quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Paulo Mendes da Rocha remixado

Citei o nome do arquiteto e urbanista ontem. Botei até uns línques – mas a moçada tá esperta: a CartaCapital faz como as moças da Trip, não mostra tudo, só para os assinantes; a Folha é ainda mais radical, não mostra nada; e a Trip, mostra um bocado de coisas (inclusive as moças que não mostram tudo), mas – e não sei se é só em edições muito “velhas” – publica apenas a descrição do conteúdo.

Daí que entrei no sítio dos Frias, e cascavilhei na minha hemeroteca privada. Deu pra juntar um cesto de cajus. Chupem-os, de modo decente, claro, e façam uma vaquinha pro PMR passear de camelo nas dunas. Não precisa nem fazer nenhuma obra, quem sabe uma palestra pros nativos e colonos, e lançar seu novo livro. Se a vaquinha não der, falem com El síndico de Ciudad de los Reyes pra inteirar a passagem. Ou com a Associação de Decoradores da Província.





São políticas públicas que direcionam as cidades para um
destino ou outro. [2007]

A classe dominante indigna abandona a cidade e foge
para algum lugar onde não haja esse plano democrático. [2001]

Essa sociedade
amarga abandonou o centro da cidade e se enfiou no mato.
[Folha, 2007]

Você
abandona uma cidade e funda outra, como Alphaville, porque teme a liberdade.
[2007]

O abandono da cidade, a idiotização da idéia do verde, promovida pela
propaganda e financiada pela especulação imobiliária – para ela é mais fácil
abrir mato virgem e construir esses monstrengos de habitação –, deve ser
combatido veementemente. [2001]

Se você deixar degenerar, você reduz o valor
imobiliário, compra tudo de novo, reconstrói a cidade... Há quem viva só disso.
[Folha, 2007]

A idéia de escolher o lugar para morar é maligna. Está
submetida a essa especulação mercantilista de vender para você um lugar ideal
para morar. Vão vender uma casa de campo, uma casa na praia, aí lotear a praia e
poluir a baía.
[2001]

Os anúncios de jornais de domingo são um descalabro de
floresta de eucalipto abatida para fazer papel para imprimir asneira. [2007]

É evidente que a propaganda serve ao mal. [2001]

É tão estúpido cortar
uma árvore como fatiar a pedra azul de uma montanha de granito! [2001]

Precisamos cuidar das cidades. Falamos de água, ar, mas o que pode acabar
antes somos nós mesmos.
[2007]

A classe dominante, no Brasil, é a mais
pobre. [2007]

É lastimável você fundar e comprar um grande arrabalde e
chamar de cidade universitária. Como foi feita, nunca se pensou no transporte
público. Todo estudante tem um carro. A escola é pública, mas só dá milionário
ali. [Folha, 2007]

Vendi meu Chevette! Não tenho mais carro [...] Uma
bobagem você se enfiar dentro de um automóvel e ainda [...] pagar seguro. Como
posso comprar uma coisa da qual tenho que pagar seguro? Quer dizer que ela é
insegura? [2001]

Queimar petróleo para transportar uma pessoa de 60 quilos
numa lataria de 700 quilos, que não anda [devido aos congestionamentos], é um
erro grave.
[2007]

Prefiro levar um tiro que andar num carro blindado. [...]
Quando você entrar em casa, a casa é blindada, seu filho é blindado, sua mulher
é blindada, que besteira é essa?
[2001]

Se você é medroso e acha que não há
para todos e precisa defender aquilo só para você, você é um fascista. [...] O
medroso é a matéria-prima do fascismo. [2001]

O ideal do homem inteligente
contemporâneo está se esboçando com clareza: é não possuir nada. [2001]

A
idéia de cliente em arquitetura é idiota – o cliente na arquitetura é o gênero
humano. [2001]

A casa, enquanto coisa, é da cidade, não é de fulano ou
beltrano. [...] O resultado do nosso trabalho [como arquitetos] é eminentemente
público.
[2007]

A arquitetura como fato isolado, prédio por prédio, pode ser
um excelente instrumento de destruição da cidade. [2001]

A tevê é tão
horrível que todo mundo gosta de dizer que não vê.
[2001]

Religião não serve
pra nada, devia ser ultrapassada.
[2001]

Ricos ou pobres, parece que está um
querendo matar o outro. [2007]

Sempre que o dinheiro aparece em abundância,
deve ser evitado. É como a saúde: muita saúde faz mal, as pessoas que ficam
correndo, comendo só vegetais, correm o risco de não morrer nunca, terão que ser
abatidas a tiros [risos].
[2001]

Pode-se dizer para uma criança que ela não
deve fumar, mas se você fumar ninguém deve te impedir. [2001]


Paulo Mendes da Rocha, “Mestre de obras”, Revista Trip, no 94, outubro de 2001
Paulo Mendes da Rocha, “Uma cidade degenerada”, Revista CartaCapital, no 457, agosto de 2007
Paulo Mendes da Rocha, “O arquiteto em essência é um contrariado”, Folha de São Paulo, 13 de agosto de 2007


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