sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Os Dez Mandamentos de Juvenal Antunes


I
Nunca te cases, nem mesmo com uma agonizante rica.
II
Não furtes pouco, que é muito feio.
III
Adora tuas produções artísticas, embora não valham nada.
IV
Foge das crianças, masculinas ou femininas. Elas em geral são crisálidas de borboletas venenosas. O mundo sempre contou com mais bandidos que homens de bem. E esses bandidos foram maternalmente acalentados no berço! Imagina a mãe de Napoleão, Alexandre, César Bórgia, Nero, Messalina, Lampião, Antônio Silvino, Juvenal Antunes, Vicente Inácio Pereira, Judas, Padre Cícero, Getúlio Vargas e tantos outros, cantarolando para adormecer esses monstros, alimentando-os com o leite das próprias tetas!
V
Ama os vícios. Só têm o defeito de custar dinheiro. Quando este é muito, aqueles ficam doirados.
VI
Não mates nunca, não por amor à espécie humana, medo do inferno ou respeito às leis, mas porque isso é inútil. Matas um malvado, nascem dois.
VII
Sê bacharel, vagabundo, médico, parteiro, negociante ou coisa pior. Mas, não sejas tolo.
VIII
Ama o dinheiro. Faze como o imperador Vespasiano, que achava cheirosas as moedas recebidas do imposto das sentinas.
IX
Não queiras saber da mulher do próximo nem do distante. Não vale a pena. Deixa que os outros as degradem. Aproveitarás depois, calmamente, sem perigos, o fruto do crime alheio.
X
Só trabalhes quando te pagarem. De graça não faças nem uma graça.

Juvenal Antunes de Oliveira foi o único poeta potiguar a chegar na tela da Globo.

(Depois de morto e de Marina Elali, é certo, mas, enfim.)

Nasceu em Ceará-Mirim, 29 de abril de 1883, no engenho Oiteiro, eternizado no livro de memórias de sua irmã, Madalena Antunes.

Formou-se em Direito, no Recife, e veio morar em Açu e Natal.

O irmão mais velho, oficial do glorioso exército nacional, não gostou da vida boêmia de Juvenal na Província e carregou o coitado para Belém, de onde logo o poeta partiu para o Acre.

Nunca casou. Viajando para o Rio Grande do Norte, morreu em Manaus, a 30 de abril de 1941, um dia antes do 1º de maio, Dia do Trabaho.

Logo ele, autor de O elogio da preguiça.

Seu decálogo são conselhos a um sobrinho, de partida para o Rio de Janeiro, a quem ainda alertava: “é preciso algum talento e muita coragem para praticar este programa.”

As informações sobre a sua vida e obra dificilmente chegariam aos dias de hoje sem a dedicação constante de sua irmã, e de Esmeraldo Siqueira, que reuniu cartas e textos inéditos do poeta num livrinho fundamental – Um boêmio inolvidável (Rio de Janeiro: Pongetti, 1968).

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