segunda-feira, 5 de maio de 2008

UM DISCO: Fanny Adams, The Sweet. 1974, Bronze Records Ltd.



Primeiro, a capa, claro.
Deliciosa e docemente kitsh. Com os quatro cavaleiros do apocalipse, prontos pra levar um bakulejo no salão de baile da paróquia, vestidos de matar em prata, laranja, azul e preto. Faltam só as plumas e os paetês (o laquê vem grátis). Fundo verdesmeralda, reflexo metálico da pose. É tudo pose.

Depois, o conteúdo. O que se ouve.

Nove músicas, cinco pro lado A, quatro pro lado B, e uma porrada sonora em ambos, cada side mais hard e heavy que o outro. Nem tudo é pose.

Música após música, faixa dopo faixa, baixo-guitarra-bateria post efeitos vocais-tubular bells-moog, Fanny Adams é um disco pra se ouvir na estrada, a quantos quilômetros por hora seu carango possa andar.

Set Me Free abre o lado A, acelerada. De zero a cem em poucos segundos de bateria pesada (Mick Tucker) e guitarras básicas (Andy Scott). Brian Connoly segura os vocais, bem mais sério do que a indumentária do Sweet pré-conceitua. No mais é o baixo mais alto de Steve Priest e phaser pra todo lado – phaser é um pedal muito usado nos anos 70 e 80, aqui abusado muito além da tradicional guitarrelétrica.

Hertbreak Today conclui – ainda na segunda faixa – que Fanny Adams é disco indispensável. Em meados da década de então era trilha de uma rádio brazuca. O som de FA é pré-rock-de-FM. O Sweet era o lado B de figuras como Marc Bolan, Bowie na sua fase glitter, e os dois Brian – Ferry e Eno – nos primórdios do Roxy Music. Ou seja, glam, glitter, glamourous.

É verdade que daí pro Village People foi só uma questão de mais fantasia (dressed) e menos fantasia (dreamed).

Mas Fanny Adams é tão empolgante que tudo mais pode ir pro inferno e ainda ser perdoado. No You Don’t dialoga e chama pra briga. Rebel Rouser é pura adolescência sem causa. Peppermint Twist revisita o somzinho ingênuo de dez anos atrás, meados dos sixties, quando a moçada dançava, mascava chicletes e as saias ainda não tinham subido pelos joelhos.

Clap your hands, The Ballroom Blitz é música de salão depois de uns cocktails a mais. Pra dançar, suar e agitar as cadeiras e o lado B, que segue o ritmo com Sweet Fanny Adams e Restless. AC/DC fecha o círculo, coerentemente adolescente, sem vergonha de ser adolescente e tocar numa banda de rock.

Um disco pra ouvir na estrada politicamente incorreta do sexo (ao menos, se não concluído, tentado), drogas (alcahol, em doses que conjuguem o verbo encharcar) e rock’n’roll. Only, only, only and only.

10 comentários:

Anônimo disse...

E a Radio Tamandaré usava uma das faixas do disco pra veicular uma propaganda sua na tv que por alguma motivo passava na cidade dos reis. E tocava a música o maior tempão até fechar simplesmente com: " - Radio Tamandaré". Sensacional! Esses foram por muito tempo - e ainda são - os verdadeiros reis do iê iê iê para mim. E esse é um daqueles discos totalmente bons demais do começo ao fim, ontem, hoje e sempre! Antes era uma novela conseguir uma imagem em movimento de uns caras desses, agora é só conferir por exemplo The Ballroom Blitz no http://www.youtube.com/watch?v=ZrBDivsSe3k

E se quiser a versão com Nina Hagen no Rock and Rio em 1885: http://www.youtube.com/watch?v=3a8SkRu-cqs

Lembro que a primeira vez que fui na Galeria do Rock em São Paulo e perguntei por um disco do Sweet fui "aceito" na hora. Você sabe que esse LP entrou na nossa casa pela coleção setentista de nosso irmão João... um ótimo legado! valeu o post! Deu vontade de ouvir o disco agora... Mas é como você disse - no carro, com energia adolescente, e aumenta que isso aí é rock and roll!!!

Anônimo disse...

Errata: claro que o ano do Rock in Rio ao qual me refiro é 1985. Mas do jeito que as coisas vão (junto com os meus neurônios) não me surpreenderia se aparecesse no youtube algum show do Sweet em 1885! Essas viagens no tempo Alex de Souza pode explicar melhor...

Moacy Cirne disse...

Não se avexe não, Carito, os anos 1880-1889 foram gloriosos para música brasileira. Haja vista o empolgante maxixe, haja vista o melodioso choro. Um abraço pra você e outro para o Mário Ivo.

Orf disse...

Fanny Adams (April 1859 – 24 August 1867) was a young English girl murdered by solicitor's clerk Frederick Baker in Alton, Hampshire. The expression "sweet Fanny Adams" refers to her and has come, through British naval slang, to mean "nothing at all".

On 24 August 1867 at about 1.30 pm, Fanny's mother, Harriet Adams, let Fanny and her friend Millie Warner (both 8 years old) and Fanny's sister Lizzie (aged 7) go up Tanhouse Lane towards Flood Meadow. In the lane they met Frederick Baker, a 24-year-old solicitor's clerk. Baker offered Millie and Lizzie a three halfpence to go and spend and offered Fanny a halfpenny to accompany him towards Shalden, a couple of miles north of Alton. She took the coin but refused to go. He carried her into a hop field, out of sight of the other girls.

At about 5 pm, Millie and Lizzie returned home. Neighbour Mrs Gardiner asked them where Fanny was, and they told her what had happened. Mrs Gardiner told Mrs Adams, and they went up the lane, where they came upon Baker coming back. They questioned him and he said he had given the girls money for sweets, but that was all. His respectability meant the women let him go on his way.

At about 7 pm Fanny was still missing, and neighbours went searching. They found Fanny's body in the hop field, horribly butchered. Her head and legs had been severed and her eyes put out. Her torso had been emptied and her organs scattered.
It would take several days for all her remains to be found.

source: Wikipedia

Orf disse...

http://rapidshare.com/files/84778267/Sweet_F-Adams.rar

Vou conferir!

Alex de Souza disse...

Na verdade, o primeiro Rock in Rio, em 1885, encerrou-se com uma lisérgica apresentação de Chiquinha Gonzaga, com o sol já nascendo, executando o Hino da Independência, nua releitura muito particular em ritmo de forrobodó.

Historiadores sustentam a hipótese de esta ter sido a influência para a Star Spangled Banner, de Hendrix.

Anônimo disse...

SET ME FREE FOI ABERTURA DO FANTÁSTICO DA GLOBO. GRANDE DISCO. ESCUTAVA NAS ALTURAS. TODAS AS FAIXAS SÃO DE ARRASAR. FAZ TEMPO QUE ANDO TENTANDO ENCONTRAR EM MP3

Waleska Maux disse...

muito legal seu blog, suas letras juntas.

Mme. S. disse...

concordo com a Wal. nem sempre dá para ser tão grandiloqüente quanto os outros comentadores... mas é sempre bom vir aqui nesse ajuntamento de letras.

midc disse...

thanks, waleska, volte sempre - e, sheylinha, as letras ficam melhor ajuntadas com sua presença, por si só grande&eloquente.