sexta-feira, 28 de novembro de 2008

fimdetarde


Discover Nitin Sawhney!


pausa do lavoro, work in progress, tabaco.

síndrome de abstinência | sétimo dia | as nuvens coloridas pelo sol poente




“Pois quem pode calcular o impacto e a repercussão de um incidente qualquer na vida de um sonhador?”

Charles Baudelaire > Torturas do ópio > O ópio > Os paraísos artificiais – Porto Alegre: L&PM Editores, Primavera de 1986

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

síndrome de abstinência | dia 6 | o esplendor inquietante




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acesse:
http://it.youtube.com/watch?v=hh8bCLDKKYY&feature=related]



“Por que não diminuir a dose de uma gota por dia, ou atenuar seu poder adicionando água? Calculou que seriam necessários vários anos para obter por esse meio uma vitória incerta. Aliás, todos os amadores de ópio sabem que, antes que se atinja um certo grau, sempre se pode reduzir a dose sem dificuldades, e até mesmo com prazer, mas que, uma vez ultrapassada essa dose, toda redução causa dores intensas.”

Charles Baudelaire > Torturas do ópio > O ópio > Os paraísos artificiais – Porto Alegre: L&PM Editores, Primavera de 1986

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Alto-falante


Pra Claudinha, que achou triste e desnecessário o último vídeo:


Discover Talking Heads!


Ouça bem alto. Shake-it-up dream!








síndrome de abstinência | dia 5 | a impotência para escapar ao suplício


“Assim, a coisa está clara; aliás, ele nos suplica que acreditemos nele: quando começou a tomar ópio todos os dias, havia uma urgência, uma necessidade, uma fatalidade; viver de outra maneira era então impossível.”


Charles Baudelaire > Torturas do ópio > O ópio > Os paraísos artificiais – Porto Alegre: L&PM Editores, Primavera de 1986

terça-feira, 25 de novembro de 2008

síndrome de abstinência | dia 4 | a obscuridade do terremoto e do eclipse



“E depois, serão assim tão numerosos, os bravos que sabem afrontar pacientemente, com uma energia renovada de minuto em minuto, a dor, a tortura, sempre presente, que não se cansa, em vista de um benefício vago e longínquo?”

Charles Baudelaire > Torturas do ópio > O ópio > Os paraísos artificiais – Porto Alegre: L&PM Editores, Primavera de 1986

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

síndrome de abstinência | dia 3 | o inverno enfurecendo-se na montanha




“Uma bela habitação não torna o inverno mais poético, e o inverno não aumenta a poesia da habitação?”


Charles Baudelaire > Torturas do ópio > O ópio > Os paraísos artificiais – Porto Alegre: L&PM Editores, Primavera de 1986

domingo, 23 de novembro de 2008

Ler / Escrever









[Vivian Wu em The pillow book de Peter Greenway, 1996]

Proficiência dos domingos





Experimente passar um domingo em casa. Sem tirar os pés do chão do apartamento – se você mora em apartamento – ou do chão da casa – se você mora em casa. Mora já nas nuvens? Ah, meu irmão, então vai te fuder.

Experimente passar um domingo em casa. Sem botar o nariz fora da janela, nem a pontinha – se você tem narizinho – ou a pontona – se você é um clone do Cyrano de Bergerac.

Experimente passar o domingo em casa, sem falar com ninguém. Despache todo mundo, a mulher, ou o marido, os filhos, dê folga pra empregada e um sonífero pro cão amarrado, bem amarradinho, no fundo do quintal.

Tire a TV da tomada. O liquidificador da tomada. A torradeira de pão da tomada. Não desligue a geladeira, porque, sem a ligação com a tomada a bicha não gela nem faz o essencial para um domingão em solitário: cubos de gelo. Cubos de gelo em profusão.

Mas de nada serve água congelada em forminhas plásticas se o distinto senhor ou senhora disposto, disposta, a atravessar a aridez do santo dia qual eremita no deserto não dispor de uma boa garrafa de um uísque com vergonha no rótulo – um doze anos, pra começar.

Esqueça o macluhanismo e meta a mão no que tiver ao alcance da sua: vitrola portátil, garrard, cd player, stereo sound system, ipod, mp3, mp4, cinco, seis, trinta e um alerta lá vou eu – aqui o negócio não é mensagem enquanto meio nem versa e vice.

Aqui o negócio, o lance, a coisa, palavrinha mágica, é Kind of blue. Não é pra começar, nem pra terminar, nem pra início de conversa nem de papo que a ordem – falei, derna o início – é silêncio de cordas vocais, de amígdalas, faringe, traquéia, diafragma, caralho a quatro. Então, o disco, bolacha, compact, eme-pê, long play, long tall sally metafórico é esse mesmo: Kind of blue. Columbia records, 1959.

Trompete, sax alto, sax tenor, piano, baixo e bateria numa briga coreográfica, balé aritmético, dança dos cinco elementos, preciso, exato, pleno de imperfeições perfeitas. Parece um brinquedo Lego: tudo se encaixa. Quando menos se espera, você montou um aeroplano de duas hélices, uma moto de não sei quantas cilindradas, um microscópio ou um astrolábio. Só de ouvido, sem tocar nas peças – e que peças: Miles Davis, John Coltrane, Jimmy Cobb, Cannonball Adderley, Wynton Kelly, Paul Chambers e Bill Evans – que comparou as improvisações da turma à disciplina dos calígrafos japoneses (cuja arte ele associou à “disciplina” e a uma certa “espontaneidade forçada”).

Posto o som para tocar, arrume uma cadeira confortável e de preferência discretamente reclinável e uma janela onde você se colocará diante pra se sentir... adiante.

Além.

Muito além.

Experimente passar o domingo além.



[Imagem do filme de Peter Greenway, The pillow book, 1996]

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

anos a fio



[Gustave Doré, Inferno, 1857 circa]



O teu demônio me segue
anos a fio
ele tece flores para mim
divide meu corpo em partes
Ele me culpa
acena feliz por trás das labaredas
dança ao meu redor
cresce como uma planta
eu aparo suas bordas seu rabo seus chifres
O teu demônio me encanta
como um retrato antigo amarelado
uma xícara de louça no mercado
O teu demônio me espanta
canta para mim todas as noites
me arde me explora me atormenta
O hálito quente sobre a minha boca
a febre sempre
O teu demônio vai embora hoje
ou fujo dentro dele a galope
eu vivo dentro dele feito um passarinho
feito uma coisa miúda enorme pobre
dilatada como um crucifixo
dura como uma esmeralda
Me esmero e espero
um dia me chamo Laura
tu me abocanhas os peitos
eu te abocanho a alma


[Iracema Macedo, O TEU DEMÔNIO, in Lance de dardos. Rio de Janeiro: Edições Estúdio 53, 2000]

desde o início




[Ouka Lele, Autorretrato (herida como la niebla por el sol), 1987]



Eu só acreditava em Drummond:
O amor chega tarde
Não conhecia o amor que fulgura sem aviso
esse que se sabe proibido
o amor que já se sabe perdido desde o início
Eu não acreditava no impossível
vinha tão sóbria, tão cheia de medidas
não conhecia o esplendor da queda
nem a violência dos abismos


[Iracema Macedo, DANDARA, in Lance de dardos. Rio de Janeiro: Edições Estúdio 53, 2000]



thanx



AGRADECIMENTO A todas e todos que compareceram à Siciliano dia 19 passado, e, por que não, a quem também não compareceu e nem por isso se fez menos presente.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Femme fatale [191108]



[Retrato de Jeanloup Sieff]

Zanzando na net, dou com os costados em Nico, nascida Christa Päfffgen, Colônia, Alemanha, 16 de outubro de 1938.


Foi uma de minhas paixões juvenis. E, como toda paixão juvenil, obviamente não correspondida. Independente da distância e da contemporaneidade.


Aliás, volto atrás: paixão amplamente correspondida, que paixão nem sempre pressupõe resposta. E Nico correspondia, creio eu, aos sonhos, desejos, devaneios, de um porrilhão de gente espalhada pelo mundo – a começar pela sua imagem, exótica, misteriosa, de uma beleza, pra dizer o mínimo, “diferente”.


A carreira de modelo foi o início, ainda na década de 50, posando para fotos de moda e para as capas de revistas européias – Jardin des Modes, Jours de France, Elle, Der Stern – e americanas – Esquire –, mais uma dúzia de capas de LPs (entre elas, “Moon beams”, do Bill Evans Trio).


Em 1959, Federico Fellini a encontra flanando por Roma e a convida para o mais-que-perfeito retrato da vida boêmia e bon-vivant de então, supra-sumo da decadência com muita elegância: “A doce vida”.


Papel secundário, mas, num mutirão de mulheres bonitas – que incluía Anouk Aimée, Anita Ekberg, Laura Betti, Yvonne Forneaux –, nenhum papel pode ser secundário.


Na edição brasileira do livro, seu nome está lá, como Nico Otzak, e sua personagem, sem nome, descrita apenas como “Garota sofisticada da Via Veneto”.


Todo mundo conhece a história de “A doce vida”. Se não conhece, deveria conhecer. A começar pela seqüência inicial, um helicóptero carregando uma estátua de Jesus Cristo e sobrevoando os telhados de Roma e do Vaticano, e, claro, a clássica cena da Fontana di Trevi, com Marcello Mastroianni e Anita Ekberg.


Mas, já que eu não estou aqui para trair Nico com Anita, vamos voltar ao que interessa: dos braços de Fellini, Nico cai nos braços de Andy Warhol e comparece, com caras, bocas e tudo mais de direito na composição do Velvet Underground, cult entre os cults, ao lado de Lou Reed e John Cale.


Isso, em New York City – mas antes a moça já percorria a Swingin’ London (onde se relacionou com Brian Jones, dos Stones, e Jimmy Page, então nos Yardbirds) e Paris (onde teve um filho com Alain Delon, e conheceu Bob Dylan, que lhe dedicou uma música no álbum “Blonde on blonde”).


Dona de uma voz grave, quase máscula, Nico cantava em inglês com um forte sotaque alemão. Depois do Velvet, gravou uma dezena de discos, onde abusava dos teclados, mas sempre de um modo experimental. Tenho um LP duplo pra lá de precioso: “Behind the iron curtain” (com uma abertura gutural de “All saints night from a polish motorway” de arrepiar, mais as versões de “The end”, do Doors, “Femme fatale”, do Velvet e a atemporal “My funny Valentine”).


Gravado ao vivo, o duplo vinil foi comprado pelo sobrescrito na Espanha, poucos meses antes de saber a notícia: passeando de bicicleta em Ibiza, onde morava, Nico morreu. Tão perto, tão longe.

Passaram vinte anos e eu continuo vivo.






Discover Nico!


PROSA
“As batidas do coração em nossos peitos – ardentes e ávidos de nudez – não sossegavam.”
Bataille
História do olho
VERSO
“Ah, o todo se dignifica quando a vida é líquida.”
Hilda Hilst
“Alcoólicas”

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Coisa feia é ser lobista [131108]





Ainda mais em causa própria.

Mas, não posso evitar – existem outras pessoas envolvidas etc. Explico melhor o mistério: daqui a mais ou menos uma semana, próxima quarta, o sobrescrito lança livro.

Ufa. Trinta e seis palavras e 218 caracteres incluindo espaços nos parágrafos acima, mais o título – e foi como parir uma montanha.

Mas é verdade: não sei o que me incomoda mais, se é ir à noite de autógrafos ou ter de fazer auto-propaganda neste espaço.

Mas tem a editora, a brava Flor do Sal, de Flávia Assaf e Adriano de Sousa, e, claro, tem as telas de Isaías Ribeiro, reproduzidas entre as páginas e que servirão para descansar os olhos do leitor no mar de letras.

O nome do livro? “Cartas náuticas”. Sobre o que é? Já tenho ensaiado na ponta da língua: “mini-romance epistolar, prosa poética, ficção etc. etc.”

Vou fazer um esforço enorme para não faltar – aliás, faltou aqui o onde e o quando: na Siciliano do Midway, 19 de novembro do ano da graça de 2008, a partir da décima-nona hora (uma hora depois do Ângelus, pois).

Como não vou ter tempo de convidar um por um, os muitos amigos espalhados por cá e lá que desejarem vir, sintam-se convidados, mas nem por isso obrigados a comprar o dito cujo. Os leitores deste jornal e coluna, idem. Como não é nenhum catatau, dá pra folhear antes e ter uma idéia rápida se o negócio vale a pena ou não. Não gostando, acenem, caso eu os veja, apontem pro relógio de pulso, fazendo o sinal de “depois, depois” e peguem o beco. Juro que vou entender, com tantos lançamentos às margens deste Ryo Grande. Aproveito pra pedir perdão às árvores abatidas pra publicar mais esse objeto, quase sempre atendendo o desejo ególatra do autor e quase nunca o do leitor.

Bom, e antes que vocês desistam de vez de ir, a última confissão: é claro, claro, que ficarei feliz quão pinto em beira de cerca se não faltar ninguém e o negócio vender mais que Paulo Coelho. Então, aproveitem pra levar aquela tia esclerosada prum passeio no shopping antes que dezembro superlote tudo.

E não se fala mais nisso.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

sábado, 8 de novembro de 2008

índigo




Dalton Trevisan: “O amor é uma corruíra no jardim – de repente ela canta e muda toda a paisagem.”

Meteo msn: “... a influência ainda é de uma forte massa de ar quente e seco. Por conta disso o sol brilha forte, faz muito calor, a umidade fica baixa e não chove.”

Meteo uol: “poucas nuvens” e “Sol, alternando com pancadas de chuva e possíveis trovoadas.”


Versão: “O sábado continua ensolarado.”



sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Mormaço






Me deixou esperando na soleira. Sem sombra. Pedra brilhante. Toquei a campainha três vezes, feito o galo de Pedro, noite do suplício. Fingiu que não escutou. A campainha está com problemas, ah, é, rapariga. Problemas vai ter você agora, a partir de hoje. Inda pensei em ligar, mas não liguei. Antes da quarta, a empregada surgiu no fundo do jardim, tava aguando as plantas. A campainha está com problemas, repetiu, desculpa. Tem de quê, não. Faço riso sério, abro o jornal do dia, quase intacto. Cruzo as pernas. Aprumo os óculos no meio da venta. Cara de mau. Celular desligado. Quero ninguém perturbando nosso encontro. Me mostrará hoje a caixinha chinesa? Sei. Desconfio, não. Chega minuto depois. Trouxe a chave, molhe de. Se atrapalha diante da bolsa aberta, couro cru e macio. Pintou os cabelos. Graúna. Passou por mim, e, boa tarde. Boa. Voltou, mais um minuto. Fechei o jornal, desdobrei as pernas, me indicou a porta aberta. Eu falei, eu tinha que falar, puta sol lá fora. Não quero trazê-lo pra cá dentro. O que eu quero dizer com isso, o que significa exatamente isso – assim, que não quero ficar sob sol. O ar condicionado no mínimo, deitei na cama, ela, ao lado. O quimono japonês fez a clássica dobra, entreviu o seio, a curva do. Um tufo de pelos caiu pela testa, espanou o nariz, ela pôs o dedinho na boca, outro percorreu meu peito. A caixinha, quase dizia, não disse. Que é isso do sol, perguntou. Muito sol, falei. Dói, ficar lá com os outros, todos se equilibrando no fio de poste derramado no chão. Me diz, quer dizer que está prestes a explodir, não falei isso, nada de combustão. Ela se levanta, some pelo quarto, sua voz caminha em pontos distantes, vejo apenas a estante de livros, lombadas em horizontes decrescentes. Agora, a voz às minhas costas, no alto da cabeça, os dedos percorrem os fios de cabelo, um após o outro, como a tecer coroas. Estou aborrecido comigo mesmo, falei, mais pensando na caixinha chinesa. Dessa vez foram as mãos a massagear o corpo inerte de cima abaixo, o quimono abrindo-se como leque, um calor de demônios derramando-se, uma boca tão fria, tão úmida, vulva fria e úmida e abissal por breves instantes. Não. Não quero que me toque, falou, levando o dedo ao lábio, como se uma coisa significasse silêncio e não outra. Planejamos tantas coisas, eu disse, vem sempre algo e cruza o caminho e nos desvia a rota. Como um gato, um cão, que atravessasse a frente do automóvel, perguntou, isso, isso, respondi. Um cão. Um gato. É um breve desvio de rota, altercação de bússola, mas o destino, mesmo vizinho, é tão distante. Gesticulei. Em algum ponto da conversa, não lembro o que dizia, gesticulei, como possuído. Boca seca, tosse miúda, uma preguiça mole arrodeando os músculos. Agora era o quimono que desfalecia no soalho de madeira, palco de tacos desfilando em tardes de verão. Hora líquida, de suores, salivas, espermas, fluidos vaginais. Cadê a caixinha, a pergunta só na memória embotada, sem eco o silêncio, gemido abafado. A boca que sorria emergindo na sombra do quarto. Dorme um pouco, sussurrou, ainda resta um quarto de hora. Então, sonhei. Que a outra moça chorava, retirando as bagagens do automóvel estacionado. Nem me perguntou como eu estava, como eu senti o suceder de mortes, ela disse, entre choros contidos e corpo em defesa. Com fúria a minha resposta, não, não perguntei, nem você, da semana passada, dos dias no deserto. Ela gemeu, e voltei a colocar a bagagem no interior da máquina. Depois, nos alpendres abertos, vento percorrendo tendas, refrigerando a tarde, ela se colocou bem próxima aos animais, todos doentes, lázaros em chamas calmas, alheia, como sempre, a tudo e em especial a mim. Tinha nas mãos um rato. De pêlo hirto e nariz cômico, rabo descarnado, ele abriu a boca e lhe engoliu quase toda a face, como em beijo canibalesco. E ela se entregou à carícia medonha, sem pudor, toda aberta e entregue a uma felicidade exótica, mundo vasto onde só cabia ela e seus temores, cada um deles domesticado, cada um deles prestes a morrer eternamente. E eu me virei e fui embora e deixei o alpendre e tendas ao vento pra trás, até que fosse apenas um ponto, minúsculo ponto no deserto, até que despertei, outra voz me chamando, seu tempo acabou, é hora de ir embora. Então, me vesti, deixei o dinheiro amassado sobre a mesa, globo de vidro, apertei sua mão. No salotinho escuro, percebi a sombra de outro homem na poltrona estreita, apenas as mãos, os sapatos de verniz escuro e lustroso, um anel vermelho no dedo, lenço branco ao peito magro. Seria ele, não eu, a assistir a abertura da caixa. Quanto a mim, restava a tarde com mil sóis e o hálito quente do exílio.
No salotinho escuro, percebi a sombra de outro homem na poltrona estreita, apenas as mãos, os sapatos de verniz escuro e lustroso, um anel vermelho no dedo, lenço branco ao peito magro. Seria ele, não eu, a assistir a abertura da caixa. Quanto a mim, restava a tarde com mil sóis e o hálito quente do exílio.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008