segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Uma ferida não cicatrizada


Sábado, apenas soube da vitória de Deserto feliz e do seu diretor, o pernambucano Paulo Caldas, em Gramado, e-meei Augusto Lula – quem, sinceramente, é difícil descrever.

Diretor de cinema? Diretor de vídeo? Poeta visual? Visionário e sonhador de um “Rio Grande sem Sorte” (como gosta de repetir, citando Bosco Lopes) com um tiquinho mais de “sorte”, espécie na produção de um cinema que espelhe nossas contradições?

Todas as descrições poderiam ser corretas.

O que é certo é que vejo em Augusto – apesar de alguns entreveros que já tivemos – alguém verdadeiramente capacitado para realizar um filme “de verdade” na Província dos Reis, seja pela sua visão de mundo, de cinema, de cultura local, seja pela sua grande experiência no vídeo comercial, seu ganha-pão diário.

As perguntas foram apenas duas: qual o significado de um estado nordestino, fora do eixo Sul Maravilha, vencer em Gramado; e, quando a sigla RN embarcará para o RS, com uma película própria na bagagem.

Augusto Lula:

“São perguntas difíceis. Primeiro, os festivais estão em decadência – no Brasil são mais de 200. Gramado envelheceu e agora tenta premiar produções mais autorais – e que, todos sabem, não terão grande público – para tentar ser o que nunca foi: cult.

“O dia que o Rio Grande sem Sorte pintar em Gramado terá sido tarde demais, ‘como se chegasse atrasado andasse mais adiante’ (Leminski).

"Os vídeos que a gente fazia naquele tempo, fim dos 80, começo dos 90, hoje ninguém conhece. Hoje, os Cineastas de Natal nem conhecem a palavra videomaker.

“Sobre fazer Cinema ‘de Verdade’, penso que o RNsS não alcançou as condições econômico-culturais para realizar uma arte que é conseqüência direta da revolução industrial. A impossibilidade de realizar de maneira mais banal uma arte do século retrasado é a ferida não cicatrizada da nossa geração.”

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, colega! Sou o supracitado Marcello Brum, o Filho-do-Carcereiro-do-Caetano. Graças à minha namorada, maluca/ciumenta, que fica procurando referências ao meu nome no Google, soube do blog do amigo. Ela me contou por telefone e eu já imaginava mesmo que fosse muito bom. Atendo no e-mail llmarcello@globo.com, caso seja do seu interesse... Sucesso! Abraços.
MARCELLO BRUM
P.s.: Para não deixar de comentar, deixo a sugestão de se pensar a obra de arte como expressão individual (ou coletiva, claro), independentemente do número de pessoas atingidas. Tema para debate! Abs.

Anônimo disse...

Não sei se é porque vejo filme em tudo... mas aquela nossa tertúlia noturna com Augusto Lula no Veleiros com Mr. Cabeça Errante Vlamir Cruz bem que poderia dar um video and roll... E/ou talvez outro sobre esse assunto do post... Já se faz luz para um roteiro... "Uma ferida não cicatrizada"... mixto-quente (até pra servir frio depois, melhor ainda) de documentário com fricção aqui no Kurosawa do mundo poptiguar!!!