sexta-feira, 9 de maio de 2008

UM DISCO: Band On The Run, Paul McCartney & Wings. 1973, EMI Records Ltd.





Primeiro, a capa, claro.

O bando, desarmado e acossado de McCartney contra um muro inglês sob os holofotes da polícia compõe, para dizer o mínimo, uma capa clássica.

Depois, o conteúdo. O que se ouve.

Nove músicas, cinco pro lado A, quatro pro lado B (e, ao ouvir novamente Band On The Run em CD, percebemos o quão pouco viramos o lado A).

Pra começo de conversa, a faixa-título, com suas variações de arranjo, que faz o ouvinte incauto de primeira audição pensar que são três músicas diferentes. Da melancolia beirando o psicodelismo e o estranhamento da abertura, passando pelo swing contagiante do intermezzo, até desembocar na balada fácil do trecho final, o verdadeiro corpo da musica, com o refrão em coro Band on the run, band on the run... Uma Balada sem John & Yoko, costurada por Paul, a senhora McCartney, Linda, e o guitarrista Denny Lane.

Jet vem logo depois. Passados trinta anos, poderia ter sido gravada ontem. Tem um pé na black music, outro na disco music, e as mãos no rock’n’roll. And Jetzzz... Bluebird é McCartney puro, com saudades não declaradas e não assumidas de Lennon. Mrs Vandebilt é uma senhora Robinson cínica, a resposta não menos cínica para a pergunta do ex-parceiro em How Do You Sleep. Let Me Roll It mantém uma pegada blues, pós-Let It Be, pós-Let It Bleed – se meu coração é uma roda, deixa girar até você.

Pausa pra virar o disco: diante da aura consagrada e sagrada e sacramentada de Lennon, McCartney sempre foi o chato de galocha. O caretão. Ávido por dólares. Com sua mulher loirinha, made in usa – em contraposição à artista made in japan do seu ex-cara-metade. O pecado de Paul foi nunca ter se considerado nem se vendido como gênio. Enquanto John se exilava, primeiro num bed in sem fim pelo mundo, depois na cozinha e no berço do edifício Dakota, em New York City, bad trip, Paul gravava um disco após o outro com os Wings (o casal McCartney mais Lane e um punhado de músicos estrategicamente convidados). Acusavam Paul de ser (aparentemente) fiel à Linda. Acusavam Linda de ser rica, loira e não tocar nada. Acusavam (para sermos corretos, Lennon acusou, na faixa citada, de Imagine) de só ter feito Yesterday – como se fosse pouco.

Besteira. Se vale alguma coisa, Paul foi preso ao menos duas vezes por posse e consumo de drogas, em 73 e 80; no final descobriu-se que Lennon era muito mais fiel à Yoko, que não era loira, nem pobre, mas que também não tocava nada – e que, justamente por isso, fosse pouco provável (no sentido que não se pode provar) ser mais ou menos inteligente que Linda.

O lado B começa com uma certeza: não se fazem mais músicas como Mamunia, e como fazem falta. No Words é Beatles, ou o que estariam fazendo se tivessem continuado. Picasso’s Last Words (Drink To Me) cita as últimas palavras do pintor espanhol antes de morrer: Bebam comigo, bebam à minha saúde, vocês sabem que eu não posso mais beber. Nineteen Hundred And Eighty Five ataca um piano fusion, flertando com a discotéque, elocubrações prog e delírios rock. É profético: Oh no one ever left alive in 1985... Ano em que não lançaria nenhum disco. Ainda bem que o velho Maca mandaria ver, dois anos antes, o ótimo Tug Of War, pau-a-pau com este Band On The Run.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pôrra! Desculpe-me o palavrão (acho que é porque me encontrei yesterday com o espírito libertário de Mr. Marcellus Bob no show de Mr. Raul)... Então, pôrra de novo! Esse é outro disco foda! Um dos emblemáticos de my life como esse Sweet pré-post Roberta Sá... Lembro que nossa manAna Célia trouxe o Band On The Run de Fortaleza junto com outros lps antológicos dos Doors, Santana, Alice Cooper e tantos que fizeram minha cabeça por tabela do quarto ao lado do nosso... Ainda hoje eu lembro: eu, criança, 10 anos, ano de 1974, no quarto dela, pirado com as mudanças da fixa título... Que viagem! Fiquei viciado nessa música. E depois no disco inteiro. Até hoje escuto e gosto muito. Já Tug Of War me lembra muito Délio, e aquela nossa fase oitentista no quarto-azul. Velhos tempos... Forever! Valeu de novo. Meus neurônios agradecem. Let Me Roll It!

Alex de Souza disse...

McCartney atravessou a década de 80 a remo e quase soçobra na de 90, mas ainda assim é o meu beatle favorito (todo mundo tem o seu, né não?). Fica uma dica, grande Ivo: sei que este espaço é de reminiscências, mas escute (se é que já não o fez) o Flaming Pie, da virada do milênio. Foi o disco que ele gravou durante os últimos meses de vida de Linda McCartney. Um esplendor. E marcou a retomada da carreira do rapaz, que não errou mais desse álbum em diante.

Abraços.