sábado, 1 de setembro de 2007

Findou agosto e não vi nenhuma pitangueira florando


Findou agosto e não vi nenhuma pitangueira florando.

Deus queira que setembro me apresente pitangas rubras.

Tive um dia uma pitangueira, noutra casa, noutro sítio, noutra lonjura.

Nem eram minhas casa, terra e distância – e, portanto, tampouco a pitangueira. A quem encontrei já crescida, um eu e meio de altura.

Mas cuidei-a com tal esmero e carinho, com tal zelo e gosto, que a bichinha florava não só nos desgostos de agosto, mas nos desgostos do ano inteiro.

E seu sumo encarnado, filete de corpo líquido, me escorria do canto dos lábios, atraindo a ponta da língua numa vertigem doce.

Em redor de seu tronco tramelado construí uma serpente de paralelepípedos enrodilhados. Aqui e ali a grama brotando de propositadamente.

Como uma serpente regurgitando a si mesminha.

De costas para o poente, um bebedoiro. Para os cães, para a matilha, para os passarinhos de asas céleres e bicos musicais.

A qualquer hora do dia, nas mais quentes, nas mais frescas, se me deixava podá-la. Como se brisa fosse a lâmina afiada.

Tenho uma pitangueira cá onde vivo agora.

Mas não é aquela.

E, claro, nem mesmo eu.

2 comentários:

Moacy Cirne disse...

Nem eu, cara, nem eu... Ah, sim, gostei dos seus títulos que você levaria para uma ilha deserta. Decerto, eu também não levaria propriamente os "melhores", embora só levasse grandes obras. Como você. Aliás, revi há pouco, mais auma vez, Era uma vez no oeste. Que filmaço, hem? E o que dizer de todo o início? Cinema puro!

midc disse...

era uma vez... era uma vez... uma vida sem histórias não vale a pena, já dizia uma persona de Wenders... cê acredita q recentemente, convidado q fui a dar uma oficina de dramaturgia, levei p sala 2 exemplos de como o teatro nunca poderia simular o cinema, e um deles foi a seqüência de abertura de eraumavez no oeste? medi o tempo: são dez minutos até sair o último título de abertura, uma edição feita de ruídos, detalhes, planos e silêncios – coisa impensável no cinemão pipoca de hoje, esquizofrênico dos tais surrounds... o outro exemplo foi justamente o Bergman-persona, Liv e Bibi, uma ouve, a outra fala, e se repete, coincidentemente, dez minutos também.
e pros ledores deste diálogo não ficarem boiando, a lista a q se refere moacy é um comentário a um seu post de hoje, 1º sabbath do mês...