quinta-feira, 23 de agosto de 2007

um manoel, uma encomenda e o infinito



[...]
XXI

Ocupo muito de mim com o meu desconhecer.
Sou um sujeito letrado em dicionários.
Não tenho quase 100 palavras.
Pelo menos uma vez por dia me vou no Morais.
ou no Viterbo –
A fim de consertar minha ignorãça,
mas só acrescenta.
Despesas para a minha erudição tiro nos almanaques:
- Ser ou não ser, eis a questão.
Ou na porta dos cemitérios:
- Lembra que és pó e que ao pó tu voltarás.
Ou no verso das folhinhas:
- Conhece-te a ti mesmo.
Ou na boca do povinho:
- Coisa que não acaba no mundo é gente besta
e pau seco.
Etc
Etc
Etc

Maior que o infinito é a encomenda.


Manoel de Barros, “Uma didática da invenção”. Os cem melhores poemas brasileiros do século. Organização Italo Moriconi. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001

Um comentário:

Anônimo disse...

Posso dizer que Manoel de Barros foi/é uma das grandes alegrias/descobertas da minha vida... Quanto mais leio, mais me encontro... Que bom que ele também está aqui, refazendo tudo...