta de Mate Leão, passarinho fez ninho.

Ficava no forro, onde cabiam meninos abaixo dos dez anos.

As telhas horizontais, de amianto. Podia-se caminhar sobre elas, sem perigo, mais próximos do céu.

O mundo era tão imenso.

As tardes permaneciam acordadas. Então, as nuvens interrompiam sua marcha e flutuavam, estáticas. O sol aquecia. As pálpebras se buliam, tímidas.

Lá embaixo a cidade quase não existia. As ruas vazias. Os adultos no trabalho. A faina era tão distante e desconhecida. Como os passarinhos, vez ou outra tornavam, nos horários das refeições.

Ele assistia o mundo se mexer, em retalhos de cotidiano. Desconhecia o compasso das horas, a fluidez dos minutos, a velocidade dos segundos.

Por que nunca tentou alçar vôo?



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