quinta-feira, 3 de abril de 2008

O caçador da menina que roubava pipas do livreiro de Cabul [010408]


Parece que foi ontem, e foi ontem mesmo, eu contava a aventura de assistir, no escurinho do cinemão, a transposição para as telas de um best-seller: “O caçador de pipas”. Sala cheia, sentou-se ao meu lado a figura rechonchuda de um Botero tropical. Famélica ou gulosa, tinha lido, era o que parecia, o livro inspirador de cabo a rabo. E logo durante os minutos iniciais atendeu prontamente o celular...

A conversa durou todo o tempo dos títulos de abertura. Assim, fiquei sabendo de toda a sua agenda para a manhã seguinte.

Fiquei calado: eu estava ali não pra ver o filme, mas para uma interessante experiência sociológica, uma descida aos infernos dos ditos gostos populares.

Assim, que por obra e graça da minha vizinha soube exatamente onde o diretor (do filme) tinha deturpado o autor (do livro) – com a vantagem da descrição das cenas como deveriam realmente ter acontecido. Por exemplo, quando o bocó mete a barba postiça e vai em busca do sobrinho no Afeganistão, saibam vocês que assistiram o filme mas não leram o livro, que o automóvel que o conduz está e-r-r-a-d-o: era um jeep, senhor diretor! Lástima.

Resumo da ópera: se você leu o original, não vai gostar de “O caçador de pipas – o filme”. Se você não leu, esqueça.

O mais engraçado é que, filmado na China, a reconstituição de Cabul parece – ao menos para nós que nunca estivemos lá – das mais fidedignas. O filme se esmera, também, na língua falada: boa parte em dari, dialeto da maioria afegã. Ao contrário do cinemão, onde já nos habituamos até com astecas, incas e brasileiros falando inglês.

Mas tem algo errado no filme, que se arrasta como se tivesse paradoxalmente pressa em transpor cada capítulo literário – ou o resumo dele – para as telas, para evitar justamente comentários como os da gordinha ao meu lado.

Os efeitos especiais e sonoros – nas cenas onde as pipas ondeiam e volteiam nos céus “de Cabul” – também incomodam. Não combinam com a reconstrução de rostos supostamente afegãos e prédios idem. É como querer dar um toque “Matrix” a “Lawrence da Arábia”.

Pra comer com pipocão kingão saizão, enfim.

2 comentários:

Simone Toda Poesia disse...

Putz. E agora? Vejo o filme ou não vejo? Ai, Jesus! Dúvida cruel! Ainda tenho essa semana pra decidir... Se eu for, comprarei a pipoca king size...rs... Adorei passar por aqui. Voltarei. Abraços.

midc disse...

volte sim, simone, e traga a pipoca!