sábado, 11 de agosto de 2007

Nordeste estrangeiro: um mascate finório, seu Xenarco

máscara grega, 2005



Mundo menino que ficou na distância, perdido na bruma. Rio espumante, estremecendo, margens cobertas, só a copa das árvores grandes aparecendo. Tálassa! Ah, por que seu Xenarco não voltou mais?


- Eu tanho, gente, brim, chitom, tricoline, alpaca, seda fina, tudo, tudo do bom e do melhor. A tesoura do gringo não cessava e só se ouvia o rraaa do brim cáqui e da mescla “marca olho”.


- Corte aqui, seu Xená, treis metro dessa arpaca. Sssiii, – rraaaa, ssui, rraaa. E os parcos mil réis amarfanhados durante meses desapareciam nas mãos ávidas do mascate finório.


- Vai, Luca, buscá os burros de seu Xená. Por que seu Xenarco, um dia, não trouxe mais alpaca e seda fina no lombo daqueles burrinhos roliços e ensinados? Dele só o grito (polifêmico) diante do rio cheio tamanho do mar abstrato. Mas seu Xenarco tinha vindo do Mar verdadeiro, do outro lado do mundo. E de lá vinham as nuvens e os ventos velozes que as açoitam pelos desvãos do céu. Tudo o que vem do mar volta para o mar.





Eulício Farias de Lacerda (Piancó, 20 de julho de 1925 – Natal, 11 de agosto de 1996), O rio da noite verde, Natal: A.S. Editores, 2003

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