[Retrato de Jeanloup Sieff]
Zanzando na net, dou com os costados em Nico, nascida Christa Päfffgen, Colônia, Alemanha, 16 de outubro de 1938.
Foi uma de minhas paixões juvenis. E, como toda paixão juvenil, obviamente não correspondida. Independente da distância e da contemporaneidade.
Aliás, volto atrás: paixão amplamente correspondida, que paixão nem sempre pressupõe resposta. E Nico correspondia, creio eu, aos sonhos, desejos, devaneios, de um porrilhão de gente espalhada pelo mundo – a começar pela sua imagem, exótica, misteriosa, de uma beleza, pra dizer o mínimo, “diferente”.
A carreira de modelo foi o início, ainda na década de 50, posando para fotos de moda e para as capas de revistas européias – Jardin des Modes, Jours de France, Elle, Der Stern – e americanas – Esquire –, mais uma dúzia de capas de LPs (entre elas, “Moon beams”, do Bill Evans Trio).
Em 1959, Federico Fellini a encontra flanando por Roma e a convida para o mais-que-perfeito retrato da vida boêmia e bon-vivant de então, supra-sumo da decadência com muita elegância: “A doce vida”.
Papel secundário, mas, num mutirão de mulheres bonitas – que incluía Anouk Aimée, Anita Ekberg, Laura Betti, Yvonne Forneaux –, nenhum papel pode ser secundário.
Na edição brasileira do livro, seu nome está lá, como Nico Otzak, e sua personagem, sem nome, descrita apenas como “Garota sofisticada da Via Veneto”.
Todo mundo conhece a história de “A doce vida”. Se não conhece, deveria conhecer. A começar pela seqüência inicial, um helicóptero carregando uma estátua de Jesus Cristo e sobrevoando os telhados de Roma e do Vaticano, e, claro, a clássica cena da Fontana di Trevi, com Marcello Mastroianni e Anita Ekberg.
Mas, já que eu não estou aqui para trair Nico com Anita, vamos voltar ao que interessa: dos braços de Fellini, Nico cai nos braços de Andy Warhol e comparece, com caras, bocas e tudo mais de direito na composição do Velvet Underground, cult entre os cults, ao lado de Lou Reed e John Cale.
Isso, em New York City – mas antes a moça já percorria a Swingin’ London (onde se relacionou com Brian Jones, dos Stones, e Jimmy Page, então nos Yardbirds) e Paris (onde teve um filho com Alain Delon, e conheceu Bob Dylan, que lhe dedicou uma música no álbum “Blonde on blonde”).
Dona de uma voz grave, quase máscula, Nico cantava em inglês com um forte sotaque alemão. Depois do Velvet, gravou uma dezena de discos, onde abusava dos teclados, mas sempre de um modo experimental. Tenho um LP duplo pra lá de precioso: “Behind the iron curtain” (com uma abertura gutural de “All saints night from a polish motorway” de arrepiar, mais as versões de “The end”, do Doors, “Femme fatale”, do Velvet e a atemporal “My funny Valentine”).
Gravado ao vivo, o duplo vinil foi comprado pelo sobrescrito na Espanha, poucos meses antes de saber a notícia: passeando de bicicleta em Ibiza, onde morava, Nico morreu. Tão perto, tão longe.
Passaram vinte anos e eu continuo vivo.
Discover Nico!
PROSA
“As batidas do coração em nossos peitos – ardentes e ávidos de nudez – não sossegavam.”
Bataille
História do olho
VERSO
“Ah, o todo se dignifica quando a vida é líquida.”
Hilda Hilst
“Alcoólicas”
“As batidas do coração em nossos peitos – ardentes e ávidos de nudez – não sossegavam.”
Bataille
História do olho
VERSO
“Ah, o todo se dignifica quando a vida é líquida.”
Hilda Hilst
“Alcoólicas”
2 comentários:
Nico, Vico, Tico-Tico... E sucesso, hoje, pelo livro a ser lançado. Mas no próximo sábado estarei em Natal. Nos veremos, certamente...
puta coincidência! tava escutando essa musica quando lia o texto, não essa versão (que eu nao conhecia), mas a de Chet Baker. Lindas! a musica, a musa e as suas palavras.
bjoca
Carrie B.
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