Por favor, Manuela, quando perguntarem por mim,
diga que eu estou morando em Uppsala,
sou acendedor de velas na catedral gótica
e que meu novo nome é Erik.
Se o telefone insistir,
não tenha dúvidas, explique
que a minha mais recente invenção
foi feita no Zâmbia e que estou satisfeito
porque as moças românticas dos tongas
recitam nas praças meus poemas
quase sem sotaque.
Diga-lhes que toda busca é inútil
como uma paisagem sem cor,
e que esquecer é uma bela
apresentação do silêncio,
suas vestes e nossa morada última.
Manuela, você perdeu meu endereço
entre os recortes do jornal de ontem
convenientemente incinerados.
Talvez, eu já me chame Petrovi’c
e ganhe dólares ambiciosamente verdes
em Dublovinik, ou seja renascido
Zurbarán fazendo das aspas de touro
curvos trabalhos ornamentais
em lugar da Estremadura
certamente, Manuela, eu não nasci para ficar aqui,
Mas para ser mudança
até a derradeira mineralização,
avise, Manuela, que eu mesmo me busquei
muitas vezes nos cristais da manhã, nos espelhos baços,
na memória consangüínea,
e continuarei buscando.
Quase, certa vez, me descobri,
sob o pseudônimo aspirado de Hatzel,
o que usava cimitarras pra comer.
Hatzel, Hatzel , claro!,
ou Manuela! Manuela, bata
o meu requerimento de ausência.
Diógenes da Cunha Lima (Nova Cruz, 1937). Requerimento de ausência, in Memória das águas. Rio de Janeiro: Lidador, 2005
diga que eu estou morando em Uppsala,
sou acendedor de velas na catedral gótica
e que meu novo nome é Erik.
Se o telefone insistir,
não tenha dúvidas, explique
que a minha mais recente invenção
foi feita no Zâmbia e que estou satisfeito
porque as moças românticas dos tongas
recitam nas praças meus poemas
quase sem sotaque.
Diga-lhes que toda busca é inútil
como uma paisagem sem cor,
e que esquecer é uma bela
apresentação do silêncio,
suas vestes e nossa morada última.
Manuela, você perdeu meu endereço
entre os recortes do jornal de ontem
convenientemente incinerados.
Talvez, eu já me chame Petrovi’c
e ganhe dólares ambiciosamente verdes
em Dublovinik, ou seja renascido
Zurbarán fazendo das aspas de touro
curvos trabalhos ornamentais
em lugar da Estremadura
certamente, Manuela, eu não nasci para ficar aqui,
Mas para ser mudança
até a derradeira mineralização,
avise, Manuela, que eu mesmo me busquei
muitas vezes nos cristais da manhã, nos espelhos baços,
na memória consangüínea,
e continuarei buscando.
Quase, certa vez, me descobri,
sob o pseudônimo aspirado de Hatzel,
o que usava cimitarras pra comer.
Hatzel, Hatzel , claro!,
ou Manuela! Manuela, bata
o meu requerimento de ausência.
Diógenes da Cunha Lima (Nova Cruz, 1937). Requerimento de ausência, in Memória das águas. Rio de Janeiro: Lidador, 2005
[“Você com Diógenes não está sozinho. (...) Você nunca está sozinho. Diógenes é um grupo”
Luís da Câmara Cascudo]
Um comentário:
Diógenes é um dos poetas do nosso Rio Grande. Parabéns por divulgá-lo. Abraços. E grato por uma observação sua, em comentário anterior. O número da Revista Vozes, por você mencionado, hoje é uma raridade.
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