[delacroix, 1850]
descalço, o pé encontra a nudez de outro, se enrodilham, feito bico de passarinho mergulhando em plumagem quente, se enrolam, como o vento varrendo outonos para debaixo das copas, se aninham, se perseguem, se sombreiam, se querem, sem motivo algum a não ser o querer puro, sobe um arrepio mínimo, mudo, mouco, na linha crescente da maciez das peles, tendão de aquiles, batata, coxa, o encaixe se aperfeiçoa à altura dos rins, encontra abrigo, mergulha infinito o corpo erétil entre convexos, tão diferentes, com a mão direita toca o direito, com a esquerda o esquerdo, são iguais, o peito afasta-se por um instante para deitar um beijo morno na omoplata, brota um silêncio de ruídos no vácuo que se forma, por um instante, um só momento, enquanto os dedos se estendem, dilatam, multiplicam entre a raiz dos cabelos.
– em sístole.
– em diástole.
4 comentários:
e tem motivo melhor que o querer puro? belo texto.
Caro, o texto é belo (por mais repetitivo que isso lhe pareça). Quanto ao querer puro, parece-me tão incondicional que assusta.
Que beleza!
acredito que foi o intercurso sexual mais bonito que eu li- gosto da sua delicadeza. li os textos abaixo, belos tb: Alice...
Parabéns.
Apareça mais lá.
Abs, Laura
como diriam os doutos na crítica literária: ducaráleo.
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