Hoje bateu uma vontade de me jogar na arena.
E esperar a chegada soturna das hienas.
Então, vamo’nessa: Roberta Sá é carioca. Da gema do ovo.
Até que me provem o contrário.
Pois, até que me provem o contrário, a tentativa de conterraneizá-la é só um e não passa de mais um ataque histérico dos nativos do Ryo Grande, traumatizados ainda com o fato colonial (remonta aos idos de quatro séculos atrás) de que nem tão grande assim era o nosso ryo (embora tenhamos a maior das aldeias, derna de sempre, ou, a “Metrópole Indígena”, nas palavras articuladas de Polycarpo Feitosa, ou Antônio José de Melo e Souza, nosso último governante letrado).
E haja necessidade de auto-afirmação (ponto de exclamação ou reticências, à escolha do freguês).
E haja exibir nas fuças dos outros a certidão de nascimento de quem nos ufanamos.
Desejo bem ambíguo, aliás, para quem – e tomo emprestado de novo as letras cursivas do Dr. Antônio – “com uma excessiva desconfiança de si próprio, que parece ser também um dos elementos do seu caráter, o potiguar é propenso a considerar irresistivelmente o estrangeiro, o desconhecido, como superior, como capaz, e respeita-o pelo menos enquanto não convencer-se de que o tal estrangeiro é igual ou inferior a si mesmo”.
Talvez seja isso que tanto nos envaidece e nos anima como pintinhos na beira da cerca: Robertinha Sá une o útil ao agradável, Tomé com Bebé, é “de fora”, mas também “é daqui”. Um must, enfim, para a patuléia que se acha o ó do borogodó, o centro do mundo, as pregas que não cabem no meio, oco do mundo.
Uma maravilha, claro, os discos da moça, as músicas da moça, o suingue da moça. Menos por sua certidão de batismo e mais por ela mesma – embora muitos “críticos” às margens do Putigy adorem exercitar e ecoar o que “os outros”, no gramado alheio, dizem dela: porque “os daqui” tudo que fazem é citar que a menina foi citada pelos “outros”, sem nenhum juízo crítico e opinião pessoal.
E tomem repetir o que ouso questionar: Roberta Sá é de Natal – mas, Roberta Sá é mesmo de Natal?
Não acredito, crianças. A Roberta Sá de quem vocês tanto falam e hosanam nas alturas nasceu artisticamente na Guanabara, e cumpriu, meio ao acaso, sem intenção premeditada, mas por antecipação, o dito de Antonio Carlos Jobim para a macro-geografia nacional: a melhor saída para o músico brasileiro é o aeroporto.
Galeão, no Rio; Augusto Severo, na Província dos Reis.
Pois, esta semana Roberta Sá vem à Natal – dá uma de Bob Dylan e vem à Natal por 50 contos o ingresso individual. Quem tiver a carteirinha de estudante ou provar que é velhinho, paga a metade. Tal como Mr. Zimmerman em Sampa, o preço alto não deve assustar o público, entusiasmado em e por ser conterrâneo da moça: a Agenda Propaganda programou dois horários, às sete e às nove da noite da próxima quarta, 7 de maio. No Teatro Alberto Maranhão.
Quem não “qui$eR” ir ao show de Robertinha, pode ir ao Praia Shopping e assistir, de grátis, Dodora Cardoso e o show “Cofrinho de Amor” – oh-oh... sendo assim, datemi un martello por favor, como diria Rita Pavone: é melhor quebrar os cofrinhos pra inteirar os cincoenta mil réis!
7 comentários:
Um banquinho, um violão e aquela vozinha: "Ela é carioca, Ela é carioca"...
Gosto da moça. Mas, sinceramente, estranho muito essa histeria e essa necessidade de auto-afirmação potiguar em cima da carioca. Outra coisa: 50 contos é punk! Logo eu que nunca fui lá muito de estudar e ainda não sou tão veinha assim...
Boas considerações
De que obra do Antônio José de Melo e Souza você o trecho abaixo? Poderia me indicar?
Desde já, grato pela atenção.
“com uma excessiva desconfiança de si próprio, que parece ser também um dos elementos do seu caráter, o potiguar é propenso a considerar irresistivelmente o estrangeiro, o desconhecido, como superior, como capaz, e respeita-o pelo menos enquanto não convencer-se de que o tal estrangeiro é igual ou inferior a si mesmo”.
maurício: é de "vida potiguar", na verdade um artigo publicado na revista do rio grande do norte em 1899 e publicado como livro pelo sebo vermelho salvo engano em 2007 - ainda bastante fácil de encontrar no próprio sebo (av rio branco em frente ao antigo banespa).
Valeu cara!
Brigadão!
Homem, quem inventou essa história? Daqui é Marina Ela: nossa mais justa representação, nossa cara: beradeira, se rindo à toa, querendo entrar no céu à força, agradando todo mundo. Sou mais Marina É-lá-ali, daqui, daqui, sem tirar nem pôr.
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