sexta-feira, 8 de maio de 2009

Um soneto de William


Leva-me, amor, todos os meus amores:
Que tens agora a mais que não te déssemos?
Nenhum sincero amor, amor, que apores
Ao quanto era já teu sem tais acréscimos.
E se é por meu amor que o amor me raptas,
Não te posso culpar se dele abusas;
Todavia te culpo se te adaptas
Só por capricho ao que em geral recusas.
Gentil ladrão, eu te perdôo a ofensa,
Pois roubaste de ti minha penúria.
Que sempre soube o amor ser dor mais densa
Sofrer seus erros que do ódio a injúria.
llllLasciva graça, que faz bem do mal;
llllMorro do teu desdém, não teu rival.



[William Shakespeare, 40, in 42 sonetos, organização e tradução Ivo Barroso, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005]


Um comentário:

maria disse...

se não me engano O.W.disse que são duas as tragédias do mundo: uma é não conseguir o que desejamos e a outro é quando conseguimos. isso posto, resta-nos escolher como vivê-las.