segunda-feira, 3 de setembro de 2007

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Um mês de blog.
Não, não parece que foi ontem.
Às vezes cansa.
Stendhal – ou qualquer outra celebridade literária, não me façam procurar no gúgol – dizia que pretendia apenas cem leitores.
É mais ou menos o que eu amealhei nesses trinta dias.
Meados da quinzena, me chega um email, desses, que nos fazem cafuné nas costelas, gaiolinha de ossos do coração.
O autor dispensa apresentações, poeta de muitas poesias e dois livros minimamente recomendáveis, fáceis de encontrar nas boas casas do ramo, como se diz.
Guardei o email com carinho, esperando este natalício. Salvei-o, como se diz em linguagem náutica – ou foi ele quem me fisgou. Com um ledor como este – e vocês, noventa e nove em ação – quem precisa de outros novecentos?

“Meu caro Mário,
Nessa de navegar ‘em demanda de portos inexistentes’, dei com os costados na cidade dos reis, sítio site lugar de muitas palavras, muita conversa, veredas de terra e água, onde se chega onde se sai num vapt-mouse-vupt. O pastorador do pedaço - intendente, alcaide, dono, blogueiro, que nome tenha –, atende pelo apodo de midc, que muito estranho seria se não estivéssemos em tempos de agora. Ademais deu pra intuir logo na primeira ronda que ‘tiras, vigaristas e ricaços’, ao contrário de todas as cidades, aqui não mandam - como pensava Hammett.

Numa sentada saí vendo tudo, pois nem é preciso caminhar para se chegar ao café majestic, à confeitaria atheneu, à cova da onça, sorveteria cruzeiro, cine rio grande, politeama, vox discos e à livraria cosmopolita. Não digo que seja um passeio rápido, é uma viagem mesmo, sobretudo se se quiser como eu ver os detalhes desses lugares tantos, suas linhas e entrelinhas, sua arquitetura que faz bem aos olhos.

O que lá vi escrito segue as linhas do que se vive hoje. Bate com o mundo presente. Os ritmos, o compasso, os anseios, as escolhas estéticas, o pensamento agudo, o lirismo subjacente, a atualidade das curvas de Niemeyer, a inteligência inaugural, o verbo sem estrago. Seria isso a modernidade? Que seja!

Walflan de Queiroz, o ‘poeta maldito’, em companhia do grande Newton Navarro faz qualquer sensibilidade pedir um genuflexório para se sentir mais à vontade. O galo, os peixes, marinheiros e barcos de Newton são maiores do que todas as pontes e, quase ninguém, hoje, sabe deles. A interioridade do poeta bendito carece se dar conhecida fora da cidade dos reis, pensei.

O mundo de uppsala, stockholm, alexandria, pirangi, cidade dos reis, parece ser o mesmo, pois, em todas as manhãs de sábado, igual ouvi o ronco da enceradeira e o cheiro vegetal recendendo nas narinas - em décadas. Pedro Nava, quando pisou as pedras desencontradas da praça de Veneza, foi mandado num átimo de volta à casa da avó no Ceará, à cozinha de cimento esburacado, sessenta anos depois...

O brilho da coroa dos reis da cidade não é maior do que doidice de quem encontrei por acaso: Carlo Sarno. Que sujeito! O esbarrão – sim, foi numa esquina, apressados, ao sol das três da tarde, também -, me deu de conhecer o baiano-calabrês, com as mãos plenas de especiarias, quiçá para o preparo de um prato inigualável. Sequer me perguntou o nome, mas logo disse que vinha dos alrededores da cidade aonde fora colher as ervas e, de quebra, dar nome aos bois – lá em cima daquela serra. Contou-me, num silêncio de segredo que, os homens de hoje, o que mais temem, é dar nome aos bois. Fiquei pensando.

Depois me disseram, às suas costas, que também era pescador, pastor (isso já falei, não?), ditador, louco, e que tinha ficado com o braço da guitarra de Jimi Hendrix, naquela tarde de woodstock. Ou foi com a guitarra, em pedaços, de blowup? Parei. Com inveja.

O burburinho na parada de ônibus não é para embarcar ou desembarcar, e sim, para comprar CDs - o mercado mais acessível e menos glamouroso. Mais adiante dei com o point da jovem guarda, a Vox Discos. Aqui uma profusão de cabelos desgrenhados, de alegres túnicas indianas, envoltos numa onda da fragrância inconfundível: patchouli. A bela adolescente, talvez no ‘êxtase inolvidável do primeiro soutien’ ou num desejo repentino de dizer-se (coisa da idade, sim?), larga o bolachão de Led Zeppelin - o vinil, bolacha preta, LP, lembra-se? –, e começa a ler em voz alta ‘The Quietest Moments’.

Crônica, conto, ou os dois – o texto? Quedei-me com o discorrido. Sabe o ideal da redação, apregoado nos cursos de português e de literatura - tão velho e tão atual, acima de qualquer primarismo - da busca incessante pela perfeita harmonia entre o conteúdo e a forma? Pois bem, estava ali, todo. Magistralmente.

Estar aqui agora digitando este e-mail é preciso que se esqueça o que foi ouvido ali. Senão a vontade mesmo é de botar a viola no saco. De jogar a toalha. Dá no mesmo, não?

Chegar à cidade dos reis não é nada difícil. Por terra, por ar, por mar ou por rio – desde que com músculos bastante para afastar os peixes asfixiados pelo descaso. Um caminho entretanto me parece mais fácil: cidadedosreis.blogspot.com

Um grande abraço e proveitosa viagem."


Napoleão de Paiva









5 comentários:

midc disse...

... e ainda amanheço, não em manhãtan, mas com um comentário de moacy cirne avisando q fui tachado - no bom sentido off course - como um "blog porreta". como diz ailton medeiros, "viva eu"...

Anônimo disse...

Parabéns pelo seu Blog-Up! Que aumenta a cada dialético & noitetílica de palavras-presentes para "nosotros": Viva o image'M'ÁRIO! (V)Ivo, por aqui sempre navegando meio ligado por esses Mários...

Moacy Cirne disse...

Parabéns pelo 1º mês de blogue, cara. E o Napoleão não escreveu um emeio: escreveu uma carta, como nos velhos tempos! Abraços para os dois.

Anônimo disse...

parabéns.

pilarvida disse...

sempre a um comeco
sempre a um aniversario
aniversario do blogger
aniversario de tantos anos
aniverario da saudade
aniversario das palavras
aniversario do silencio
muchas felicidades
muchos años de vida