para m.
Quando eu era louco, não me sentia dentro de mim; que é como dizer: não morava em mim.
Luigi Pirandello Quando eu era louco... in Novelas para um ano – O velho Deus tradução Bruno Berlendis de Carvalho São Paulo Berlendis & Vertecchia 2000
Cada dia mais me permito a loucura
benfazeja.
Então, alguns conselhos
e dois ou três comentários:
Não se deixe enganar
Não passe ridículo
Escreva uma carta hoje à noite e não envie
nunca mais
Não beba vodka
Não morra de tédio
Não corte as unhas
Não lave os cabelos
Deixe a louça por lavar
e um pedaço de queijo na geladeira
Quando for madrugada
descalce todos os sapatos as chinelas os saltos as alpercatas os tamancos de madeira
e suje os pés na terra tentando colher a fruta mais madura que não há
Quando você for louco e a loucura se permitir
– se instalar em sua morada.
Você, que vive em sítio tão congestionado.
(duas garrafas de tinto e pimenta-do-reino nos olhos: é quanto basta para que eu conte do dia frio de outono em que fiquei plantado no jardin du luxembourg: ou foi nas tulherias: quando eu vivia em paris: era outono e nos instalamos em hotel de quinta em rua de ambulantes: era outono e o vento varria folhas para debaixo de velhos citroëns estacionados: era outono e meu casaco nevava: fazia mais frio dentro do que fora do meu casaco dois tamanhos maiores: as mãos congeladas: os pés plantados: você entrou na lojinha desde mil e oitocentos e alguma coisa pregava a fachada e me deixou do lado de fora: le chien andaluz: un perro andalou: seu casaco no tamanho justo capa longa contrastando o batom vermelho-sangue a ponta do seu nariz tão fria seu dedo erguendo o óculo de grau: você comprou uma caixinha de música e girou a manivela minúscula e uma canção dos beatles fez tremer as folhas do jardin du luxembourg: fazia tão frio dentro eu disse: mais que lá fora onde o cãozinho espanhol o rosto moreno sujo sem lavar esperava: eu nunca estive tão só nos setenta e três anos em que vivi em paris: quando eu vivia em paris e era louco por você:)
... aí vem o vinicius e fala, cigarro de cinza longa entre os dedos,
existe sempre uma mulher Pra se ficar pensando Nem sei, nem lembro mais
Vinicius de Moraes A carta que não foi enviada
Vinicius de Moraes A carta que não foi enviada
[fotograma de buñuel, claro]
8 comentários:
Guapo, seas tú y Buñuel. Olé, tú. Sea el perro andaluz y tu obscuro objeto del deseo.
Finder
... Where am I where can I go?...
Uauuuuuuuuuuuu
que beleza de texto!
Lindo.
Vc é mto interessante, rapaz.
Queria saber escrever assim.
Bj Laura
thanx, laura, mas quem disse q vc nao escreve? basta conferir no seu lauravive (ou caminhar - link ao lado em faraway, so close)
midc, tks, Laura :)
PS: vc mora em Natal? vai no lançamento do livro? fico tímida, não conheço as pessoas... tsc tsc tsc
vou sim, certeza, nos vemos la
amei esse post.
Oba!
surep
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