terça-feira, 7 de agosto de 2007

Bergman, Antonioni e orégano




Ontem completou o sétimo dia da morte dos dois cineastas. Uma semana atrás eu escrevia no sanatório da imprensa os indefectíveis elogios fúnebres.

Não tem muito mais a acrescentar, apenas lamentar.

Mas descobri na net uma historinha interessante, sobre o diretor de Ferrara. Foi contada pela jornalista Silvana Sivestri:


Michelangelo Antonioni voltava das filmagens de Zabriskie point, acompanhado da assistente de direção e roteirista Clare Peploe e sua irmã.

Nos EUA tinham mantido vários encontros com ativistas políticos, estudantes revolucionários, e membros dos Panteras Negras.

O ano era 1970, o auge do movimento contra a guerra do Vietnam.

A alfândega detém Peploe, acusada de não declarar uma câmera fotográfica. Antonioni, que já tinha passado pelo controle, volta, quer saber o porquê da demora. Traz na mão um casaco. E, nos bolsos do casaco, maconha.

“Não que Michelangelo fumasse, era apenas um presente de despedida simpático”, recorda Peploe em entrevista ao jornal italiano Il Manifesto, na semana passada.

Os policiais perguntam o que é aquilo. Antonioni responde, monossilábico:

- Orégano.

A perquisição se faz mais atenta: encontram haxixe na bolsa de Clare.

“Me prenderam, prenderam Michelangelo e queriam prender também minha irmã, só porque trazia uma revista The New York Review of Sex, paródia da prestigiosa The New York Review of Books”, continua a cineasta.

Naquela noite Clare Peploe, inglesa, volta pra casa, mas Antonioni é obrigado a dormir na cadeia já que não tinha uma residência fixa em Londres.

No dia seguinte a Embaixada Americana liga, comunicando o cancelamento do visto dos dois.

O fumo era só uma desculpa: “Foi na mesma época da perseguição de John Lennon, nos EUA, por velhas histórias com fumo na Inglaterra, como mostra o filme The U.S. versus John Lennon: usaram aqueles precedentes para ameaçá-lo e impedi-lo de organizar o mega-concerto contra a convenção republicana”.

Antonioni estava na lista negra americana, de onde só sairia anos depois.

Em tempo de receber um Oscar honorário pela carreira, em 95, entregue por Jack Nicholson.


3 comentários:

Anônimo disse...

Lembro que vi ZP no Cine Rio Grande... Você viu comigo aquela sessão? Pink Floyd explodindo tudo, contra-cultura em nossos corações... Belo texto, cheio de dores e basta'dores... Ah! Por falar em backs, escrevi um texto feed-back desse meio baseado por aqui lá no blog poelétrico...

midc disse...

apesar de nunca ter abusado do orégano, a memória é falha: última vez q vi zp foi numa cópia restaurada, fora de natal... é possível, sim, q tenha visto no rio grande, onde me lembro (sem orégano) ter visto the last waltz, com a the band de dylan (q anos depois "descobriria" ser de scorsese...)

Anônimo disse...

Eu adoro oregano e vi esse filme chapadao.