terça-feira, 27 de maio de 2008

Leviatã





[A Baleia por excelência, quem diria, foi parar nas mãos do estilista Ronaldo Fraga – do sítio da CosacNaify ponto com ponto bê erre]


Na contramão das torcidas literárias organizadas, não me rendi aos propalados encantos da nova edição brazuca de “Moby Dick”, o clássico por excelência não apenas do seu autor, Herman Melville, mas de toda a literatura norte-americana, e, por extensão, mundial.

Isso, sob a chancela da mais-querida editora nacional entre os modernetes e designers de Deus-salve-a-América-do-Sul: a Cosac Naify.

Verdade seja dita: a Cosac tem edições que pedem para serem levadas pra casa, e acariciadas com as mãozinhas limpas e os olhinhos túrgidos dos viciados em livros. O basbaque – de preferência na solidão do vício, o restante da casa dormitando – toma o exemplar em mãos e admira embevecido a última compra. E se parabeniza pelo feito, atitude, bom gosto, de ter comprado aquele livro. Que nem sempre lê.

Quase sempre acerta, a editora do Sr. Charles Cosac, um tipo que poderia ter saído da última parada gay, se o evento tivesse apenas ele como única atração – e se o cenário não fosse a Paulista, mas o principado de Dubai.

A Coleção Mulheres Modernistas, por exemplo, é um primor que dispensa retoques e elogios: vale quanto pesa e mais ainda do que custa. Por ela já foram publicadas Virginia Woolf, Katherine Mansfield, Karen Blixen e Marguerite Duras.

A Coleção Particular acertou com “Primeiro amor” de Beckett e com “Bartebly, o escrivão” de Melville – e nem tanto com “A fera na selva” de Henry James (em se falando do tal livro de designer).

Feito e efeito maior fez a editora com “Ismália”, poema de Alphonsus de Guimaraens com ilustrações de Odilon Moraes. Como explicar o desejo quase incontornável de pagar 45 pratas por um livro-poema-objeto e seus tão somente vinte versos?

A lista é extensa, mas impossível não citar os livros de viagem de Joseph Brodsky, Elias Canetti, Le Corbusier e Jean-Paul Sartre, narrando (mais que descrevendo) cidades fantásticas como Veneza, Marrakesh e Istambul.

E como ler, em pleno século 21 a maravilhosa “História do olho”, de Bataille, com o belíssimo ensaio de Cortazar, senão pela Cosac Naify?

Basta, basta.

Estou – talvez – apenas provando que não é má vontade contra a editora, aliás.

Então, “Moby Dick”, em nova tradução e edição moderninha? Nnnãã. Faço até e ainda o rumor de quem limpa os dentes com a língua, para horror do Senhor Charles. O livro ficou grande demais, grosso demais, as páginas de um branco excessivo, a gráfica mais adapta a qualquer outra coisa senão ao capitão de uma perna só, à voz de Ismael e às tatuagens de Queequeg.

Vou ficar mesmo – para horror dos entendidos – com a minha velha edição da Francisco Alves, com a sua capa fake, com a introdução de Lêdo Ivo, com a tradução de Berenice Xavier.

E, no mesmo dia em que rejeitei o Moby da Cosac, levei pra casa uma quinta modernista: Flannery O., na lombada, F. O’Connor, na capa.

Uma maravilha.

2 comentários:

Moacy Cirne disse...

Oi, cara, a edição da Francisco Alves, além da tradutora, tem o mesmo requinte da edição da José Olympio? Mas concordo com você e estou, inclusive, preparando uma leitura comparativa entre as duas. Um abraço.

midc disse...

olha, moacy, me lembro mui vagamente da edição da zé olympio - quase noutra encarnação - daí q nao posso dizer mais q isso.
sei q a chico alves anuncia a autorização especial da zé olympio - o q me faz supor q o conteúdo seja igual (além do já citado, tem uma etimologia meia chinfrim de uma página apenas e os fragmentos "fornecidos pelo sub-bibliotecário de um sub-bibliotecário).
no mais, aguardo a sua leitura comparativa, q, suponho, será publicada no balaio.
abraços sinceros,
mario ivo