terça-feira, 10 de junho de 2008

UM DISCO: Watch, Manfred Mann’s Earth Band. 1978, Bronze Records Ltd.



Primeiro, a capa, claro.

A imagem do homem de paletó amarelo decolando numa pista de aeroporto contra um céu nublado é, para dizer o mínimo, inesquecível.

Depois, o conteúdo. O que se ouve.

Sete músicas, quatro pro lado A, três pro lado B, e um buraco no meio – ouvir Watch faz mais sentido em vinil.

É óbvio que o hit tá lá – Davy’s On The Road Again, primeira faixa do lado B – mas o todo é bem homogêneo e vale aquela expressão de matemática banal, “maior que a soma das partes”; todas as faixas têm um quê de classicismo, como se fizessem parte de um best of de B-sides e não de um LP da discografia oficial (gravado em 77 e lançado no ano seguinte, Watch é o antepenúltimo da Earth Band).

O lado A é mais prog. O B mais rock. Ambos têm o mérito de soar fácil, como uma banda um pouquinho mais pretensiosa ensaiando no quarto dos pais. O vocal de Chris Hamlet Thompson impera, ao lado dos synths do próprio Manfred e das guitarras de Dave Flett.

Se existe um equivalente sonoro para a expressão déja vu é este – coincidentemente intitulado – Watch. Se no disco anterior – opção preferencial dos fãs mais empedernidos – o sul-africano Mann e sua banda proclamavam o Roaring Silence, o som e a fúria, a partir da capa de uma orelha munida de boca e dentes, em Watch eles parecem pedir para seu público que, sit down, relax, apenas assistam. E se deixem levar. Decolar, alçar vôo.

A verdade é que basta escutar uma primeira vez para ter a sensação de sempre ter ouvido essas melodias, os riffs, os solos. Não é amor, é simpatia à primeira audição.

Os fãs do Marillion de início de carreira vão ser obrigados a reconhecer que Fish e companhia beberam da fonte de Watch, que, como original, é muito mais cru (confira Circles, Martha’s Madman).

Os efeitos na voz de Chris Tompson por sua vez bebem na fonte do soul com destilados psicodélicos como aperitivo.

A banda da terra de Manfred nos leva de Chicago pra Califórnia num piscar de olhos, ou num deslizar da agulha. O baixo de Pat King dá fisgadas, a bateria de Chris Slade – básica, eficiente – faz o dever de casa direitinho, a guitarra de Flett abocanha a isca jogada pelos keyboards do Sr. Manfredo. Tudo é costurado com precisão hipnótica, e a haute coture atinge seu máximo em Chicago Institute, tão simplezinha, tão pegajosa nos ouvidos que dá gosto de ouvir e reouvir e ouvir de novo. Déjà vu. Déja ecute. Mas nem precisa. California, a faixa seguinte é sua extensão – natural, original e diferente.

Um disco que nos faz recordar a época em que vivíamos na Califórnia – com menos flores no cabelo e menos sol na cara – mesmo sem nunca ter estado lá.

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