II
III
IV
V
VI
VII
VIII
IX
X
Dia internacional de combate ao fumo.
Os jornais estão cheios de publicidade contra.
Exagero meu.
Eu é que estou cheio de jornais e de jornais contendo publicidade contra o fumo.
Na verdade, acho que não passam de três anúncios.
Todos de planos de saúde, que, claro, querem economizar no tratamento futuro dos cancerosos.
Um diz (afirma, acredita, jura de pés juntos) que o cigarro é “uma arma de fogo tão potente que até a sua fumaça mata”.
Eu procurei entre os dedos do rapaz da foto a chave de um automóvel qualquer, mas, não; a arma que o senhor redator pensou era outra: entre os dedos, o polegar emulando o gatilho de um colt, tava lá um cigarro, tão branquinho, apenas aceso, que logo me veio vontade de fumar.
Outro anúncio – esse de página inteira – pergunta: “Você tá queimando o quê?”
Êpa! Que indiscrição é essa, me’irmão?
Veio-me logo em mente a página dos poetas elétricos (26.08):
“O baseado dá de cara com o espelho em brasa que lhe diz:
- SORRIA! VOCÊ ESTÁ SENDO FUMADO!”
[Carito, “O papel de cada um”]
Veio-me logo em mente Cascudo fumando um charutão.
E Orson Welles.
E Sylvia Kristel em Emmanuelle.
E Serge Gainsbourg fumando Gitanes, e seus fãs depositando em frente de sua casa em Paris milhares de maços azuis. E os vizinhos, todos bons burgueses, torcendo o nariz.
E Italo Svevo e a consciência de Zeno: "Já que me faz mal, nunca mais hei de fumar, mas antes disso quero fazê-lo pela última vez."
E Clarice Lispector incendiando-se.
E o tratado de Cabrera Infante, Fumaça pura, dedicado ao pai, "que aos 84 anos ainda não fuma".
E "o fumador de cigarros por profissão adequada", Fernando Pessoa, dividido entre a lealdade que prestava "À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que quase tudo é sonho, como coisa real por dentro."
E a capa de Catch a fire, Marley.
2- BANG-BANG, PAUL WELLER
3- SOMEDAYS, NENEH CHERRY
4- HOUSE OF THE RISING SUN, NINA SIMONE
5- (SITTIN’ ON) THE DOCK OF THE BAY, OTIS REDDING
6- DIARABY, ALI FARKA TOURE E RY COODER
7- PISSING IN A RIVER, PATTI SMITH GROUP
8- 7 SECONDS, YOUSSOU N’DOUR E NENEH CHERRY
9- GUAJIRA, SANTANA
10- PALAVRAS, PALAVRAS
, MAYSA
CELSO MARCONI: "... saímos os quatro, do cine São Luiz, e caminhamos, em silêncio, acompanhando a margem do Capibaribe. Alguém jogou uma pedrinha na água, formaram-se aqueles círculos oleosos, e Marcius Frederico começou a gritar, gritar... Ao improviso, tentou o salto para a morte."
JOMARD MUNIZ DE BRITO: "... saímos os quatro, do cine São Luiz, e caminhamos, em silêncio, acompanhando a margem do Capibaribe. Foi aí que Moacy Cirne começou a correr desembestado em direção ao rio. Era claro que seus intuitos eram suicidas: com muito custo conseguimos agarrá-lo."
MARCIUS FREDERICO: "... saímos os quatro, do cine São Luiz, e caminhamos, em silêncio, acompanhando a margem do Capibaribe. Foi na noite em que Jomard desafiou a morte com gestos tresloucados."
MOACY CIRNE: "... saímos os quatro, do cine São Luiz, e caminhamos, em silêncio, acompanhando a margem do Capibaribe. Nas imagens dos meus alumbramentos me recordo apenas de Celso Marconi sussurrando ao pé do ouvido das águas encarnadas: 'Quero morrer, quero morrer...'”
[Livremente inspirado em Moacy Cirne, Cinema, cinema – os filmes dos meus sonhos. Natal: Sebo Vermelho, 2003]
[meras coincidências não existem]
O santo guerreiro, em detalhe de quadro de Flávio Freitas. Não, ao menos aqui não existe dragão da maldade.
Cansei
Se Bergman está colocado à esquerda e Antonioni à direita, quem, na sua prateleira, seria o todo poderoso do cinema? Cartas eletrônicas para a redação virtual de cidadedosreis. (A presença dos diretores e filmes na foto não quer, absolutamente, induzir os leitores a nada – foram apenas escolhidos rapidamente para um retrato na parede deste sítio.)
São políticas públicas que direcionam as cidades para um
destino ou outro. [2007]A classe dominante indigna abandona a cidade e foge
para algum lugar onde não haja esse plano democrático. [2001]Essa sociedade
amarga abandonou o centro da cidade e se enfiou no mato. [Folha, 2007]Você
abandona uma cidade e funda outra, como Alphaville, porque teme a liberdade.
[2007]O abandono da cidade, a idiotização da idéia do verde, promovida pela
propaganda e financiada pela especulação imobiliária – para ela é mais fácil
abrir mato virgem e construir esses monstrengos de habitação –, deve ser
combatido veementemente. [2001]Se você deixar degenerar, você reduz o valor
imobiliário, compra tudo de novo, reconstrói a cidade... Há quem viva só disso.
[Folha, 2007]A idéia de escolher o lugar para morar é maligna. Está
submetida a essa especulação mercantilista de vender para você um lugar ideal
para morar. Vão vender uma casa de campo, uma casa na praia, aí lotear a praia e
poluir a baía. [2001]Os anúncios de jornais de domingo são um descalabro de
floresta de eucalipto abatida para fazer papel para imprimir asneira. [2007]É evidente que a propaganda serve ao mal. [2001]
É tão estúpido cortar
uma árvore como fatiar a pedra azul de uma montanha de granito! [2001]Precisamos cuidar das cidades. Falamos de água, ar, mas o que pode acabar
antes somos nós mesmos. [2007]A classe dominante, no Brasil, é a mais
pobre. [2007]É lastimável você fundar e comprar um grande arrabalde e
chamar de cidade universitária. Como foi feita, nunca se pensou no transporte
público. Todo estudante tem um carro. A escola é pública, mas só dá milionário
ali. [Folha, 2007]Vendi meu Chevette! Não tenho mais carro [...] Uma
bobagem você se enfiar dentro de um automóvel e ainda [...] pagar seguro. Como
posso comprar uma coisa da qual tenho que pagar seguro? Quer dizer que ela é
insegura? [2001]Queimar petróleo para transportar uma pessoa de 60 quilos
numa lataria de 700 quilos, que não anda [devido aos congestionamentos], é um
erro grave. [2007]Prefiro levar um tiro que andar num carro blindado. [...]
Quando você entrar em casa, a casa é blindada, seu filho é blindado, sua mulher
é blindada, que besteira é essa? [2001]Se você é medroso e acha que não há
para todos e precisa defender aquilo só para você, você é um fascista. [...] O
medroso é a matéria-prima do fascismo. [2001]O ideal do homem inteligente
contemporâneo está se esboçando com clareza: é não possuir nada. [2001]A
idéia de cliente em arquitetura é idiota – o cliente na arquitetura é o gênero
humano. [2001]A casa, enquanto coisa, é da cidade, não é de fulano ou
beltrano. [...] O resultado do nosso trabalho [como arquitetos] é eminentemente
público. [2007]A arquitetura como fato isolado, prédio por prédio, pode ser
um excelente instrumento de destruição da cidade. [2001]A tevê é tão
horrível que todo mundo gosta de dizer que não vê. [2001]Religião não serve
pra nada, devia ser ultrapassada. [2001]Ricos ou pobres, parece que está um
querendo matar o outro. [2007]Sempre que o dinheiro aparece em abundância,
deve ser evitado. É como a saúde: muita saúde faz mal, as pessoas que ficam
correndo, comendo só vegetais, correm o risco de não morrer nunca, terão que ser
abatidas a tiros [risos]. [2001]Pode-se dizer para uma criança que ela não
deve fumar, mas se você fumar ninguém deve te impedir. [2001]
Walflan de Queiroz retratado por Newton Navarro