terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Conto de Natal


18 anos


Véspera de Natal, antes da missa das oito, pediu emprestado o carro do pai. Prometeu que voltaria em tempo de acompanhar a família. Após a liturgia a ceia seria na casa dos tios e primos. Peru, filé, arroz com passas e uma torta coberta com fios de ovos na sobremesa. Apostaria neste menu, uma certeza nascida da experiência de tantos e tão poucos anos. Antes do ano-novo a maioridade lhe abriria as portas para um futuro no mínimo assustador: universidade, trabalho, responsabilidades.

Agora, na rua deserta de horas crepusculares, a namorada abria o seu presente – um perfume d’O Boticário – e ele abria o dela – uma camiseta esportiva sem marca. A namorada usava batom, era um palmo mais alta que ele, e tinha seios grandes, bem maiores que a palma de sua mão ansiosa e inexperiente. O batom era grudento, seus lábios ficavam exageradamente pegajosos, mas o pior era a dor aguda que lhe castigava os testículos durante esses encontros.

Tinha cílios grandes, a namorada.

Piscavam. Sorriam. Doces como mel.

Tinha seios grandes, a namorada.

Durinhos. Alegres. Doces como mel.

Ele já estava cansado daquela dor que lhe atravessava os ovos. Puto. Puta. Arrancou sem pensar a saia da namorada. Quando rasgou a calcinha, já pensava no que viria na seqüência – os pelos negros, os lábios sem batom.

Antes da missa das oito teria que devolver o carro ao pai. Acompanhar a família. O arroz com passas, o peru, o filé, os primos e tios esperavam por eles. Os fios de ovos. Bateu a porta do carro com força, a namorada restou desconsolada na calçada. Por um instante pareceu-lhe que suas coxas estavam cobertas de fios, fios de ovos.

Na missa, acompanhou a mãe na comunhão, a hóstia consagrando a véspera de sua maioridade.

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