terça-feira, 20 de novembro de 2007

História do olho, segundo Dalton Trevisan


[Milo Manara]


Às três da tarde, aperto a campainha do teu apê.
Trago uma colega. Tem 17 aninhos. Uniforme de normalista, como você pediu. Mais: corpinho de curvas, seio de maçã, bundinha arrebitada.

[...]

Qual cuzinho você quer comer? Os dois, você diz.
Estou louca para te dar o rabinho. Ó minha gruta secreta entre dunas movediças. Fico tão cadelinha, piranha, rampeira. Ai, é bom demais. Ó meu mimoso cravo violeta.
O Rei dos Hunos ronda, acha, pede passagem. Violento e gentil. Ai, dor. Oh, delícia. O alfanje é recebido na bainha sob medida.
Que se escancarem os portais do templo das musas calipigías. Quando sinto a cabecinha entrando quero uivar. Sim. Bem putinha puta putona. Eu sou. Sim.
Cuidado, amor. Que dói. Devagarinho.
Ah, é? Pronto, lá vem você com toda a força. Sem piedade. O aríete impávido colosso arremete rompe marra tudo pela frente.
Que vagarinho. Sua viada. Pô, é pra doer. Geme. Assim. Chora. Mais. Já tiro sangue, orra.
Minha alma dá gritos de alegria. Você me racha pelo meio. Eu me abro em duas metades perfeitas.
Agora é a vez da noivinha. Com o teu cedro do Líbano bem dentro do meu pobre cuzinho, ela dedilha o meu botãozinho em chamas.
De tanto gosto, os grandes lábios batem palmas.
Frenéticos, piscam os pequenos e me mordem.
O cuzinho lambe os beiços e delira de boquinha aberta.
Ai, o coração latindo no peito e ganindo no meio das coxas.
Você não espera mais e explode o meu rabinho. Já não tenho cabeça mão perna.
Sem consciência.
Sou puro gozo. Só gemido êxtase epifania levitação.
Duas asas tatalantes da borboleta trespassada na múltipla agonia. A minha alma aos uivos subindo num repuxo fervente de porra. E o teu Exército com Bandeiras ocupa toda a cidadela arrombada.
E eu? Choraminga a noiva esquecida. E eu? O outro cuzinho fica para outro dia, você diz.


[Dalton Trevisan, “Duas normalistas” in Rita Ritinha Ritona. Rio de Janeiro: Record, 2005]

2 comentários:

Anônimo disse...

adoro dalton trevisan.

Anônimo disse...

midc
Ainda bem que lhe baixou de novo o bom senso e você retornou, a tempo, ao delicado e prazeroso “estudo do olho” – para deleite dos inúmeros leitores, sobretudo leitoras, deste blog
f a n t a s t i c.
Em tempos de indelicadeza, a discussão de tema tão instrutivo passa a ser uma urgência, com interesse de utilidade pública.
Afinal de contas “rachar alguém ao meio, em duas metades perfeitas” é assunto para expert ou para o vampiro de Curitiba.
Uma amiga sempre me disse –
e n t r e r i s i n h o s - que a empreitada é mesmo coisa pra especialista. E ainda adiantava: é preciso se exigir talento, e estilo, especialmente. Senão vira arroubamento (a grafia é exatamente esta) de brutamontes, apegados não à técnica refinada e única, mas tão somente à abominável “bruta flor do querer, ó bruta flor, bruta flor!”
Quem já provou do mel e do fel sabe que é matéria de alta precisão, que requer habilidades do homo erectus para essas rodas de saberes e fazeres.
Não é preciso todavia maiores conhecimentos de botânica, mas, pra domar a flor e suas pétalas e pistilos e esfíncteres, além de calma e jeito e às vezes cuspe, é indispensável ser agudo, pontiagudo, com total domínio da madeira.
Cabe aqui ficar de olho no que vem de lá - o bicho - sua deslocação vetorial, sua mecânica estática e cinética, cubando-lhe os traços, como, tamanho (uaaauuu!), peso, limites, frente&perfil, capacidade de soerguer o corpo a cabeça, dureza, e condição de penetração (sine qua non). Pura física!
Há que ter argúcia e sutileza nesses abrimentos. A mesma amiga chegava a falar em “guerra de guerrilhas” (retrato fiel, né?), coisa como, devagar e sempre, bota-e-tira, ou, avançar um palmo (é demais, não?), digo, enterrar uma polegada e desenterrar meia... cada caso é um caso – deixa pra lá – mas, sempre avançando, guarde isso!
Não foi em vão que o guerrillero-jefe, entre uma nebulização e outra na selva boliviana, eternizou: “Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás”. Veja o que é um mestre: me trouxe para o olvidado campo do afeto. Também o tinha esquecido. Concordo, o carinho bem dosado, bem como o gel lubrificante, o cuspe ou a velha pomadinha japonesa, é um elemento facilitador.
Se me permite contrariar o guerrilheiro, com a larga experiência de fêmea: às vezes não quero ternura, quero só coisa dura, bruta, ‘sem piedade’, ‘impávido colosso’, e aí, não há como não ser rude no trato ou procedimento.
Afinal trata-se de um feroz embate botânico entre a madeira e a flor. ( Recuso-me a chamar pau,,,isso só no H da hora...e nunca quando escrevo!).
Mas adoro cantar, uma flor é uma flor é uma flor...
E é uma arte!!!