sábado, 20 de outubro de 2007

Navarro


Morreu hoje Salete Navarro, viúva do pintor, poeta, cronista, boêmio e homem de mil e uma qualidades Newton Navarro.

Não conseguiu vencer a doença que a atingia, cruelmente, como todas as doenças.

Tampouco conseguiu ver inaugurada a ponte sobre o Potengi, que leva, levará, o nome de NN. Sabe Deus quando. Uma demora inexplicável, da parte dos responsáveis por sua construção. Uma indiferença generalizada e apática da tribo nativa que se espreme às suas margens, droit, gauche.

Não se pode dizer que morreu abandonada, como quase morreria Newton, se não fosse a intervenção, à época, do amigo Taciano Arruda, que pediu a intervenção do primo, Cassiano Arruda, que por sua vez falou com o governador de então, José Agripino, que providenciou a transferência de NN do Walfredo Gurgel para a Casa de Saúde São Lucas, num jogo de dominó surreal que findaria na sua morte, pois, em 91.

Em 10 de agosto de 1956, o próprio Navarro publicaria uma crônica lamentando o descaso da Cidade dos Reis com Othoniel Menezes. Começava assim: “Vergonhosa situação a nossa deante daquele homem calado e doente, sentado num canto de sala, preso da doença e da injustiça dos homens.”

Publicarei a crônica, na íntegra, segunda. Aliás, achada num livro de recortes que pertenceu a Protásio Melo e estava largado num vuco-vuco da 15, poucos dias depois de sua morte.

Dona Salete Navarro era a última guardiã da obra de Newton. Vivia amargurada diante do descaso dos conterrâneos com o legado enorme deixado pelo poeta. Eu bem que tentei, uma edição selecionada das crônicas navarrianas. Custaria infinitamente menos que qualquer prego, parafuso, canapé servido quando do futuro e mais que provável coquetel de inauguração. Fui incapaz. Também Diógenes da Cunha Lima pelejou junto a uma das construtoras da ponte para que se criasse um memorial em homenagem a Newton. Nada.

A muito custo deram-lhe o nome – que briga, desde antes do primeiro automóvel cruzá-la – com outros batismos: Ponte de Todos, Ponte Forte-Redinha.

Dona Salete Navarro. Estive semana passada no hospital. Sofria. Agora, me vem em mente uma idéia terrível. Se o sofrimento, além do físico, não teria sido atenuado: quem sabe se a convidariam para a inauguração? Ou, se restaria sentada, num canto de sala, onde esperam os poetas, suas viúvas, a hora final, antes da última pá de cal do esquecimento?

2 comentários:

tete bezerra disse...

Lembro-me dela há muitos anos atrás no bar de Nazi,quando este era vivo numa dessas comemorações póstumas a NN.

Moacy Cirne disse...

Newton Navarro - maior do que a ponte em questão - merece ser lembrado por todos nós. De resto, lamento pela morte de D. Salete.