segunda-feira, 7 de abril de 2008

Da inutilidade do primeiro dia útil [070408]


[Crepax]


As segundas-feiras são terríveis, já o sabiam Garfield e Bob Geldof. Ainda mais debaixo de chuva. E nós, debaixo do cobertor.

As goteiras se multiplicam nos ouvidos. São como nina-nana, acalanto, dose cavalar de preguiça na veia.

Com o que chamam “rabo-do-olho”, espiamos o tempo lá fora: bruto, bruto, bruto. Um cinza só. Nada de cores vibrantes, alegres, pueris. Nada de tons fashion que fazem a felicidade dos rapazes e moças das semanas da moda. Em Paris, Milano e na Capital do Ryo Grande.
Mas, o tempo não está para frescuras. Melhor: está. E debaixo do lençol fica bem melhor, agarrados ao travesseiro que restamos, os pés encolhidos, as mãos escondidas debaixo do peito, onde um coração pulsante se recusa à posição que nos fez famosos entre os primatas.

Eretos não ficaremos jamais, enquanto o sol não der as caras e afugentar cumulus, nimbus, cirros e stratus e outras palavrinhas difíceis que traduzem o lugar-comum das nuvenzinhas cor de chumbo.

É verdade que o frio provoca outros efeitos nos corpos ditos cavernosos – mas isso é outro papo e o horário é impróprio a menores.

E nem sempre acordamos acompanhados, enfatize-se. Quase sempre a cara-metade, contrariando nossas pulsões e instintos animalescos, já se levantou. Os pivetes (ou o pivete, ou a pirralha – marque a opção que melhor se enquadra à sua prole) têm de ir à escola. Para desasnarem e nos deixarem um pouquinho em paz. Sem escola, nenhum pai agüentaria muito os filhos. Mas este também é outro papo, e impróprio às cabeças bem pensantes e sentimentais, todas água-com-açúcar.

Então, voltemos ao leito, de onde nunca saímos e de onde só sairemos quando o tempo melhorar.

De preferência, na terça.

Um comentário:

Moacy Cirne disse...

Crepax, sempre Crepax: um dos meus primeiros alumbramentos gráfico-seqüenciais, quando aqui cheguei, em 1967. E há, ainda, o seu texto: brilhante, como sempre. Abraços.