domingo, 23 de setembro de 2007

The Blind Boys of City of Kings


Os três macaquinhos mágicos: cegos, cegos, cegos

cidadedosreis inaugura a manhã de domingo reencenando um texto escrito muitas primaveras atrás, coincidentemente numa manhã de domingo – sim, porque, dizem as folhinhas, é primavera, embora a melodia seja muito distante daquela dos velhos camaradas, Cassiano e Tim Maia.

Daí resgatar do fundo da gaveta um texto, sobre um livro fundamental para se entender esta Província, publicado hoje, abaixo. E um outro, garimpado nas páginas dos jornais da semana passada: um artigo do sociólogo Ângelo Magalhães Silva, que saiu meio escondido na página dois do Jornal de Hoje de 18 de setembro (amanhã, acima).

Foram enfeixados sob um título pomposo, assim, meio ao acaso.

Os garotos cegos possuem várias referências, a começar por uma foto tirada há algumas semanas na Galeria de Arte do Centro de Turismo – a contraluz, os reis magos parecem cegos. Como cegos parecemos todos nós que ousamos criticar o estátus cu da manada que perambula pela Cidade, se fartando nas varandas dos restaurantes pretensamente chiques, amalgamada nas colunas ditas sociais que se multiplicam como peste nos diários, tribunas, correios e, sim, jornais, e terminam por ser seus verdadeiros editoriais.

Aquela grei seria o equivalente da Elite Branca, alcunhada pelo então governador de SP, Cláudio Lembo. Seria, se não fosse esse sol caatingueiro que nos assola e do qual nos valemos para grilar terras em prol do colonizador de sempre. As meninotas de cabelos escovados, para ficar num só exemplo, fogem da praia como o diabo da cruz, em prol de uma pele diáfana que não denuncie o pé na senzala. E do mar, justamente, pela lisura da cabeleira que as redime, irmana e as tornam clones de si mesmas.

Cegos são também uns senhores do Alabama, berço do blues, cantoria de alforriados etc. Justa homenagem nessa geléia geral. Como não conheço toda a discografia, recomendo apenas um: Ben Harper and The Blind Boys of Alabama, There will be a light. 2004, Virgin records.

Cegos, por fim, são os moços-mendigos de Pieter Bruegel, o velho, conduzindo outros cegos, metáfora de nós mesmos, críticos críticos, nessa luta vã, insana, anjos exterminadores, clamantes nos desertos d’alma, tão imbuídos de boas intenções – as quais, como se sabe, superlotam o Inferno e seus afluentes.

Um comentário:

Anônimo disse...

... e o Demolidor! Super-herói de outros sentidos...