domingo, 12 de agosto de 2007

Meu pai


Meu pai.

No portão da casa em construção.

Os óculos de armação grossa, os músculos do braço tensionados, contraídos, fortes o bastante para me levantar os olhos sobre o mundo.

Meu pai.

No fundo da sala, as pernas cruzadas, um cigarro de filtro branco entre os dedos, levando aos lábios finos uma espiral de fumaça sutil, quase invisível, no fundo da sala.

Meu pai.

A roupa branca de dentista, os sapatos brancos, o cinto branco.

Meu pai.

Descendo a Ribeira num fusquinha azul, levando os filhos para comprar carne no açougue.

Meu pai.

Domingos de sol em Pirangi.

Meu pai.

Na cabeceira da mesa, a camisa aberta arrumada nas costas da cadeira, a conversa franca.

Meu pai.

Pai de meus irmãos, avô de minhas filhas.

Meu pai.

Quem eu quis ser quando crescesse, quem eu não quis ser quando cresci.

Meu pai.

Com quem eu vou parecer quando morrer.

Um comentário:

Anônimo disse...

Domingos de sol de pirangi... quanta luz, meu irmão, quanta luz... explosão... sol, luz, domingos de luz branca todos os dias da semana na roupa de dentista, clara, amor claro, preenchendo tudo...