terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Jingle Bell


Nunca o Natal me pareceu tão longe.

Enquanto perto.

Chegou dezembro e me parece que ainda estou em novembro, longe de acompanhar Alceu: “tenho dezembro e tenho janeiro e se não me engano tenho fevereiro se essa vida é um desmantelo me mate que eu estou muito vivo vivo”.

Chegou dezembro e não vejo a profusão esperada de luzes e rebuliço nas ruas. Ou serei eu que mal saio a elas porque não desejo buscar nem encontrar nada nem ninguéns.

Chegou dezembro e o Natal bate às portas que nem sino. Na matriz. Em Belém. Mas eu não ouço. Ou será porque eles não dobram por mim, que não amarro as alpercatas de Hemingway nem mergulho no rio com as pedras de Woolf.

No duro mesmo, me incomoda estar aqui, falando na primeira pessoa desse singular tão banal cotidiano comum.

No duro mesmo é porque o Natal deste ano me parece uma festa sem sabor, sem cheiro, sem papel de presente a ser rasgado com o prazer que só as melhores surpresas guardam – e aguardam.

Como se uma despedida indesejada projetasse sua sombra sobre a árvore de Natal que não montei, sobre o presépio que não construí, sobre as ruas de uma cidade que não mais verei – porque mudou a cidade e mudei eu, a cada dia, mês, ano, mais longe, distante daquele menino que ia ao centro da cidadezinha encantada apenas para ver as luzes tímidas, apenas para dar a mão ao pai, à mãe, e sentir-se alguém entre eles.


3 comentários:

tete bezerra disse...

mario ivo gostei desse texto,até que gosto da imagem do velhinho de barbas brancas,a gente cresce e fica tão blasé,não quero que o natal se torne uma data comum,a aura natalina deve que permanecer....

Moacy Cirne disse...

Belo texto, meu caro. Para mim, na primeira metade dos 60, pensar o Natal em Natal tinha algo de mágico... Um abraço.

Anônimo disse...

é que o tal do blog tem um quê de sacristia, onde quando criança costumávamos - enquanto ainda restava algo de metafísico nas nossas crenças - confessar os pecados e as desilusões. deve de ser isso.